06/06/2021 - 13:38
Por décadas, Sheik Jarrah foi considerado apenas mais um bairro de Jerusalém Oriental, anexado por Israel, mas sua história se tornou viral nas redes sociais desde que eclodiram os protestos contra os planos de expulsar famílias palestinas que ali viviam.
“Conseguimos (…) não apenas chamar a atenção para os assentamentos em Jerusalém, mas também para os direitos dos palestinos de se defenderem, seu direito de resistir ao ocupante e o direito à sua própria narrativa”, disse Muhamed el-Kurd.
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O poeta e escritor de 23 anos, um dos que podem perder a casa, tem trabalhado para divulgar o caso em seu bairro e tem mais de 180 mil seguidores no Twitter e mais de meio milhão no Instagram.
“Desde o início da campanha, nossa mensagem tem sido muito clara, estamos falando sobre colonialismo e assentamentos, não apenas abusos dos direitos humanos”, acrescentou.
No domingo, sua irmã gêmea Mona, também muito ativa na campanha #SheikhJarrah, foi presa pela polícia israelense.
Muhamed estava ausente no momento da prisão, mas recebeu uma intimação para comparecer à delegacia de polícia em Jerusalém Oriental, conta seu pai.
Os protestos em Sheikh Jarrah se espalharam pela Esplanada das Mesquitas em maio, ocasionando uma dura resposta israelense contra os palestinos ali.
A repressão desencadeou uma guerra de 11 dias entre o Estado judeu e militantes palestinos na Faixa de Gaza, que por sua vez gerou protestos pró-palestinos globais.
As hashtags #SheikJarrah e #SalvenSheikJarrah se tornaram virais. Celebridades como os atores Mark Ruffalo e Viola Davis e o jogador de futebol do Manchester City, Riyad Mahrez, postaram comentários sobre o bairro nas redes sociais.
– “Mudança inédita” –
Kurd qualifica a situação de Sheikh Jarrah como “uma pequena amostra do colonialismo sionista em Jerusalém e na Palestina em geral”.
“Todos puderam ver que enfrentamos um sistema legal racista criado para proteger e apoiar os colonos”, acrescentou.
Israel ocupou Jerusalém Oriental em 1967 e depois a anexou, o que não foi reconhecido pela comunidade internacional.
Segundo a lei israelense, grupos judeus podem reivindicar terras que lhes pertenciam antes da fundação de Israel em 1948, embora famílias palestinas vivessem nelas há décadas.
No entanto, os palestinos que se tornaram refugiados na guerra de 1948 não têm como recuperar suas casas ou terras em Israel.
Segundo a organização israelense de direitos humanos, Ir Amin, diz que até 1.000 palestinos em Sheikh Jarrah e no distrito vizinho de Silwan poderiam ser deslocados.
“Vimos uma mudança inédita na opinião pública mundial”, conta Kurd, que está fazendo mestrado nos Estados Unidos.
“Acho que o que tornou a hashtag #SalvenSheikJarrah um sucesso foi a narrativa que usamos”, explica.
Em sua opinião, “as pessoas começaram a entender o caso de Sheik Jarrah e do colonialismo em geral em Jerusalém”.
“Mesmo que não possamos salvar as casas, fizemos algo muito grande”, ressalta ele.