Nas últimas décadas, a indústria bélica mundial se tornou uma importante fornecedora de tecnologias para o mercado automobilístico. Veículos de combate inspiraram a criação de modelos fora de estrada com tração nas quatro rodas. Tanques de guerra geraram novos tipos de blindagem para automóveis de passeio. Sistemas de monitoramento via satélite resultaram em dispositivos de GPS e equipamentos antirroubo e furto. É nesse último caso que se enquadra a israelense Ituran. A empresa nasceu a partir de uma tecnologia utilizada pelo Exército de Israel para gerenciar sua frota militar. 

 

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Yaron Littan, CEO: o executivo, à frente da subsidiária brasileira, comanda a maior operação da Ituran

no mundo, graças aos altos índices de roubos e furtos

 

Há duas décadas, o sistema foi adaptado para utilização em fins civis: o monitoramento de automóveis nas grandes cidades. Apesar da rápida popularização do sistema em Israel, foi no Brasil, onde está há 14 anos, que a empresa sediada em Azour, no entorno de Tel-Aviv, encontrou seu principal mercado. Em 2013, o País registrou 470 mil veículos roubados ou furtados, o equivalente a 54 carros e motos roubados a cada hora, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Essas impressionantes estatísticas de criminalidade se tornaram oportunidade de negócios para a Ituran, que tem ações negociadas na bolsa eletrônica americana Nasdaq. 

 

Metade dos US$ 170 milhões de faturamento da companhia em todo o mundo, no ano passado, veio do mercado brasileiro, à frente da Argentina e dos Estados Unidos. “É nas deficiências que estão as oportunidades”, afirma o israelense Yaron Littan, CEO da companhia no País. “Basta observar o sucesso do Facebook, que atendeu à necessidade das pessoas de estar em contato com seus amigos, e do Waze, um aplicativo que se tornou febre para quem busca rotas alternativas para fugir do trânsito congestionado.” O mercado brasileiro, que já é gigantesco para a Ituran, pode se tornar ainda maior. 

 

Uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que obrigaria todos os carros zero-quilômetro a sair de fábrica com rastreador a partir de 2007, foi barrada temporariamente pela Justiça. Littan aposta, no entanto, que haverá uma definição sobre o assunto ainda neste ano, exigindo que as montadoras instalem o equipamento de localização, deixando ao proprietário a decisão de ativar o serviço ou não. “Se isso acontecer, teremos de investir R$ 100 milhões para atender ao crescimento da demanda nos próximos cinco anos.” Se a nova legislação entrar em vigor, a expectativa é que a Ituran dobre de tamanho até 2019. 


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Parceria com a GM: a Ituran fechou acordo com a montadora americana para instalar

rastreadores nos carros zero km da marca no País

 

A empresa já se antecipou para uma eventual reviravolta do mercado, em que há concorrentes de peso, como a Carsystem, a Graber e a Sascar. A primeira decisão foi assinar contrato com a GM para ser a fornecedora do serviço para a montadora americana. “Os aparelhos serão produzidos pelos fabricantes de autopeças, mas nós seremos a empresa que fará o serviço de rastreamento”, diz o CEO. Pelos cálculos de Littan, se o dispositivo for obrigatório, haverá a instalação de até cinco milhões de aparelhos por ano no País, dos quais cerca de 20% devem ser ativados por decisão dos proprietários. 

 

Atualmente, dois milhões de rastreadores estão em operação no País, número considerado baixo diante de uma frota de 45 milhões de veículos. Enquanto não há definição sobre a obrigatoriedade dessa tecnologia, a Ituran vai desenvolvendo novos produtos no País. Atualmente, com 300 mil clientes, a empresa detém 80% do mercado varejista de rastreadores – não inclui frota de caminhões ou rastreadores instalados por seguradoras, por exemplo. É nesse segmento, por sinal, que a Ituran está atacando. Em 2011, ela lançou no mercado um serviço de rastreamento em parceria com a seguradora espanhola Mapfre e com a francesa BNP Paribas Cardif, que estreou no ramo de veículos com esse produto. 

 

A estratégia é oferecer um serviço de baixo custo, atraindo consumidores que não podiam pagar por uma proteção completa. Em caso de roubo ou furto, o seguro reembolsa o cliente pelo valor de tabela, caso o veículo não seja encontrado. “Apenas 20% dos carros têm um seguro no País, pois o proprietário nem sempre pode pagar um seguro tradicional”, afirma ele. “Imagina o tamanho do mercado que temos para conquistar.” Focado no proprietários de carros populares, esse produto apresenta maior demanda em regiões nas quais os índices de roubo ou furto são maiores. Outro mercado que tem merecido uma atenção especial da Ituran é o de frotas. 

 

Com a mesma tecnologia utilizada pelo Exército e pela polícia rodoviária de Israel, a companhia tem oferecido mais do que um serviço tradicional de rastreamento, como se fosse uma espécie Big Brother veicular. Além de monitorar os carros, a empresa apresenta relatórios que detalham até a forma como o motorista está dirigindo e os riscos de acidentes em decorrência de seu estilo de dirigir, bem como a previsão de desgaste de peças e de consumo de combustível durante uma viagem. “Com frotas de cinco mil carros cada uma, a polícia rodoviária e o Exército israelense conseguiram reduzir em até 20% as despesas de manutenção”, afirma Littan.

 

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