08/03/2006 - 7:00
Éa invenção mais importante deste século, depois da bomba atômica?. A frase de Diana Vreeland (1903-1989), a poderosa editora de moda das revistas americanas Harper?s Bazaar e Vogue, antecipou o fenômeno. Desde que surgiu, em 26 de julho de 1946, o biquíni, criado pelo inexpressivo estilista francês Louis Réard, teve efeito explosivo. Batizado com o nome do minúsculo atol de Bikini, no Oceano Pacífico, onde os EUA fizeram os primeiros testes atômicos do pós-guerra, ele foi recebido com estardalhaço inversamente proporcional a seu tamanho. Os jornais da época chamaram-no de ?quatro triângulos de nada?, as modelos recusaram-se a posar para fotos com a peça do vestuário e o Vaticano condenou-o com veemência. O papa Pio XII divulgou uma nota contra o seu uso por mulheres católicas. Em vão. Prestes a completar 60 anos, o traje é um sucesso mundial usado em todas as partes do planeta. Faz parte do cotidiano e, apenas no Brasil, as 150 milhões de peças produzidas movimentam R$ 2,5 bilhões ao ano. A evolução dessa indústria será mostrada na Feira Internacional de Tecelagem, a Fenatec, entre 6 e 9 de março, em São Paulo. Ali, a Invista, a marca registrada da Lycra, apresentará uma espécie de linha do tempo com a história do vestuário. ?Receberemos 15 mil fabricantes brasileiros de roupas e 1 mil compradores estrangeiros?, diz Roberta Dias, diretora de estratégia da Alcântara Machado, a organizadora da feira.
Louis Réard: o criador do pequeno traje gerou polêmica e foi criticado até pelo Vaticano
O interesse dos estrangeiros pelo biquíni nacional tem crescido muito. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, a ABIT, a moda praia brasileira já representa 11% dos US$ 2,1 bilhões exportados pelo setor têxtil em 2004. Os principais mercados consumidores das diminutas peças brasileiras são os EUA e Europa. ?O Brasil dita as tendências no mundo da moda praia?, diz Luciane Robic, diretora do Instituto Brasileiro de Moda. Isso se deve, em grande parte, à criatividade dos profissionais e também pela extensão da costa brasileira, com quase 8,5 mil quilômetros de praias. Para o Brasil, ser referência na fabricação de biquínis traz, além de prestígio, grandes lucros. Analistas do setor têxtil explicam que os produtos de moda praia são os que têm maior valor agregado quando desembarcam nas prateleiras. Cada 1 kg de algodão vendido no exterior vale US$ 1,20; cada 1 kg de tecido, US$ 4,7, vestuário, US$ 18 o quilo, e cada 1 kg de biquíni rende US$ 56.
Grandes marcas nacionais conhecem a importância da exportação e fazem de tudo para emplacar seus rótulos no mercado internacional. A Rosa Chá, por exemplo, já participou da Semana de Moda de Nova York e tem 21 representantes estrangeiros para atender a demanda ao redor do mundo. Esse esforço de vendas gerou a comercialização de 42 mil peças no mercado estrangeiro ? 12% do total fabricado pela marca. A Salinas é outra grife brasileira que ganhou com as exportações: são 180 mil peças por ano. A Água de Coco segue a mesma trilha. A grife acaba de fechar uma parceria com a renomada marca de moda íntima americana Victoria?s Secret. O casamento permitirá um belo salto para a empresa. ?Desenvolvemos peças especificamente adaptadas ao estilo da loja e do consumidor nos Estados Unidos?, diz Renato Thomaz, diretor de marketing da Água de Coco. Se os franceses lançaram o biquíni, os brasileiros, definitivamente, o reinventaram.
150 milhões de peças de moda praia foram confeccionadas pela indústria têxtil brasileira no ano passado
A evolução dos modelos (clique nas imagens para ampliá-las)
1940
A stripper Micheline Bernardini foi a primeira a aparecer
com o traje
à borda de uma piscina em Paris (Bloomberg)
1950
Brigitte Bardot surge exuberante com um modelo sensual no filme E
Deus Criou
a Mulher
1960
A cena de Ursula Andress no filme 007 Contra o Satânico
Dr. No faz
a peça ganhar o mundo
1970
O Brasil lança moda ao redor do planeta com a diminuta tanga, um sucesso na época
1980
Outra revolução nas praias brasileiras:
o asa delta nasce no
Rio e conquista
o País
2000
Os trajes brasileiros tornam-se referência mundial em qualidade, modelagem, estampa e design