20/04/2023 - 21:07
SÃO PAULO (Reuters) – A empresa de comércio eletrônico Shein disse que pretende manter os níveis de preços praticados no Brasil mesmo com o início de uma produção local, já que visa compensar maiores custos de fabricação com economias em logística, disse o presidente do conselho da empresa para a América Latina, Marcelo Claure, em entrevista.
A companhia anunciou nesta quinta-feira uma investimento inicial de 750 milhões de reais nos próximos anos para estabelecer uma rede de mais de 2 mil fabricantes do setor têxtil no país. A ideia é que em 2026 cerca de 85% das vendas no Brasil sejam de produtos fabricados internamente ou vendidos por comerciantes brasileiros no marketplace da empresa.
Claure, ex-executivo do alto escalão do conglomerado japonês SoftBank, e que se juntou à Shein no início deste ano, disse que atualmente a empresa envia individualmente os produtos ao Brasil. A companhia atua globalmente com um modelo de produção através de parcerias com fabricantes têxteis e sob demanda, não dependendo, portanto, de estoques.
+ Shein estabelece parceria com empresas de tecidos de Minas Gerais
+ Shein anuncia investimento de R$750 mi prevendo geração de 100 mil novos empregos
A ideia é basicamente passar a enviar matéria-prima para o Brasil e localizar a fabricação no país, afirmou ele. “Todas as economias em transporte e logística serão compensadas pelo que acredito ser apenas um custo de fabricação um pouco mais alto. Então, o resultado final (em termos de preço) deve ser exatamente o mesmo ou menor”, afirmou Claure à Reuters.
O 750 milhões de reais serão empenhados principalmente para fazer a transição do modelo de fabricação tradicional para o sob demanda nas fábricas parceiras locais, treinar funcionários e digitalizar a operação.
A Coteminas disse nesta quinta-feira que assinou memorandos de entendimentos com a Shein para o estabelecimento de parceria envolvendo 2 mil confeccionistas, que passarão a ser fornecedores da plataforma de comércio eletrônico com foco em varejo de moda.
Claure também afirmou que a Shein não pretende virar uma varejista física. Atualmente, a empresa tem lojas transitórias em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte.
“100% EM CONFORMIDADE”
A Shein, uma empresa fundada na China, mas com sede em Cingapura, viu suas vendas explodirem no Brasil durante a pandemia. Segundo estimativas do BTG Pactual em relatório do final de janeiro, a companhia teve 8 bilhões de reais de vendas em 2022, contra 2 bilhões de reais em 2021. A Shein é uma empresa fechada, portanto não divulga diversos números operacionais e financeiros.
Recentemente, a empresa, assim como outros marketplaces asiáticos, entrou em foco no Brasil após o governo anunciar que acabaria com a isenção de encomendas internacionais de até 50 dólares entre pessoas físicas.
Segundo autoridades do governo, o benefício (que existe em vários países do mundo com diferentes tetos e é conhecido como “de minimis”) estaria sendo usado ilegalmente por varejistas e marketplaces internacionais, especialmente da Ásia, para vender produtos mais baratos no Brasil, uma vez que as companhias estariam exportando como se fossem pessoas físicas.
O governo, porém, recuou de suas intenções nesta semana, em movimento que veio após críticas de consumidores em redes sociais, que temiam o aumento de preços dos produtos de varejistas como a Shein, Shopee e AliExpress.
Questionado se a Shein utiliza o “de minimis” para vender produtos mais baratos, Claure disse que a empresa opera “100% em conformidade com a atual legislação brasileira de importação de produtos”
Ele afirmou que houve uma “confusão” e “falta de entendimento” do modelo de negócios da Shein, o que foi acertado após reunião com Haddad nesta tarde.
“Tudo o que pedimos foi: regras claras e igualdade de condições para que possamos competir de forma justa, e acho que todos estão felizes do jeito que está indo”, disse ele, afirmando que o governo se comprometeu em colocar “regras claras”, e a empresa a cumprí-las.
Segundo ele, o recuo do governo foi correto. “Acho que foi a coisa certa a fazer, porque muitas pessoas dependem do que compram, do que vestem com base na Shein e nos produtos que importam de Shopee, AliExpress, e de todos esses diferentes marketplaces altamente eficientes”, afirmou o executivo.
(Por André Romani)