Na segunda-feira (14), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, deu o mais contundente exemplo dos benefícios de uma autoridade monetária independente. “O que a gente pode comentar é o que a gente captura nos preços de mercado”, disse. “E o que tem acontecido é uma eliminação de vários preços que mostram o risco da passagem de um governo para outro. Significa que o mercado passou a ser menos receoso dessa passagem.” A tradução (quase desnecessária) é a de que o mercado não teme a troca de Jair Bolsonaro por Lula, que lidera as pesquisas à corrida presidencial de 2022. Na entrevista, feita para a jornalista Miriam Leitão, o presidente do BC não citou Lula – não precisava e nem poderia. “Não cabe fazer comentários sobre o que seria cada candidato, então a nossa interpretação é [somente] a dos preços do mercado.” Na leitura de Campos Neto, ele ainda disse que o BC independente funcionou ao mesmo tempo como causa e efeito do que pensam os principais agentes financeiros, de precificar Lula. “O BC ganhou a posição de autonomia exatamente para ter independência entre o ciclo político e os ciclos de política monetária.”

BRASÍLIA
Arthur Lira em pele de cordeiro

Praticamente qualquer integrante do Partido Liberal (PL) no Brasil é acima de tudo um estatista. Não, não leia um estadista. Sob essa realidade é preciso ler a entrevista ao Valor Econômico do presidente da Câmara, Arthur Lira (PL)-AL). De mais relevante ele afirmou três coisas: a) que Paulo Guedes deve submissão ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PL); b) em relação à PEC dos Combustíveis, Lira praticamente jogou a toalha; c) sobre o avanço das reformas, afirmou que “havia quatro, duas foram aprovadas (Previdenciária e Trabalhista)” ­— justamente as que atacam mais o setor produtivo e empregos privados. Quando se trata do lado de lá da força (as reformas Tributária e Administrativa), “só depois das eleições”. O que não deixa de ser boa notícia, já que o pior Congresso brasileiro pós-ditadura só faria mais lambanças.

R$ 607 MIL

Preço do aluguel que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) vai pagar para ter um escritório em… Brasília. O contrato é de cinco anos. O presidente do TJ-MG, desembargador Gilson Soares Lemes, afirmou que o local será ponto estratégico para reuniões e encontros… a 736 km de sua sede mineira. As informações são de Frederico Vasconcelos, do jornal Folha de S.Paulo.

BOLSONARO EM MOSCOU
Lambança diplomática

Apesar da boa vontade de boa parte da mídia nacional e de formadores de opinião para mostrar que o Itamaraty está curado do surto que viveu sob a direção de Ernesto Araújo, a presença de Jair Bolsonaro em Moscou tem a indefectível evidência de disparar gatilhos que devem trazer inevitáveis reflexos econômicos. “Somos solidários à Rússia”, afirmou o presidente brasileiro em seu encontro na quarta-feira (16) com o presidente Vladimir Putin, em Moscou. Impedido pela diplomacia brazuca, ou sem coragem, ele omitiu a palavra “Ucrânia” na frase, mas nem precisava. Apesar de os principais veículos de imprensa norte-americanos e europeus ignorarem o brasileiro em suas home pages, Bolsonaro conseguiu se mostrar aliado do inimigo número 1 das maiores economias ocidentais.

“Estamos cegos à nossa própria cegueira. Não fomos desenhados para saber o quão pouco sabemos”
“Pessoas otimistas desempenham papel extraordinário em nossas vidas. Suas decisões fazem a diferença. Elas chegaram onde estão buscando desafios e assumindo riscos” DANIEL KAHNEMAN (1934) Nobel de Economia 2002

EUROPA
UE em guerra contra bolsonarismo europeu

Mais alta corte da União Europeia (UE), o Tribunal de Justiça decidiu na quarta-feira (16) rejeitar pedidos de Hungria e Polônia que questionavam mecanismos pelos quais o bloco pode interromper fluxo de financiamento a nações que descumpram princípios do Estado de Direito. Em suma, governos antidemocráticos. Assim como os brasileiros, húngaros e poloneses elegeram governos populistas, muito à direita e extremamente conservadores nos costumes. E que atacam, cada um a seu modo, as instituições de Estado. O recado vem do jeito que sempre funciona: no bolso, com corte a dinheiro que esses países não conseguem por conta própria. Para o tribunal, “os interesses financeiros da União podem ser seriamente comprometidos por violações dos princípios do Estado de Direito cometidas em um Estado-membro”.