Pedro Nora vive em Florianópolis e é torcedor fanático do Avaí. Na quarta-feira 28, sua dúvida não estava relacionada ao confronto do time na próxima rodada do Campeonato Brasileiro, mas a quando seria a teleconferência de resultados da fabricante de motores elétricos Weg. 

 

Nora “twittou” para a empresa e a pergunta chegou para o gerente de relações com investidores, Luis Fernando de Oliveira (endereço: @weg_ir). A resposta, no limite de 140 caracteres, foi escrita às 8h30 e dizia que às 13 horas do dia seguinte seria feita a apresentação aberta a todos os interessados. 

 

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“Divulgamos todos os meses a participação das companhias aéreas no mercado”

Rodrigo Alves, gerente de RI da Gol

 

Essa troca de mensagens demonstra que a interação entre o departamento de relações com os investidores e os acionistas está mais frequente com a popularização das mídias sociais. O número de brasileiros plugados em alguma dessas inúmeras redes – Twitter, Facebook, LinkedIn e Flickr, além do já tradicional Orkut – cresce de forma acelerada e sem sinais de arrefecimento. 

 

Mas a pergunta que interessa aos investidores é a seguinte: vale a pena dedicar tempo para acompanhar sua empresa nas mídias sociais? Segundo os especialistas, a resposta é positiva. No mar de informações que é a internet, as redes sociais acabam ajudando o investidor a filtrar o que interessa e sentir o pulso do mercado. 

 

“Essas mídias são uma ótima maneira de o internauta ficar informado sobre a companhia em que investe”, diz Mariela Castro (@marielacastro), especialista em relações com investidores e sócia da Communication Advisors. Isso ocorre porque as cotações nada mais são do que o resultado das expectativas – boas ou ruins – sobre uma empresa.  

 

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“Muitos investidores participam e mostram que entendem o nosso negócio”

Luis de Oliveira, gerente de RI da Weg

 

Boa parte dos movimentos de alta ou de baixa é provocada porque essas expectativas melhoram ou pioram, e essas mudanças podem ocorrer em questão de segundos. A internet torna mais fácil detectar as alterações de humor. Mas esse não pode ser o único canal de informação para um investidor. 

 

“As companhias brasileiras precisam trabalhar com mais afinco suas mídias sociais”, afirma Fabiane Goldstein (@fabi_gold), que trabalhou com relações com investidores no Citibank, no Chase Manhattan e no Unibanco e há quatro meses criou uma consultoria especializada no tema. Ou seja, as empresas têm uma tremenda ferramenta para falar com seus acionistas, mas ainda não sabem como usá-la.

 

O Twitter permite, por exemplo, que o investidor seja informado todas as vezes em que a empresa distribui um comunicado ao mercado por meio da Comissão de Valores Mobiliários. Também é possível colher informações gerais que interessam aos acionistas e que, de outra forma, seriam mais difíceis de obter. 

 

“Não informamos nossos acionistas das cotações diárias de fechamento das ações, pois essa informação é muito fácil de obter e não agrega valor”, diz Rodrigo Alves, gerente- geral de relações com investidores da Gol. “No entanto, divulgamos todos os meses a participação das companhias aéreas no mercado.”  Publicada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), esse percentual é uma informação relevante para o desempenho das ações de qualquer empresa do setor e a Gol reproduziu no seu Twitter de 14 de julho um link para o balanço de junho. 

 

Já a Weg convoca seus acionistas para participar das assembleias pelo Twitter, possibilitando o envio de perguntas dos 700 seguidores. “Muitos investidores participam e mostram que entendem bem o nosso negócio”, diz Oliveira, que cuida pessoalmente de todas as mensagens e escreve em inglês e português. 

 

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“É mais inteligente manter um contato direto com o investidor dessa maneira.” Quem estiver em busca de barbadas, informações privilegiadas e fofocas quentíssimas vai se decepcionar. Tudo o que é publicado é cuidadosamente selecionado. 

 

“A coerência do sigilo é válida em todas as mídias. Somente as estratégias públicas é que estarão no Twitter ou em uma reunião de analistas”, afirma Mariela Castro. Na Gol, essas normas são seguidas à risca. Por exemplo, relatórios de analistas de investimentos ficam de fora. 

 

“Uma análise positiva ou negativa sempre tem prós e contras. Não divulgamos relatórios ou notas de agências de classificação de risco”, diz Alves, que abriu contas desde o Facebook até o LinkedIn. O Twitter (@golinvest) tem 1,3 mil seguidores e é escrito apenas em inglês. Isso porque mais de dois terços dos acionistas são estrangeiros.

 

As grandes empresas têm sido mais arredias às mídias sociais. Das cinco ações que movimentam o maior volume financeiro diário na bolsa – Vale, Petrobras, BM&FBovespa, Itaú Unibanco e Bradesco –, apenas os bancos possuem conta no Twitter. O Itaú (@itauunibanco_ri) tem 1,3 mil seguidores e coloca apenas informações sobre o valor da ação. 

 

Já os 900 seguidores do Bradesco (@Bradesco_ri) recebem informações sobre teleconferência e relatórios. Na terça-feira 27, às 9h55, todos foram alertados sobre as alterações na nova diretoria do banco com um “twitte”. A dificuldade das empresas tem sido entender qual é a dose de informação ideal. Cabe ao investidor separar o joio ainda abundante do trigo, que por enquanto é escasso.