08/04/2015 - 17:12
O Brasil teve lugar de honra no anúncio da fusão entre a anglo-holandesa Shell e a britânica BG, nesta quarta-feira 8. O negócio, que deve ser concluído até o início de 2016, criará uma petroleira com vários números superlativos. O acordo, envolvendo ações e dinheiro, soma 47 bilhões de libras, cerca de US$ 69 bilhões. Com base nos números combinados de 2014, a megacompanhia seria a maior do setor em geração de caixa operacional, com US$ 52 bilhões por ano. Teria a segunda maior produção diária, 3,7 milhões de barris equivalentes. Suas reservas alcançariam 17 bilhões de barris.
A futura superpetroleira conta, e muito, com o Brasil para alcançar esse sucesso. É por isso que o País foi citado 12 vezes, durante a apresentação do negócio pela cúpula das empresas. Para se ter uma idéia, o número equivale às menções, somadas, a Estados Unidos, Tanzânia, Canadá, África, México e Nigéria. A Austrália, segundo país mais lembrado, recebeu seis referências. Além disso, a Petrobras mereceu destaque em três ocasiões.
A repetida lembrança do Brasil é justificada pelos números. Juntas, a Shell e a BG se tornarão a principal parceira da Petrobras na exploração e operação dos campos do pré-sal. Nesse ponto, a principal contribuição virá dos ativos da BG. No ano passado, a produção da britânica na Bacia de Santos alcançou 78 mil barris por dia. O volume subiu para 130 mil em janeiro. Com isso, o Brasil já é o maior país, em produção, para a petroleira. “Estamos confiantes de que a produção continuará crescendo neste ano e nos demais”, afirmou Andrew Gould, o presidente do conselho de administração da BG, durante sua apresentação.
Centenária
Já a Shell está há 100 anos no País, sendo mais conhecida pela rede de postos com sua marca, administrada pela Raízen, uma parceria com a Cosan. Na área de exploração e produção, empresa extrai, atualmente, cerca de 50 mil barris diários na Bacia de Santos. A anglo-holandesa entrou no mercado de águas profundas do Brasil nos anos 90. Em 2013, pagou US$ 1,4 bilhão para participar da exploração do Campo de Libra, no pré-sal, como parceira da Petrobras. O potencial de expansão das empresas, nas águas profundas brasileiras, é grande. Juntas, até o fim da década, a expectativa é que alcancem uma produção de 550 mil barris diários. “Este é um passo bastante complementar, em uma área lucrativa”, afirmou Ben Van Beudern, CEO da Shell.
As operações podem crescer muito mais. Segundo a apresentação desta quarta-feira 8, até o fim da década, a produção combinada de Shell e BG deve chegar a quase 600 mil barris diários. Ambas possuem participações estratégicas na Bacia de Santos. Somente a fatia da BG nos campos de Iara, Lapa, Sapinhoá e Lula é estimada em 3,5 bilhões de barris. Já a Shell participa da exploração de três campos, numa área cuja reserva potencial é estimada, pela Agência Nacional de Petróleo, entre 8 a 12 bilhões de barris.
A fusão entre as duas deve gerar, ainda, ganhos de sinergia de US$ 2,5 bilhões até 2018. Trata-se da economia que as operações combinadas gerarão, como o melhor aproveitamento de equipamentos, compras conjuntas, enxugamento de pessoal e melhores fretes. Também nesse tema, o Brasil terá um papel de destaque. Segundo Simon Henry, diretor financeiro da Shell, uma das fontes de sinergia será a revisão de algumas operações “subaproveitadas” da BG no Brasil. “Precisamos reorganizar nossas prioridades”, disse.
Sombra
Não ficou claro, porém, se isso significaria a venda de algum ativo no Brasil. Com a fusão, a nova empresa planeja se desfazer do equivalente a US$ 30 bilhões em ativos, entre 2016 e 2018. O ritmo de investimentos orgânicos também deve ser reduzido para menos de US$ 40 bilhões por ano, a partir de 2016.
Na posição de maior parceira da Petrobras no País, a dobradinha Shell-BG corre o risco de ser atrapalhada pela paralisia da estatal, abatida pela corrupção descoberta pela Operação Lava Jato. “O Brasil, com certeza, é um peso para qualquer acordo”, afirmou, sob condição de anonimato, um banqueiro de Londres à agência de notícias Reuters. A maior preocupação dos observadores externos é que a Petrobras continue atrasando pagamentos a parceiros e fornecedores, além de cancelar ou postergar novos projetos. Ver um parceiro estratégico, como a empresa brasileira, se transformar em um megaproblema, com certeza, não está nos planos de ninguém, nesta megafusão.