A discrição é uma das regras básicas do mundo financeiro. Por isso, caiu como uma bomba o livro recém-publicado nos Estados Unidos pela jornalista Susan Antilla, colunista da agência Bloomberg. Ao longo de 342 páginas, ela relata com detalhes casos de escândalo e discriminação sexual em Wall Street, a meca das finanças. Em Tales from the Boom-Boom room: women versus Wall Street (Contos da sala Boom-Boom: mulheres contra Wall Street), publicado pela Bloomberg Press, Susan descreve a trajetória de mulheres que tentaram fazer carreira nas empresas financeiras de Nova York. As histórias se passam no escritório da corretora Shearson Lehman Brothers, que em 1994 se fundiu com a Smith Barney e hoje faz parte do conglomerado Citigroup.

A personagem principal do livro é a corretora Pamela Martens. Em 1996, após onze anos de serviços na empresa, ela processou a Smith Barney, alegando que convivia num ambiente onde o assédio e a discriminação sexual eram práticas correntes. Pamela acusou os colegas do sexo masculino de terem estabelecido um clima que ela define como animalesco, contando piadas obscenas, chamando as mulheres de prostitutas e bebendo além da conta na área de recreação da empresa, situada no porão do prédio da corretora e apelidada de ?Boom Boom Room?. Segundo o relato, essa sala funcionava como se fosse um clube noturno. De acordo com Pamela, as mulheres eram banidas de todas as reuniões fora do escritório, como as que aconteciam em campos de golfe. Se alguma delas fosse bem-sucedida nos negócios, perdia seus clientes, que eram transferidos para corretores masculinos. Pamela ainda acusou a corretora de negar às mulheres os mesmos benefícios e bônus pagos aos homens.

O livro também conta passagens ultrajantes enfrentadas por ela e suas colegas. Na corretora Olde Discount Corp, a executiva Susan Bell foi promovida a gerente da filial de Nova York após seu chefe ter deixado a companhia. Embora ela ocupasse um dos principais cargos da empresa, entre suas novas funções estava a limpeza dos banheiros, algo não exigido de seu antecessor.

Os escândalos chamaram a atenção para o machismo do mundo financeiro. Em 1998, o procurador geral de Nova York, Dennis Vacco, criticou abertamente as maiores firmas de Wall Street e pediu mudança nos hábitos. Até agora, porém, as mulheres ainda não obtiveram uma vitória significativa na Justiça. Muitas das que foram aos tribunais contra seus antigos patrões não conseguiram mais emprego no mercado financeiro. Poucas firmaram acordos, e foram raros os casos de grandes indenizações. Muitos dos réus continuam trabalhando.

Após essa onda de processos, as mulheres vêm perdendo terreno em Wall Street. De acordo com estatísticas oficiais, a quantidade de empregados do sexo feminino na área de serviços financeiros caiu 15% nos últimos dois anos. Desde 1998, o número de mulheres nos cargos de gerente adjunto ou de gerente de vendas na Smith Barney diminuiu 46%. Em números absolutos, elas ocupam somente 35 de um total de 359 vagas nessas funções. Para Wall Street, as mulheres continuam sendo o sexo frágil.