27/09/2015 - 18:32
Os partidos separatistas teriam conquistado a maioria das cadeiras no Parlamento regional da Catalunha nas eleições deste domingo, alcançando assim o objetivo de iniciar uma secessão da Espanha, segundo os resultados parciais, após a apuração de 88% dos votos.
Artur Mas reivindicou a vitória dos separatistas, considerando as eleições regionais um “plebiscito” pela separação do território do restante da Espanha.
“Ganhamos”, declarou Mas, ao comemorar a maioria de cadeiras obtidas no Parlamento regional pelos partidos separatistas, segundo os resultados parciais com base na apuração de 88% dos votos.
“Exatamente como nós, democratas, teríamos aceitado a derrota, agora pedimos (…) que os outros aceitem a vitória da Catalunha e a vitória do sim”, declarou diante de cerca de dois mil simpatizantes, reunidos exibindo bandeiras separatistas em uma praça do bairro gótico de Barcelona.
Com uma taxa de participação histórica de 77%, a coalizão Junts pel Sí, integrada pelo partido liberal de Mas (CDC), a progressista ERC e associações civis, teria obtido 62 das 135 cadeiras da câmara regional, segundo os resultados parciais.
Juntamente com outro partido separatista, a esquerda anticapitalista CUP, que teve 10 cadeiras, somariam 72 assentos, superando os 68 deputados correspondentes à maioria absoluta que tinham estabelecido para iniciar um processo de secessão.
“Temos um mandato democrático (…) e isto nos dá uma legitimidade enorme para seguir adiante com este projeto”, disse Mas.
“Temos uma maioria mais que suficiente para levar adiante este projeto”, concordou o aliado e líder do ERC, Oriol Junqueras.
Impedido de fazer um referendo de autodeterminação que muitos catalães pediam desde 2012, Mas convocou eleições regionais antecipadas e as dotou de um caráter plebiscitário, centrando-as na independência.
A “Junts pel si” é integrada pelo partido CDC, do presidente regional Artur Mas, pela esquerda separatista ERC, associações e personalidades da região.
A coalizão se comprometeu a iniciar um processo de secessão do restante da Espanha, que deveria terminar em 2017 com a proclamação da República Catalã independente, caso os separatistas obtenham maioria parlamentar.
Diante dos primeiros resultados de boca de urna, que já lhes davam a vitória, os separatistas reagiram aos gritos de “independência” e aplausos na praça onde se concentraram para acompanhar a apuração, entoando o hino desta região nordeste da Espanha, com 7,5 milhões de habitantes.
“A sensação que temos pelos dados disponíveis aponta para que esta maioria soberanista clara e nítida a favor da independência da Catalunha é um fato”, disse um dos diretores de campanha da Junts pel Sí (JxS).
“Conseguimos fazer um plebiscito que não nos deixaram fazer e isto se deve à grande participação”, comemorou, em alusão à oposição do governo espanhol de Mariano Rajoy de permitir um referendo de autodeterminação.
Os eleitores votaram em massa e às 18H00 locais (13H00 de Brasília) – duas horas antes do fechamento das seções – a participação chegava a 63%, sete pontos a mais do que nas últimas eleições, em 2012.
A eleição deste domingo era considerada “histórica”, pois pode levar ao poder uma coalizão pró-separatista decidida a conduzir essa rica região da Espanha à independência em menos de dois anos.
Um ano após a Escócia, a Catalunha, com 7,5 milhões de habitantes, deve escolher seus deputados e dizer se estes devem iniciar o processo de divórcio com a Espanha.
Seus habitantes estão muito divididos, e poderiam optar pela prudência, dando suas vozes a uma multiplicidade de partidos do “não”, como o Partido Popular no poder (PP, direita) Ciudadanos (centro-direita), socialistas, o antiliberal Podemos (esquerda radical).
“Estou emocionado e nervoso”, disse Toni Valls, arquiteto de 28 anos. “Faz muito tempo que falamos das maneiras de resolver esta questão e, hoje, saberemos se somos maioria”, declarou o jovem que é a favor da independência.
Já outros pareciam inquietos, como Mireia Galobart, de 70 anos. “Este não é o momento de nos separar”, afirmou. “Isso poderá me atingir diretamente, se não houver aposentadorias. Precisamos permanecer na Espanha, mas com um governo mais autônomo”, considerou.
O técnico FC Barcelona, Luis Enrique, ex-jogador do Real Madrid, escreveu em seu Twitter ter “exercido seu direito de voto”, acrescentando “Viva a Catalunha!” em catalão.
A Catalunha “não é a Escócia”, ressaltou, por sua vez, o historiador Carlos Andres Gil: “Nós não estamos falando de um território secundário para o país, mas da região mais industrializada”.
De fato, se a Catalunha deixar a Espanha, levará com ela um quinto do PIB do país, quarta maior economia da zona do euro, além de um quarto das suas exportações.
A possibilidade preocupa banqueiros e empresários. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, também defendem a unidade.
A população da região tem estreitas ligações com o resto do país: três quartos dos catalães têm um avô em outras partes da Espanha. Mas, graças à crise e às más relações com o poder central, o nacionalismo de muitos catalães, orgulhosos de sua cultura, transformou-se em separatismo.
Um sentimento alimentado pelas personalidades envolvidas: Mariano Rajoy de um lado e o líder do movimento, o presidente catalão Artur Mas, do outro.
O primeiro lutou para alterar o estatuto de autonomia reforçado que a Catalunha havia obtido em 2006 e retirou o seu título de “nação”. Ele ganhou o caso em 2010, quando o Tribunal Constitucional decidiu que o título não tinha valor jurídico.
Já o segundo, capitalizou o sentimento de muitos catalães de sofrer “maus tratos” por Madri e a ira pela injusta distribuição da renda nacional de acordo com eles.
“É uma questão de dignidade e respeito por uma cultura diferente que eles nem sequer tentam compreender”, resume o arquiteto Tony Valls.
Desde 2012, Artur Mas tem exigido repetidamente a realização de um referendo de autodeterminação, semelhantes aos realizados no Quebec ou Escócia, o que Madri rejeita categoricamente.
Após uma consulta simbólica em 9 de novembro de 2014, que recolheu 1,9 milhão de “sim” à independência, Mas finalmente decidiu avançar antecipar as eleições regionais previstas para o final de 2016.
Ele reuniu a maior parte do campo separatista – direita, esquerda republicana, associações – em uma única lista, “Juntos pelo Sim”, e pediu aos eleitores para validar seu programa: a “liberdade” já em 2017.
No poder desde 2010, Mas garante estar pronto para avançar com uma maioria absoluta dos deputados (68 assentos de um total de 135), mesmo sem o voto da maioria.
Com os assentos da outra lista separatista, CUP (extrema esquerda), isso poderia acontecer, segundo as pesquisas.
Um cenário que faria a Espanha entrar em uma zona de turbulência, a três meses das eleições legislativas.
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