04/09/2020 - 22:06
Os governos de Kosovo e Sérvia concordaram nesta sexta-feira em normalizar suas relações econômicas, uma negociação concluída com a ajuda dos Estados Unidos e que o governo de Donald Trump classificou como um grande sucesso diplomático.
As partes assinaram uma declaração na Casa Branca se comprometendo a tomar medidas para melhorar a infraestrutura de transporte e as passagens fronteiriças, reduzir as tarifas comerciais e compartilhar os recursos energéticos e hídricos, bem como para implementar convênios anteriores envolvendo a abertura de estradas e ligações ferroviárias.
Os dois governos também concordaram em melhorar a relação com Israel. A Sérvia irá transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, e Kosovo, de maioria muçulmana, irá reconhecer formalmente o Estado judeu.
“Um dia verdadeiramente histórico”, exaltou Trump no Salão Oval, rodeado pelo premier de Kosovo, Avdullah Hoti, e o presidente sérvio, Aleksandar Vucic. “Ao se concentrarem na criação de empregos e no crescimento econômico, os dois países conseguiram um avanço real na cooperação econômica em uma ampla gama de temas.”
Trump elogiou seu enviado especial, Richard Grenell, por ter unido as partes, duas décadas após uma guerra que deixou 13 mil mortos. “Demorou décadas, porque ninguém havia tentado”, assinalou o presidente americano, que busca a reeleição em novembro. “Foram muitas lutas, e agora há muito amor (…) A economia pode unir os povos.”
– ‘Normalização’ –
O acordo, apresentado como histórico pela Casa Branca, “normaliza” a relação econômica entre os dois países balcânicos, mas não resolve sua profunda divergência política. Belgrado se recusa a reconhecer a independência proclamada em 2008 por Kosovo, após a guerra ocorrida no fim da década de 1990.
Embora muitos países, entre eles os Estados Unidos e as potências europeias, reconheçam ambos, China e Rússia, aliadas da Sérvia, não apoiaram o Estado de Kosovo, impedindo que o mesmo se somasse à ONU.
A reúnião de cúpula em Washington, incomum em um processo liderado tradicionalmente pelos europeus, buscou promover apenas o “fortalecimento das relações econômicas” entre os dois países. As negociações políticas serão retomadas na próxima segunda-feira, em Bruxelas, onde Vucic e Hoti se encontrarão com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. “Acho que os europeus ficarão muito felizes”, disse Grenell, assinalando que as conversas estão paralisadas.
Vucic declarou que os sérvios chegaram a um acordo bilateral “com os Estados Unidos”, sem dar nenhum reconhecimento a um “terceiro” Kosovo. “Teremos um mercado comum, sem mais surpresas com tarifas”, destacou.
O presidente de Kosovo, Hashim Thaci, saudou o acordo, elogiando Trump por promover a causa “da paz, o desenvolvimento econômico e o futuro euro-atlântico. Kosovo deve agora continuar trabalhando para se unir a organizações internacionais e por novos reconhecimentos, para que nosso país se consolide totalmente nos níveis nacional e internacional”.
– A surpresa Israel –
O acordo parece superar o impasse de 2018, quando as conversas lideradas pela UE foram interrompidas, depois que a Sérvia bloqueou o esforço de Kosovo para integrar a Interpol, o que levou os kosovares a impor uma tarifa comercial elevada sobre os produtos sérvios.
O acordo inclui uma ajuda significativa em projetos econômicos e de infraestrutura por parte do Export Import Bank dos Estados Unidos e da International Development Finance Corp. Hoti estimou o valor da ajuda americana em mais de 1 bilhão de euros. “Existe um compromisso claro por parte do presidente Trump e de seu governo de que todos estes projetos comecem a ser implementados em um ano”, informou.
Kosovo e Sérvia concordaram em congelar por um ano sua disputa envolvendo o status internacional de Kosovo, para permitir que o acordo econômico seja implementado. A Sérvia tem pressionado ativamente para que alguns dos mais de 100 países que reconheceram Kosovo retirem este aval diplomático, enquanto Kosovo faz lobby por mais endossos formais.
A surpresa do encontro foi o tema das relações com Israel. O governo Trump, que irritou muitos de seus aliados por reconhecer unilateralmente Jerusalém como capital de Israel, tenta convencer outros países a fazerem o mesmo, ciente de que este é um tema sensível entre o eleitorado evangélico do líder republicano.
A irrupção de Israel no acordo fez com que os dois rivais não assinassem exatamente o mesmo documento: o último ponto contém seus respectivos compromissos com o Estado hebraico, não se tratando estritamente, portanto, de um “acordo” comum.