05/08/2025 - 17:06
São Paulo, 5 – A cafeicultura brasileira movimentou US$ 493 milhões em defensivos agrícolas na temporada 2024/25, segundo o levantamento FarmTrak Café, da consultoria Kynetec. O valor representa leve recuo de 1% frente à safra anterior, influenciado pela queda de 10% nos preços dos insumos em reais e por um câmbio desfavorável.
Segundo o especialista em pesquisas da Kynetec Cristiano Limberger, a retração nos preços dos insumos reflete a maior oferta de produtos genéricos e pós-patentes. “O tíquete médio em dólar caiu bastante, mas em contrapartida tivemos um crescimento importante na adoção de tecnologia, com maior uso de produtos”, afirmou à reportagem.
Apesar do recuo financeiro, houve aumento de 20% na intensidade dos tratamentos fitossanitários. A área potencial tratada, que considera o número médio de aplicações por hectare, chegou a 35,2 milhões de hectares.
“Esse crescimento em adoção de tecnologias reflete cenários de pressão de pragas, doenças fúngicas e nematoides, bem como a demanda por herbicidas face à incidência de plantas invasoras”, explicou Limberger. Entre os principais desafios sanitários estão broca-do-café, ferrugem, cercospora e plantas daninhas como trapoeraba, buva, capim-pé-de-galinha e corda-de-viola.
Segundo Limberger, a alta dos preços do café na safra estimulou os produtores a investir mais na proteção das lavouras. “Foram as maiores cotações históricas tanto para o arábica quanto para o conilon. Em um cenário de preços recordes, o produtor tem uma disposição maior para investir”, disse.
O especialista aponta ainda uma aproximação entre os níveis de investimento nas lavouras de arábica e conilon. “Historicamente, o investimento no arábica era até o dobro do conilon. Hoje, a diferença está em torno de 30%”, afirmou.
Fungicidas lideram – Os fungicidas foliares seguem na liderança entre os produtos mais utilizados na cafeicultura, com vendas de US$ 143 milhões, quase estáveis em relação aos US$ 145 milhões da safra anterior. Entre os principais subtipos estão os chamados “stroby mix” (36%), fungicidas cúpricos (25%), produtos para florada (21%), premium (12%) e os voltados para ferrugem (4%).
Na segunda colocação estão os produtos aplicados por jato dirigido ao solo (“solo/drench”), que somaram US$ 107 milhões, o equivalente a 22% do mercado total, três pontos a menos do que no ciclo anterior. O subsegmento de maior destaque foi o “drench fungicida + inseticida”, que cresceu em participação e respondeu por 71% dos negócios (US$ 76 milhões).
Os inseticidas foliares aparecem como a terceira categoria mais demandada, com US$ 106 milhões movimentados e 20% de participação, alta de 6% na comparação anual. Na quarta posição estão os herbicidas, com participação estável de 19% e vendas de US$ 94 milhões. O glifosato perdeu espaço (de 45% para 37% da categoria), enquanto herbicidas pré-emergentes ganharam relevância (de 24% para 31%). Segundo Limberger, esse movimento reflete a resistência crescente ao glifosato: “Hoje, o glifosato não controla mais todas as plantas daninhas. O produtor precisa complementar o manejo com outras moléculas”.
Os nematicidas específicos apresentaram um dos maiores avanços em adoção, saltando de 8% para 15% da área tratada, com alta de 40% em valor, chegando a US$ 26 milhões – ou 5% do total do mercado. Já outros produtos, como adjuvantes, óleos e reguladores de crescimento, somaram US$ 17 milhões (3%).
Diferenças regionais – A pesquisa, que ouviu mais de 1.100 produtores de diferentes portes nas principais regiões cafeeiras, aponta forte variação regional na adoção de defensivos. No Triângulo Mineiro, por exemplo, a pressão de pragas como bicho-mineiro e ácaro é mais intensa, o que eleva os gastos com proteção. “O investimento médio nessa região chega a ser o dobro da média nacional”, afirma Limberger. Já o sul de Minas, com clima mais úmido, concentra investimentos maiores em fungicidas.
A pesquisa da Kynetec aponta estabilidade na área cultivada, com 2,1 milhões de hectares de café nas regiões pesquisadas. O tipo arábica corresponde a 83% do total, enquanto o conilon representa 17%.
O sul de Minas Gerais lidera o cultivo, com 588 mil hectares e 28% da área total. Em seguida vêm o Espírito Santo (20%), Cerrado Mineiro (17%), Zona da Mata/Vale do Rio Doce (17%) e o Estado de São Paulo, com 10%. Estados como Roraima, Bahia e Paraná completam os 7% restantes.