Nos últimos 158 anos, a alemã Siemens teve somente dez presidentes. Klaus Kleinfeld, o atual, foi empossado em janeiro deste ano, depois de passar com sucesso pela subsidiária americana. Na semana passada, o comandante da terceira maior empresa de eletrônicos do mundo ? atrás de GE e IBM ? enfrentou sua primeira prova de fogo. Ele apresentou ao Conselho de Administração um plano para estancar as perdas da ?maçã podre? da Siemens, a sua divisão de celulares, que está atolada em prejuízos e crescentes quedas de participação de mercado.

?Inaceitável?, é como Kleinfeld se referiu à situação na reunião do Conselho, para depois sugerir uma estratégia bem simples: livrar-se da ?maçã podre?. A divisão de celulares da Siemens passará para as mãos da BenQ, uma potência taiwanesa de eletroeletrônicos com forte presença na Ásia, mas desconhecida no Ocidente. O negócio, a ser concluído até setembro, é o típico acordo ?porteira fechada?. A BenQ vai levar tudo. Absorverá os departamentos de vendas, marketing, as três fábricas (na Alemanha, na China e em Manaus), contratos de patrocínio esportivo, como o com o Real Madrid, e todos os seis mil funcionários ? incluindo 500 brasileiros. Pelo acordo, os alemães adquirem 2,5% do capital da BenQ, comprando ações no valor de 50 milhões de euros. Ainda gastarão outros 300 milhões de euros no processo de transição. Os taiwaneses, acredite, não desembolsarão nenhum centavo. Isso mesmo. Na prática, a Siemens pagou para a BenQ levar sua complicada divisão de celulares. Os asiáticos, obviamente, adoraram.

Fundada em 1984, a BenQ faturou US$ 5 bilhões no ano passado, fabricando monitores, câmeras fotográficas digitais e sistemas de armazenamento de dados. Com o acordo, ela dobra de tamanho e salta de uma relativa posição de obscuridade para a lista das dez maiores fabricantes mundiais de celulares. ?Nossa estratégia de expansão será fortemente suportada por este acordo, pois podemos contar com uma organização global que tem uma marca forte com alto impacto?, afirmou K.Y. Lee, presidente da BenQ. A companhia terá o direito de usar a marca e o nome Siemens em celulares por cinco anos. E, de maneira bem estruturada, passa a ter portas abertas nos mercados da Europa e da América Latina.

No Brasil, tudo bem. Na segunda-feira 6, DINHEIRO conversou com o diretor corporativo da Siemens, Michael Roschmann, na unidade industrial de Erlangen (400 km de Berlim). ?Estou certo que o negócio não afetará a produção de celulares no Brasil?, disse. Segundo ele, a fábrica de Manaus tem importância estratégica para abastecer o mercado brasileiro, a América Latina e os Estados Unidos. Em outras palavras: a falta de competitividade da Siemens está relacionada diretamente aos altos custos de produção da fábrica alemã. No Brasil, a unidade Mobile Phones vai bem. A marca é uma das três primeiras em vendas no País, triplicou a capacidade da planta de Manaus em 2004 e planeja lançar dez novos celulares este ano.

As finanças do grupo Siemens têm apresentado bons índices, ao contrário da divisão de celulares (leia os quadros acima). Espera-se, após a conclusão do negócio, que a nova Siemens Mobile trabalhe com maior agilidade para encurtar os ciclos de lançamentos e ponha em prática a opção de terceirizar a produção, reduzindo os custos de mão-de-obra. Do lado de lá, nenhuma empresa poderia ter um perfil tão adequado: 60% das vendas da BenQ correspondem a encomendas feitas por grandes fabricantes. A empresa espera equilibrar as contas da nova empresa já em 2006.

MAU RESULTADOS COM CELULARES

 

? 281 milhões foi o prejuízo da divisão de celulares entre outubro de 2004 e março de 2005.

5,5% é a atual participação da marca alemã no mercado mundial de celulares. Em 2004, era de 8%.

BOAS NOTÍCIAS DO RESTO DO MUNDO

 

75,2 bilhões foi o faturamento total do grupo no último exercício fiscal.

3,4 bilhões foi o lucro líquido (aumento de 39,3%)

DE TAIWAN PARA O MUNDO
Quem é desconhecida BenQ, a nova dona dos celulares da Siemens

 

Fundação: 1984

Faturamento: US$ 5 bilhões (2004)

Funcionários: 15 mil

Fábricas: 4 (Taiwan, México, China e Malásia)

Produtos: monitores, câmeras digitais, sistemas de armazenamento, MP3 players, laptops, scanners.