19/09/2014 - 20:00
Uma das provocações mais bem humoradas aos habitantes de São Paulo, feitas pelos brasileiros de diversas regiões litorâneas, é dizer que praia de paulista é o shopping center. De fato, há poucos lugares mais frequentados, faça chuva ou faça sol, nos fins de semana e feriados na maior metrópole do País. Motivo de gozação para uns, esse hábito arraigado tem sido uma bênção e um propulsor dos negócios comandados pelo paulistano Carlos Jereissati Filho. Herdeiro do empresário cearense Carlos Jeireissati, Carlinhos, como é mais conhecido, comanda a Iguatemi Empresa de Shopping Centers, o maior conglomerado de centros de compra de luxo do País.
Entre suas joias, figuram o mais antigo shopping da cidade, o Iguatemi São Paulo, fundado em 1966, e mais 14 estabelecimentos, entre eles o JK Iguatemi, também na capital paulista. Dez deles estão localizados no Estado de São Paulo. A expansão recente da empresa é notável. Nenhuma grande companhia brasileira do setor – que inclui também BR Malls, Multiplan e Aliansce, entre as cotadas na Bovespa – aumentou tanto a sua área locável, no último ano, quanto a Iguatemi. A empresa – que é a terceira maior em receitas com locação e administração, com R$ 275 milhões no primeiro semestre do ano – ampliou em 50% a sua área bruta locável, entre o primeiro semestre de 2013 e o mesmo período deste ano.
Dessa forma, ganhou 142 mil m2 de área, para atingir o total de 425 mil m2 disponíveis. Isso aconteceu através da construção de dois novos empreendimentos, que demandaram investimentos de R$ 550 milhões, além da ampliação de espaços e do aumento de participação em seus centros de compra existentes. No fim de 2013, ano em que faturou R$ 464 milhões, a companhia inaugurou o Iguatemi Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e ampliou outros centros em Sorocaba (SP) e Porto Alegre. Em abril deste ano, foi a vez de abrir as portas do Iguatemi São José do Rio Preto, também no interior paulista.
Trata-se de um volume de atividade e tanto para um setor que fecha um ciclo acelerado de inaugurações, mantido nos últimos cinco anos, e que agora enfrenta um momento de retração de consumo. Como os projetos costumam levar pelo menos dois anos para sair do papel, o “timing” de finalização dos últimos shoppings da Iguatemi não foi dos melhores. No entanto, Jereissati Filho minimiza o problema. “Esses investimentos são de longo prazo, não são os dois primeiros anos que definem o sucesso de um empreendimento”, afirma.
Mais do que o excesso de inaugurações recentes do setor, o que desagrada aos grandes lojistas é que muitos dos novos empreendimentos foram erguidos em locais que já eram atendidos por outros shoppings. “Quando há superposição na mesma região, com um shopping de frente para outro, ninguém cede, achando que tem o melhor projeto. Então, o público se divide e sobram dois projetos ruins”, afirma Pedro Roberto de Siqueira, diretor-executivo das lojas Riachuelo. “Assim, todos nós, lojistas, perdemos.” Movimentos como esse descrito lembram iniciativas do tipo no qual a família Jereissati se especializou, desde que o Market Place foi inaugurado em São Paulo, em frente ao Morumbi Shopping, do grupo Multiplan, no início dos anos 1990.
“Fomos os primeiros a colocar empreendimentos próximos a outros já existentes”, afirma Jereissati Filho. “Fazer isso em São Paulo é uma coisa, em uma cidade de menor porte, é outra”. Mesmo com a experiência adquirida nas últimas décadas, a Iguatemi tem enfrentado as duas realidades em suas últimas ações. A companhia foi responsável por um dos sucessos recentes mais estrondosos na categoria de shoppings de luxo, com o JK Iguatemi, inaugurado em 2012, em São Paulo. Além de atrair uma série de lojas estrangeiras inéditas na América do Sul, como as das marcas Coach, Dolce & Gabbana, Lanvin e Sephora, ele permitiu à empresa alugar espaços por valor cheio, sem a necessidade de fazer descontos para os lojistas nos primeiros meses – uma prática comum no mercado.
E, mesmo com o sucesso instantâneo, a iniciativa ainda demonstra forte potencial de expansão de receita. As torres comerciais do empreendimento, quando estiverem ocupadas, farão com que até 30 mil pessoas circulem diariamente pelo local. O grupo também foi bem-sucedido em pouco tempo com o novo shopping Iguatemi em São José do Rio Preto. Mesmo tendo a sua inauguração antecipada em seis meses, o lugar abriu as suas portas com mais de 80% de espaço de lojas em operação. Já o empreendimento em Ribeirão Preto sofreu com um início mais difícil e corredores vazios.
“Eles abriram o empreendimento em uma cidade que já contava com dois locais bem estabelecidos, sendo que o mais próximo, da Multiplan, fica a menos de 2 quilômetros de distância, e havia acabado de passar por uma expansão”, diz um acionista de uma importante administradora do setor. Maturado o plano de investimentos, a família Jereissati deverá dar um tempo nos grandes empreendimentos. Apenas um novo shopping foi anunciado, para 2017, em Jundiaí (SP). Além disso, Jereissati afirmou, em conferência com os analistas do mercado, em agosto, que irá guardar novos anúncios para um momento de recuperação da economia brasileira.
Seu esforço principal agora se concentra em melhorar a rentabilidade do Grupo Iguatemi, para atingir uma margem de Ebitda entre 72% e 75%, meta que os seus executivos acreditam que será tranquilamente alcançada neste ano. Ao mesmo tempo, dois outlets estão sendo preparados, em Santa Catarina e em Minas Gerais, para entrar em operação até 2016. Esse tipo de investimento se justifica, de acordo com ele, por serem projetos de menor custo, construídos em áreas planas, que não exigem a instalação de dispendiosos sistemas de ar-condicionado. “Passadas as turbulências, o setor tem todas as condições de retomar o crescimento, principalmente nas médias cidades brasileiras”, diz Jereissati. “A partir de 200 mil habitantes, há espaço para pelo menos um shopping.”