O shopping center mais antigo da América Latina passa por uma remodelação. O Iguatemi São Paulo ganhará teatro, rooftop, novas lojas de grife e restaurantes. As obras começaram no ano passado e vão acelerar neste ano. A entrega será em 2026, quando o empreendimento completará 60 anos.

As novidades foram compartilhadas pela presidente do Iguatemi, Cristina Betts, durante teleconferência com investidores e analistas nesta quarta-feira, 19. “Queremos inaugurar tudo isso em 2026, no aniversário de 60 anos. O ponto de comemoração será o rooftop”, contou. A executiva disse que o movimento do shopping é intenso e que a falta de mais restaurantes se tornou um gargalo a ser resolvido.

O projeto abrange um teatro com 250 assentos, que deverá ser usado para apresentações e eventos corporativos. O local deve ser inaugurado ainda neste semestre.

O rooftop, na parte voltada ao estacionamento arborizado nos fundos, ficará para o ano que vem e contará com novos restaurantes e lojas. A área será conectada por um novo conjunto de escadas rolantes e exigirá um acerto no teto do shopping.

Efeito Tiffany

Com as mudanças estruturais, o grupo busca revitalizar o shopping. Um dos pontos centrais será atrair outras flagships – lojas que servem de referências para suas redes. No ano passado, já foi feita uma mudança de lugar na praça de alimentação, que abriu espaço para a troca de lojistas. A mais importante foi a inauguração da primeira flagship da Tifanny na América Latina. A joalheria já estava no shopping, numa área frontal. Após a mudança, ganhou um espaço maior no miolo do empreendimento, inaugurado em dezembro.

“A Tiffany teve uma venda absurda. No mês de dezembro, ela vendeu mais do que muitos shoppings vendem no ano”, comentou Betts. “Foi uma loucura a nova abertura da Tiffany.”

Fila de espera de lojistas

Dono de uma rede de 16 shoppings, o Iguatemi tem uma fila de espera de lojistas interessados em entrar nos seus empreendimentos, o que permitirá à companhia ser mais “dura” na escolha dos novos varejistas e daqueles que permanecerão.

A empresa encerrou 2024 com 97,7% da área dos seus shoppings ocupada. O patamar é recorde e representa um crescimento expressivo na comparação com o fim de 2023, quando estava em 93,3%.

“Nunca nos rendemos a ocupar a área vaga com lojas de pouca qualificação. Apanhamos bastante nos últimos trimestres, mas valeu a pena”, afirmou Cristina. “Agora temos pouco espaço e temos de ser mais efetivos em fazer o churn (desligamento) de quem está menos produtivo”, disse, se referindo aos lojistas que têm um baixo índice de vendas por metro quadrado.

A ideia, segundo ela, é substituir esses comércios por outros com maior potencial de vendas e atração de clientes. Isso, no futuro, ajudará o grupo a ampliar também a receita com locação. “Temos de lutar pelos espaços”, disse.

A executiva citou ainda que os descontos nos aluguéis já foram quase totalmente removidos, representando cerca de 3% da receita de locação, menor patamar da história.

A presidente do Iguatemi destacou ainda o bom desempenho das vendas da rede de shoppings, que tiveram aumento de 19,2% em 2024 e seguiram fortes neste começo de ano, subindo cerca de 10% em janeiro.

“A explosão das vendas têm a ver com maior ocupação dos shoppings e qualificação dos lojistas”, explicou. Outro destaque foi o desempenho das vendas das marcas de luxo, cujo desempenho tem sido “estelar”, conforme suas palavras.

Em 2024, o Iguatemi teve um lucro líquido ajustado de R$ 399,4 milhões, avanço de 31,1% ante 2023. Já a margem líquida ajustada no ano foi a 37,6%, melhora de 6 pontos porcentuais. O crescimento do lucro do Iguatemi está relacionado, principalmente, à expansão no faturamento dos shoppings e do seu braço de varejo, segundo a empresa.

“Apesar do macro volátil, continuamos a ter demanda forte por nossos produtos e serviços”, ressaltou Cristina, lembrando que os clientes que frequentam a rede têm poder aquisitivo elevado e sofrem menos com os problemas da economia do que outros consumidores.

Segundo ela, há uma migração de redes varejistas para os empreendimentos de maior qualidade. Nesse sentido, o Iguatemi tem se beneficiado, uma vez que seus shoppings são referência de mercado.

Venda de ativos

A presidente do Iguatemi reafirmou que a empresa está avaliando possibilidades de venda de ativos. A companhia já havia mencionado a intenção de realizar potencias vendas de participações em shoppings do seu portfólio com o intuito de levantar recursos para fazer frente às aquisições dos shoppings Pátio Higienópolis e Pátio Paulista – que envolveu R$ 2,58 bilhões, dos quais R$ 550 milhões cabem ao Iguatemi. O restante será dividido entre os outros integrantes do consórcio comprador.

“Estamos olhando possibilidades”, disse ela, ressaltando que não iria citar quais ativos poderiam ser negociados.

O Estadão/Broadcast apurou com nomes do mercado que o Iguatemi já vem articulando, desde o final de 2024, a venda de participações em dois empreendimentos, a fim de levantar cerca de R$ 300 milhões.

Cristina observou ainda que uma eventual venda só faz sentido se for com pagamento em dinheiro e que a empresa não tem interesse em receber em cotas de fundos. Se o objetivo é liquidez e controle do endividamento, um pagamento em cotas só serviria para “inglês ver”, disse.