Já imaginou chegar à empresa para trabalhar e encontrar no escritório apenas uma mesa sem computador, telefone ou qualquer outro equipamento? A cena parece inusitada num primeiro momento, mas pode ir se acostumando com a ideia. Cada vez mais empresas estão permitindo, e até incentivando, que seus funcionários utilizem máquinas pessoais, como tablets, celulares e até notebooks, para fins profissionais. A tendência promete transformar a forma como as companhias encaram suas infraestruturas de tecnologia e deve acirrar a disputa entre fabricantes de equipamentos eletrônicos. Ao contrário do que possa parecer, o objetivo nesse caso não tem a ver com economia de custos. O fenômeno acontece porque as companhias já não conseguem acompanhar a velocidade com que os consumidores adotam novas tecnologias. 

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Sérgio Valente, da DM9: ”Não me preocupo com qual computador vou usar, apenas o utilizo”.

 

É só observar os tablets para identificar esse cenário. Apesar de estarem nas mãos de muitos profissionais, são poucas as companhias que fornecem as tábuas digitais para todos os empregados. O velho modelo corporativo, no qual o departamento de tecnologia controla todos os computadores utilizados, não atende mais às demandas e aos anseios dos funcionários. A palavra de ordem hoje é mobilidade. As informações precisam estar disponíveis em qualquer lugar, a qualquer hora. E isso é impossível se o computador estiver trancado no escritório. Para Sérgio Valente, CEO da agência de publicidade DM9DDB, não importa como as pessoas acessam os dados de que necessitam para trabalhar, desde que estejam em expediente. “Não me preocupo com qual computador vou usar, apenas o utilizo”, afirma Valente. Segundo ele, a DM9 se esforça para oferecer as mais recentes novidades tecnológicas a seus funcionários. 

 

Mas, caso prefiram utilizar equipamento próprio, eles têm total liberdade. Esse é o caso do próprio Valente, um entusiasta da tecnologia, que não faz cerimônia em utilizar seu iPad pessoal nas reuniões. De acordo com uma pesquisa feita pela consultoria de tecnologia Avanade, que contou com a participação de mais de 600 empresas de vários países, 97% das companhias brasileiras identificaram o uso de equipamentos pessoais no local de trabalho. Esse porcentual é maior do que o registrado nos Estados Unidos (89%). “Os empresários enxergam nessa tendência uma forma de aumentar a produtividade”, afirma Hamilton Berteli, diretor da Avanade. Para permitir que os empregados utilizem seus próprios equipamentos, as empresas investem – e muito – em infraestrutura de tecnologia, especialmente em redes wi-fi, e na adaptação de softwares para sistemas operacionais que não faziam parte do ambiente corporativo, como o iOS, da Apple, e o Android, do Google. 

 

Esse tipo de investimento já consome, segundo Berteli, 25% dos orçamentos de TI das empresas pesquisadas. A segurança é outra questão que preocupa o setor corporativo e demanda investimentos para a adoção dessa nova política de tecnologia. Com mais dispositivos acessando informações, aumentam os riscos de vazamentos ou mesmo o roubo de dados sigilosos. “Na DM9, tudo tem senha”, afirma Valente. “Controlamos também o que cada pessoa pode ou não acessar.” Segundo Fernando Nakamura, gerente de vendas da Citrix, empresa que desenvolve softwares para redes de dados, quando a companhia tem políticas de segurança bem definidas, o risco é reduzido. “Hoje é possível definir padrões de acesso aos dados para cada pessoa”, afirma Nakamura. “Mesmo que o computador seja roubado, os dados estão protegidos.” 

 

A mudança nas políticas de TI tem impacto na vida dos fornecedores de tecnologia – no caso, dos fabricantes de computadores, que são os que mais precisam se adaptar à nova tendência. Isso porque, durante muito tempo, eles se acostumaram a oferecer máquinas preparadas para o velho ambiente corporativo. Agora, precisam aprender a trabalhar para o público consumidor. “A realidade hoje é que tecnologias desenvolvidas para o mercado de consumo estão sendo utilizadas nas corporações”, afirma Henrique Sei, diretor de vendas da Dell. Nesse contexto, empresas como a Apple, com o iPad, e o Google, com o Android, podem incomodar as líderes do setor corporativo, como Dell, HP e Microsoft. “Não é uma questão de marca”, diz Sei. “O que as pessoas querem é ter liberdade de escolha.” 

 

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