14/03/2019 - 9:00
Quem me conhece sabe que há um bom tempo defendo a chamada “uberização dos bancos”, que não passa da mesma revolução provocada, alguns anos atrás, por empresas como Uber e Airbnb, só que dentro do ambiente financeiro. Na década passada, ninguém se imaginava entrando no carro de um total desconhecido ou se hospedando na casa de uma família que nunca teve algum tipo de relação. E por que essa mesma autonomia não pode ser passada também para o dinheiro?
Para dar uma maior ênfase à minha defesa, voltamos até o ano de 1945, quando as pessoas se relacionavam com seus bancos apenas por meio das cédulas de papel, com toda a dificuldade de ter de sacar o dinheiro antes de comprar um bem de consumo. Em 1946, o banqueiro John C. Biggins, do Banco Nacional Flatbush do Brooklyn, criou o primeiro cartão bancário da história (Charg-It), um marco que estabeleceu uma nova era, permitindo que os comerciantes, em um raio de até dois quarteirões, cobrassem o valor das compras feitas com o Charg-It no próprio Banco Nacional.
Mais de sete décadas depois, o que vemos é uma realidade completamente diferente, com a tecnologia ganhando cada vez mais espaço e proporcionando nossa independência com os bancos, os mesmos que passaram a adotar modelos diferentes daqueles tradicionais e rígidos já conhecidos para não perderem mais espaço para as fintechs que investem em suas tecnologias disruptivas e digitais.
Mudamos muito de 1945 para cá, e por que não podemos mudar ainda mais?
O seu dinheiro ao toque de suas mãos
Dentro dessa mesma alçada, vemos a expansão de serviços que surgiram como novidade, tiveram um certo receio do mercado, mas que aos poucos vêm ganhando mais adeptos. A moeda digital é um exemplo dessa tecnologia que não me deixa mentir. O Bitcoin, a primeira do gênero, abriu caminho para uma disrupção tecnológica sob os pagamentos realizados apenas em ambiente online, força suficiente para que novos modelos fossem ganhando vida a partir daí.
Atualmente líder absoluto no mercado, o Bitcoin pode chegar a um valor de US$ 144 mil antes do final de 2030, segundo expectativas do Grupo Satis, abrindo mais espaço para outros modelos de criptomoedas que foram surgindo depois como Monero, Zcash e Dash, e que possuem elevados índices de aceitação.
A autenticação biométrica, reconhecimento facial, de voz, visual ou até por batimentos cardíacos são tecnologias que seguem esse perfil revolucionário e que também podem habilitar diferentes formas de pagamentos, deixando de lado as habituais senhas complicadas de memorizar.
O relatório ‘Mobile Payment Security: Biometric Authentication & Tokenisation 2018-2023’, elaborado pela consultoria britânica Juniper Research, trouxe-nos o interessante dado de que o uso de biometria baseada em softwares de reconhecimento impulsionará os pagamentos móveis globalmente. Num período de até cinco anos, as transações em m-commerce autenticadas biometricamente terão um aumento de cerca de 57%, atingindo mais de US$ 48 bilhões em volume até 2023.
Essas tecnologias para pagamento ficam ainda mais claras com o uso de simples aplicativos que aprovam uma compra em questão de minutos, apenas com a habilitação pelo celular, evitando possíveis fraudes e dando uma maior segurança ao usuário.
Em tempos atuais, o modelo de mobile payment transformou a relação das pessoas com o dinheiro, possibilitando transações em questões de segundos, ao toque da tela do celular. Para se ter uma ideia, segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o volume de operações feitas pelos aplicativos de instituições financeiras cresceu 70% em 2017, na comparação com o ano anterior, chegando a 1,7 bilhão de processos.
E a tendência é que esse movimento continue crescendo e que atinja vertentes ainda mais fortes, oferecendo possibilidades financeiras diferentes das vistas nos bancos tradicionais. Hoje em dia, o devedor já sabe que não poderá contar com o apoio das instituições e seus juros abusivos e, por isso, a contratação de empréstimos pelo celular cresceu 141% no ano passado, de acordo com levantamento da mesma Febraban.
Vivemos numa realidade completamente digital, com novas gerações que já nascem com a tecnologia em suas mãos e outras mais antigas que estão mais dispostas a se adaptarem. No mundo financeiro essa realidade é a mesma. A empresa que quer crescer e se manter num mercado cada vez mais competitivo, não necessariamente precisa ser digital, mas precisa ter uma “mentalidade digital”, pensar acima do seu tempo e oferecer serviços que transformem o dia a dia de seus clientes.
Lembre-se que o consumidor digital é o mesmo que está no varejo de rua e nos shoppings. Invista em tecnologias necessárias que possam gerar experiências e benefícios reais para os seus clientes. Ou deixe que a concorrência os roube de você.
(*) Alisson Idalo é Diretor de UX do Social Bank