O Hotel Urbano era uma das poucas startups brasileiras com chance de se tornar um unicórnio, jargão do Vale do Silício em referência às companhias iniciantes avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.

No começo de dezembro de 2015, o site de viagens online foi avaliado em US$ 560 milhões, depois de um aporte da Priceline, maior operadora de turismo do mundo, dona do Booking.com.

Desde novembro do ano passado, no entanto, as coisas começaram a sair do lugar para o Hotel Urbano. Os dois fundadores, João Ricardo e José Eduardo Mendes, foram obrigados a vender o controle da empresa para o fundo Insight Venture Partners e foram afastados de suas posições executivas.

A partir daí, começou uma acalorada disputa dos fundadores com a Insight Ventures e outros dois fundos que investiam na startup, a Tiger Global  e a Priceline. 

No começo de setembro, essa novela que quase foi parar numa corte de arbitragem chegou ao final. Os irmãos João Ricardo e José Eduardo Mendes recompraram o controle e reassumiram suas funções na empresa.

Não há muito detalhes sobre a operação de recompra do Hotel Urbano. Os fundos Insight Ventures, o Tiger Global e a Priceline deixaram a companhia.

Os “antigos novos” controladores dizem que pagaram em dinheiro para reassumir a empresa, mas o blog BASTIDORES DAS EMPRESAS apurou que uma das cláusulas prevê que uma parte do pagamento aos fundos de investimento será feito numa futura venda do Hotel Urbano.

Além disso, João Ricardo e José Eduardo Mendes também fizeram uma injeção de capital na empresa. A startup não confirma as duas informações.

“Agora, é voltar ao básico”, disse João Ricardo, que retomou o cargo de CEO, em entrevista ao blog BASTIDORES DAS EMPRESAS. “Queremos trazer muita gente antiga de volta, dar uma oxigenada e voltar a crescer.”

A briga com os fundos de investimento, no entanto, deixou vários esqueletos ao longo do caminho. Durante a disputa, o Hotel Urbano foi perdendo tração e faturamento.

As vendas nos nove primeiros meses desde ano estão 36% menores, quando comparadas com o mesmo período do ano passado. Em 2015, o Hotel Urbano faturou R$ 560 milhões. Neste ano, mantida a trajetória de queda, a receita deve ser de R$ 360 milhões.

O número de hotéis de contratação direta, que representava 95% do faturamento, caiu de 10 mil, no ano passado, para 2 mil. “A empresa ficou bastante engessada neste período”, diz João Ricardo.

Ao mesmo tempo, os rivais avançaram sobre o turismo online. A CVC, maior agência do País, por exemplo, conclui a compra do Submarino Viagens, em maio deste ano.

Com a transação, avaliada em R$ 80 milhões, a CVC que tinha pouca expressão no comércio online mais do que duplicou sua receita nessa área. A participação do canal na receita da empresa subiu de 6% para 14%.

Não bastasse isso, o Hotel Urbano enfrenta um novo problema. A empresa corre o risco de ter de deixar a marca “urbano”, por conta de uma ação movida pelo Peixe Urbano, site de compras coletivas que foi comprado pelo chinês Baidu, em 2014.

Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), na semana passada, deu ganhou de causa para o Peixe Urbano. “Não cabe mais recursos”, diz Bruna Araújo, gerente jurídica do Peixe Urbano. “O uso da marca Urbano causava grande confusão aos usuários.”

O processo do Peixe Urbano tinha mais de cinco anos. Quando foi criado, o Hotel Urbano era um site de compras coletivas, assim como o Peixe Urbano. Ao longo do tempo, mudou sua estratégia para se transformar um site de viagens online.

João Ricardo, por sua vez, diz que cabe recurso e que a empresa irá recorrer.  A startup, no entanto, está preparada para a mudança de marca, caso isso seja, de fato, necessário. “O processo corre há bastante tempo, já temos um plano.”