Por Michael Holden

LONDRES (Reuters) – Além do drama de irmãos rivais e assessores reais maquiavélicos trabalhando com uma imprensa hostil, a principal questão que surge do documentário do príncipe Harry e sua esposa Meghan na Netflix é se ele causa danos duradouros ao rei Charles e à monarquia britânica.

Ao longo de seis horas de programa, Harry e Meghan fizeram uma série de acusações contra o que retrataram como uma instituição surda, que não se preocupa com o bem-estar emocional de seus membros, e que está preparada para deixá-los sofrer se isso significar uma melhor cobertura da imprensa para outros membros mais importantes da realeza.

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“É como viver uma novela onde todo mundo vê você como entretenimento”, disse Harry em um dos episódios finais lançados na quinta-feira.

Quando os dois se casaram em uma cerimônia glamorosa em 2018, sua união foi saudada como uma lufada de ar fresco, a epítome de uma monarquia moderna: o então imensamente popular príncipe e a glamorosa atriz norte-americana birracial.

Mas, como o casal relatou em detalhes gráficos em sua série documental, esse conto de fadas logo azedou em meio a uma série de coberturas negativas da imprensa, pelas quais Harry culpou aqueles que trabalhavam para o príncipe William, seu irmão mais velho e agora herdeiro do trono.

“Parecia frio, mas também se percebia frio”, disse Harry sobre os sentimentos de sua família em relação a ele em seu último compromisso oficial. Em 2020, o casal decidiu se afastar de seus papéis reais, mudando-se para a Califórnia e tornando-se financeiramente independente.

A saída do duque e da duquesa de Sussex foi uma má notícia para a instituição, disse Catherine Mayer, autora da recente biografia “Charles: Heart of a King” (Charles: coração de um rei, numa tradução livre).

“A saída de Meghan e Harry das fileiras reais foi muito mais prejudicial para a monarquia do que a cobertura que os vilipendia, entende ou aceita”, disse ela à Reuters.

“A chegada dela foi uma fonte de enorme esperança para as pessoas de outras raças, e também para os mais jovens. Sua partida é vista como um fracasso e uma traição, e isso é imensamente prejudicial para a monarquia, porque a monarquia precisa de consenso para sobreviver. Precisa de apoio para sobreviver, e está perdendo.”

Mas as pesquisas de opinião sugerem que pode não ser o caso. De acordo com uma pesquisa da YouGov na semana passada, Harry, que já liderou os ratings de popularidade, e Meghan são agora os membros da realeza mais impopulares do Reino Unido, com a exceção de seu tio, o príncipe Andrew, envolvido em um processo de abuso sexual nos EUA em fevereiro. William e sua esposa Kate foram os mais populares, embora pesquisas mostrem que os mais jovens são muito mais ambivalentes do que os britânicos mais velhos sobre a monarquia em geral.

A realeza já esteve em uma posição semelhante antes. No início dos anos 1990, a desintegração do casamento de Charles com sua primeira esposa, a mãe de Harry, a falecida princesa Diana, foi mostrada sob os holofotes da mídia.

Após as acusações públicas de Diana contra a família real e sua morte em 1997, o futuro da instituição de 1.000 anos parecia às vezes incerto. Mas voltou a se tornar mais popular do que nunca, com Harry e seu irmão William em primeiro plano.

De acordo com Harry, a popularidade subsequente de Meghan foi vista como um problema, roubando os holofotes daqueles “nascidos para fazer isso”, uma crítica nada sutil a seu irmão e pai.

Se a avaliação de Harry de que histórias negativas estavam sendo plantadas contra ele e Meghan for verdadeira –uma acusação rejeitada por jornais e assessores que falaram publicamente– então a campanha talvez possa ser vista como um sucesso.

Uma pesquisa da Savanta descobriu que 59% dos entrevistados no Reino Unido disseram que era uma má ideia Harry e Meghan exibir seu documentário, com metade dizendo que não confiava que o programa seria um relato preciso da experiência do casal.

“Pessoalmente, não acho que isso causará danos duradouros à monarquia”, disse a biógrafa real Claudia Joseph sobre o documentário.

(Reportagem adicional de Hanna Rantala e Marie-Louise Gumuchian)

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