A desconfiança sobre a qualidade de produtos chineses é coisa do passado. E isso vale também para a indústria de motocicletas. As montadoras de duas rodas caíram no gosto dos consumidores. A Shineray é um exemplo. Com 17 anos de atuação no País, a marca alcançou a terceira colocação no mercado. Em termos de share, é uma participação que parece residual, de 1,65% até abril. Mas suficiente para a companhia projetar roubar a vice-liderança da japonesa Yamaha (17,5%) em três anos — a também nipônica Honda lidera isoladamente (75,4%). Investimentos em produtos, além do preço, são as apostas da bandeira para atingir o objetivo, como afirmou à DINHEIRO Thomas Edson, diretor de supply chain da Shineray. “Faturamos R$ 250 milhões em 2021. Este ano tudo indica que iremos dobrar esse montante.”

A “variedade de modelos e os preços bem atrativos” são diferenciais apontados pelo executivo para o crescimento da Shineray e fazem parte da estratégia para garantir a primeira colocação no segmento elétrico, no qual a companhia tem dominado os principais lançamentos. “Mesmo desenvolvendo grandes motos, a Shineray tem a filosofia de que precisa ter o preço mais acessível para o cliente brasileiro”, afirmou Edson, que comanda a operação no País. Suas motos custam a partir de R$ 8,4 mil. “Buscamos ganhar no volume.”

A aposta no segmento eletrificado tem sido alta. Em 2020, a empresa deu início à linha de patinetes. “Fizemos um teste de mercado e enxergamos um potencial muito grande”, disse o executivo. A bandeira trabalha atualmente com 13 modelos e planeja fechar o ano com 16. Os preços partem de R$ 1,8 mil.

EXPANSÃO INDUSTRIAL Empresa pretende construir uma terceira linha de produção em Pernambuco. (Crédito:Divulgação)

Na linha de scooters, a chinesa tem quatro versões, com preços a partir de R$ 12,9 mil. São modelos com motor de 2.000 watts e bateria com autonomia para 60 quilômetros (modelos SE1 e SE2) e 80 quilômetros (A SE3). A empresa promete ainda para 2022 a chegada da SE2 Plus, modelo com motorização de 3.000 watts e a possibilidade de utilização de duas baterias. No portfólio de veículos elétricos lançou este ano a moto She-S, uma aposta de Edson para o mercado nacional por causa da combinação de autonomia (80 quilômetros), velocidade (até 90 km/h) e preço (R$ 19.990). Para a linha premium a montadora desenvolve a e-Jef, com motorização de 4.000 watts, velocidade de 120 km/h e autonomia de até 200 quilômetros. “E estamos desenvolvendo a primeira moto do estilo trail, off-road, que não existe no mercado brasileiro.” O modelo, a Setrail, deve ser lançado no segundo semestre.

Apesar do investimento constante da companhia em eletrificação, o segmento de motos a combustão segue como prioridade no planejamento, por representar 80% dos negócios. A Shineray planeja para este mês o lançamento de duas motos de 150cc, um modelo street e outro trail, além de outra de mesma potência para o mês de agosto, com preço abaixo de R$ 8 mil. “Acho que vai ser uma moto bastante competitiva no mercado. Quero fechar o portfólio este ano com oito modelos da linha a combustão.” Um dos carros-chefe do segmento é a Worker, de 125cc e tanque com capacidade para 14 litros. O preço parte de R$ 7 mil.

EXPANSÃO COMERCIAL Responsável por 50% das vendas, São Paulo deve fechar o ano com 20 lojas da marca. (Crédito:Divulgação)

MERCADO O avanço da Shineray nos dois segmentos tem se mostrado acertado. Pelos números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, a empresa fechou 2021 na terceira colocação no mercado nacional, com 13,7 mil unidades emplacadas. Estava em quinto em 2020 (7,6 mil) e em sexto no ano de 2019 (9,5 mil). A Honda foi a líder no triênio, com 882 mil, 711 mil e 853 mil, respectivamente, seguida pela também japonesa Yamaha (201 mil, 142 mil e 151 mil nos três anos). O executivo da chinesa, diz que no ano passado a Shineray comercializou quase 27 mil unidades. “O problema é que somos muito fortes em vendas na linha de cinquentinhas em várias regiões do Brasil, principalmente no interior, onde as pessoas acabam não emplacando as motos.” Ele diz que para este ano a expectativa é vender 55 mil.

São Paulo responde por 50% dos negócios da empresa. De olho nesse filão, há plano para expansão do número de lojas no estado de duas para 20 até o fim do ano. Pelo País são cinco lojas próprias e a ideia de alcançar 100 no intervalo de três a cinco anos. O crescimento contínuo faz Edson sonhar com a vice-liderança do mercado nacional. “Pelo projeto e pelo trabalho que estamos fazendo no Brasil acredito que em um futuro bem próximo vamos bater em torno de 15 mil a 20 mil motos por mês.”

Pelo menos 80% das partes e peças utilizadas na produção das motocicletas são provenientes da China. O restante é adquirido no mercado nacional. A Shineray não teve problemas de abastecimento de suprimentos em decorrência da Covid-19 e agora da guerra entre Rússia e Ucrânia. Apenas atrasos pontuais por causa da dificuldade no frete internacional. “Fizemos compras grandes já imaginando exatamente uma venda de seis meses. Quando temos problema de atraso, não dura 15 dias.”

PRODUÇÃO Para dar conta do aumento da demanda a montadora programa a expansão da fábrica em Suape (PE). Atualmente, a Shineray produz cerca de 700 unidades por dia em duas linhas de produção — uma exclusiva para modelos a combustão e outra dividida com a elétrica. A ideia é construir outra linha até o final do ano. A capacidade de produção diária atual é de 2 mil unidades. A empresa tem 370 colaboradores pelo País, sendo 120 na planta nordestina, contingente que deverá chegar a 300 até dezembro. A operação brasileira é a maior e mais importante da Shineray fora da China e segue acelerando para chegar mais rápido ao destino mais distante.