28/06/2024 - 7:30
Abrir uma cerveja, tirar os sapatos e jogar conversa fora com os colegas é tradição em algumas empresas dinamarquesas. O que pode parecer “coisa de startup” para brasileiros é uma cultura institucionalizada de pequenas a multinacionais do país nórdico.
Os “friday bars” (bares de sexta) estão presentes desde cedo na vida dos dinamarqueses. Todas as faculdades têm sua própria versão e é comum ver as cantinas ou pátios das universidades lotados de alunos e professores bebendo cerveja juntos.
Mas a bebedeira de sexta não é só um costume universitário. Ela está presente em museus, instituições e nas empresas. O motivo? Os dinamarqueses precisam de um empurrãozinho para socializar. “Os dinamarqueses tendem a ser reservados no começo, não são as pessoas mais abertas”, diz Jesper Kristiansen, gerente do restaurante Le Basilic, em Aarhus.
O gerente explica que os dinamarqueses, por conta própria, não têm o costume de interagir com os colegas fora do espaço de trabalho e, por isso, contam com as empresas para promover a integração. “Os funcionários precisam de um espaço até para liberar a carga do dia a dia e desabafar com colegas, o que não fariam sem essas inciativas”, ele diz.
E as empresas se empenham. Além dos bares de sexta, as companhias também costumam organizar festas de verão, em julho, e jantares de Natal, em dezembro. Kristiansen conta que seu restaurante recebe várias dessas celebrações e é comum ver a transformação das pessoas quando chegam e “depois de tomarem 4 taças de vinho ou garrafas de cerveja”.
A cultura dinamarquesa (e o estado de bem-estar social) também valoriza a satisfação pessoal no trabalho. Para as empresas, o ganho com os friday bars vem em forma de satisfação e produtividade dos funcionários.
“Está muito enraizado na cultura de trabalho amigável. Na Dinamarca, há muita ênfase no quanto as pessoas gostam do seu local de trabalho. Quando eu era criança, todos ao meu redor diziam que 50% da satisfação com o trabalho vem dos colegas”, conta Kristiansen.
Como é um friday bar?
As regras mudam de empresa para empresa. Algumas têm bares todas as semanas. Outras, estabelecem datas fixas, como a última sexta de cada mês. Usualmente, eles começam às 14h e os funcionários podem ir embora quando quiserem. Quem não quiser aproveitar a tradição, pode simplesmente começar o fim de semana mais cedo.
A brasileira Beatriz Bulhões trabalha como Global Brand Strategist na Lego e é fã da tradição – que funciona de um modo um pouco diferente na empresa dela. “Por conta do trabalho remoto na sexta, nós temos o ‘bar de quinta’, promovido no espaço em que a Lego disponibiliza para os funcionários relaxarem e fazerem atividades criativas. Eles têm focado bastante na integração de novos funcionários com pessoas que já trabalham na empresa há algum tempo”, conta.
Mas o sucesso deu espaço a outras versões do “friday bar”, organizadas pelos próprios funcionários.
“Nós temos um grupo de funcionários que moram na mesma cidade e fazemos nosso bar na sexta, depois do expediente. Nós organizamos o evento, criamos temas e nos conectamos com pessoas do negócio inteiro. Como a empresa é muito grande, nos bares eu consigo conhecer pessoas que moram perto de mim, mas eu não conhecia por ser de outra área”, diz a brasileira.
“Pra mim, melhora muito a satisfação com o trabalho porque a gente consegue relaxar e se divertir juntos. E a gente sente que é algo nosso”, celebra Bulhões. Ela conta que isso é importante porque, durante o trabalho, não há muitas oportunidades de conexão. “O horário de almoço não é igual ao do Brasil, por exemplo. As pessoas comem muito rápido e voltam para a mesa”.
Os bares também ajudam a criar pontes úteis para as pessoas. Como a maioria das grandes empresas fica em cidades menores, muita gente viaja diariamente para trabalhar. Foi neste ambiente que o engenheiro elétrico Jonas Firlei encontrou colegas para dividir caronas. Ele conta que há até uma rotatividade do motorista da sexta para que todos possam aproveitar e beber em algum dos dias.
A Dinamarca foi eleita o 5º país com o melhor equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, segundo um estudo recente feito pela Remote, empresa de tecnologia de RH. O Brasil foi colocado na 10ª colocação.