08/12/2014 - 0:00
Os últimos três meses vêm sendo devastadores para quem investiu em Petrobras. No início de setembro, a estatal petrolífera era a empresa mais valiosa em bolsa, com um valor de mercado de R$ 310,9 bilhões. Nesta terça-feira 9, com a queda de 1,2% – que se seguiu à baixa de 6,2% na segunda-feira 8, a maior em três anos – esse valor havia encolhido para R$ 142,1 bilhões. Em valor de mercado, a Petrobras caiu para o quarto lugar, atrás de Ambev, Itaú Unibanco e Bradesco, segundo a empresa de informações financeiras Economática. Na ponta do lápis, em pouco mais de três meses a antes principal empresa do pregão perdeu 54,3% de seu valor de mercado. É hora de comprar? Pensando nisso, DINHEIRO conversou com especialistas e respondeu tudo o que você queria saber sobre PETR3 e PETR4:
1) Por que as ações estão caindo tanto?
R) A resposta parece ser simplista, mas a queda ocorre porque há mais vendedores do que compradores. No entanto, essa aparente simplicidade esconde uma complicação, que é a briga dos fatos com as expectativas. Na ponta do lápis, as ações estão baratas. As ações preferenciais (PETR4) fecharam nesta terça a R$ 11,36, menor cotação desde agosto de 2005.
2) As ações vão continuar caindo?
A expectativa do mercado é que elas caiam ainda mais no curto prazo. Assim, quem está pensando em comprar espera, pensando em adquirir as ações mais tarde, por um preço ainda mais baixo. Quem está pensando em vender fica com pressa, temendo ter de vender ainda mais barato em alguns dias. Assim, há uma forte pressão de venda que pressiona os preços cada vez mais para baixo.
3) As ações chegaram ao fundo do poço?
R) Não é possível dizer isso. Não há um “fundo do poço” quando se trata de uma ação. “Na teoria econômica, só existe um ‘fundo de poço’ quando há um comprador de última instância, como por exemplo um banco central que compra a moeda nacional para conter uma apreciação do dólar”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora. Tradução: nada indica que, mesmo tendo caído tanto, as ações não vão cair mais.
4) Por que os preços do petróleo estão caindo?
R) Três fatores: desaceleração das economias desenvolvidas, aumento de oferta e fontes alternativas. Há um aumento da oferta de óleo, especialmente da Arábia Saudita e de países do Norte da África, como a Líbia, que voltaram ao mercado, diz Fábio Lemos, sócio da gestora São Paulo Investments. Além disso, como o petróleo ficou caro – acima de US$ 110 por barril – por vários anos, isso incentivou o desenvolvimento de fontes de energia alternativas, como o gás de xisto (o chamado “shale gas”) nos Estados Unidos e as areias betuminosas (“oil sands”) no Canadá. A introdução dessas novas fontes de hidrocarbonetos reduz estruturalmente o preço do óleo.
5) Qual o impacto do petróleo mais barato na Petrobras?
R) A resposta a essa pergunta depende do prazo. No curto prazo, a queda das cotações do petróleo no mercado internacional é boa para a empresa, pois ela é uma importadora líquida (vende mais do que produz, e por isso tem de importar a diferença), e, com preços mais baixos, a fatura a pagar é menor. No longo prazo, porém, a baixa dos preços do petróleo poderá reduzir a atratividade, ou mesmo tornar inviáveis, alguns dos investimentos da estatal no pré-sal.
6) Investir na Petrobras deixou de ser um bom negócio?
Não, mas tornou-se uma aplicação muito mais arriscada do que há alguns meses. A Petrobras é grande, tem um mercado cativo e é praticamente monopolista no Brasil – as prospecções privadas ainda são muito pequenas. No entanto, ela está enfrentando dificuldades para se financiar, com o rebaixamento da classificação de risco e a expectativa da perda do grau de investimento em algum momento de 2015, e não se descarta a hipótese de os investimentos no pré-sal serem bem menos rentáveis.
7) Então, como ganhar com a Petrobras na bolsa agora?
Segundo o analista independente Clodoir Vieira, as cotações estão desvinculadas dos fundamentos da empresa, então os movimentos têm sido bastante especulativos. “O investidor que quiser ganhar com a Petrobras tem de tentar tirar proveito da volatilidade dos preços, comprando e vendendo no curtíssimo prazo ou mesmo em operações day-trade”, diz ele. Vieira ressalta, porém, que essa é uma estratégia muito arriscada, e que só deve ser adotada por quem já tem experiência na Bolsa.