Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) – A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) assinou nesta terça-feira um memorando de entendimento com a China Cotton Association (CCA, na sigla em inglês) no intuito de promover o comércio da pluma ao país asiático e fortalecer a relação do Brasil com o maior comprador global da commodity.

O presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato, disse à Reuters que o acordo será de grande auxílio ao setor, pois permitirá o aumento da troca de informações com a China, destino de cerca de 35% do algodão brasileiro na atual temporada.

“Eles poderão nos dizer quais são as restrições existentes no mercado chinês, eventuais problemas que o algodão brasileiro possa ter, para que sejam corrigidos… é uma maneira de entender melhor a demanda”, afirmou ele, que não mencionou o quanto o acordo poderia elevar as exportações brasileiras.

Além deste, a Abrapa pretende fechar acordos com outras entidades chinesas e demais países compradores de algodão na Ásia, acrescentou Busato.

Atualmente, o Brasil é o segundo maior fornecedor de algodão para a China, atrás apenas dos Estados Unidos, e tem conseguido manter o “market share” que ganhou durante a guerra comercial entre Washington e Pequim.

Busato disse que os norte-americanos estão no mercado chinês de algodão há muito tempo e já possuem acordos nos mesmos moldes que o firmado entre a Abrapa e a CCA.

“Por isso (os EUA) chegaram onde chegaram e nós também estamos indo no mesmo caminho”, afirmou, ao citar que a liderança no fornecimento da pluma se deve muito ao nível de credibilidade que o algodão americano possui na China. “Precisamos conquistar isso também”, acrescentou.

De acordo com a Abrapa, a CCA foi criada em 2003 e possui dentre os membros desde produtores de algodão a empresas do setor têxtil e institutos de pesquisa.

“Ampliar as relações comerciais é o que (na ponta produtiva) vai trazer uma rentabilidade para o agricultor brasileiro. É isso que precisamos garantir para que a gente possa cada vez mais aumentar a área de algodão.”

A Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) estima que o Brasil deve encerrar a safra 2020/21 com vendas entre 700 mil e 750 mil toneladas da pluma para a China. Até março, foram embarcadas 651 mil toneladas, número que já superou o total enviado ao país na temporada 2019/20, de 570 mil.

ÁSIA

Depois de registrar neste ano o melhor primeiro trimestre da história, a Anea projeta embarques de 2,3 milhões de toneladas de algodão para o acumulado da safra 2020/21, alta de 21%.

Isso porque o Brasil tem ampliado as vendas de algodão não só para a China, como para diversos países asiáticos, disse o diretor da Anea, Miguel Faus.

“Aumentamos nossa presença e esse esforço de relacionamento é feito em todos esses países, não só na China, para não ter uma concentração e podermos atender a todos”, afirmou o executivo, sobre a existência de uma alternativa caso os chineses avancem nos negócios com os EUA, em detrimento do produto brasileiro.

O presidente da Abrapa ressaltou que a associação assinou um memorando de entendimento com Índia em janeiro, por meio da Confederação Indiana da Indústria Têxtil (Citi), “e estamos negociando outros nos demais países compradores, como Vietnã, Indonésia, Coreia do Sul, Paquistão e Bangladesh, além de outra entidade na China”.

O analista da consultoria Safras & Mercado Elcio Bento acrescentou que o cenário é promissor para as exportações, pois, além da demanda aquecida dos asiáticos, o Brasil conta com um dólar favorável, safra menor nos Estados Unidos e amplo excedente exportável, visto que o consumo interno caiu na pandemia da Covid-19.

Ele calcula que a oferta brasileira deve atingir 3,045 milhões de toneladas no ano comercial de 2020/21 (julho de 2020 a maio de 2021), ante 2,53 milhões no ciclo anterior. Por outro lado, o consumo doméstico deve baixar de 680 mil para 660 mil toneladas –o menor patamar da série histórica iniciada em 2004/05.

“No acumulado da atual temporada foram exportadas 2,23 milhões de toneladas –o maior volume já verificado em um ano comercial– e um montante que supera… o mesmo período do ano passado em 21,4%.”

(Por Nayara Figueiredo)

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