Pelos corredores do Grupo Silvio Santos é comum se ouvir que Silvio Santos é o tipo de empresário que não dá ponto sem nó. Não deixa de ser verdade. Afinal, o ex-camelô Senor Abravanel precisou de apenas três décadas para erguer um império cuja receita atinge R$ 2,5 bilhões. Sua atuação vai desde o segmento de mídia (o SBT), finanças (o Banco PanAmericano), entretenimento e construção civil até a venda de carnês (do Baú da Felicidade). Apesar disso, o empresário jamais conseguiu ser bem-sucedido no varejo. E é exatamente isso que o ?patrão? quer corrigir. Com um investimento de R$ 30 milhões, ele espera se consolidar em dois setores: cosméticos e lojas de departamento. Para entrar no mercado de Avon e Natura (na área de cosméticos) e de Casas Bahia e Marabraz (no ramo de móveis e eletroeletrônicos), os executivos do grupo pretendem abusar da sinergia com o braço financeiro e o SBT. A divisão de cosméticos, por exemplo, já está praticamente estruturada, graças à compra da empresa Hydrogen por R$ 8 milhões. Silvio vai gastar outros R$ 4 milhões na ampliação da gama de produtos, até agora focada em artigos infantis (xampu, condicionador e sabonete).

Quem comanda essa subsidiária é Juracy Monteiro. Engenheira com especialização em finanças, ela trabalhou 12 anos na Vale do Rio Doce e há três anos migrou para o segmento de beleza. Segundo ela, o modelo de negócio do Grupo SS terá duas vertentes: a comercialização de itens da Hydrogen no varejo convencional e a venda porta-a-porta (com outra marca, ainda em processo de escolha), que começa em setembro. A opção pelos dois modelos de venda (direta e varejo) não foi fruto do acaso. Eles crescem na faixa de 20%, e no caso da venda direta já movimenta R$ 12,4 bilhões por ano no Brasil ? de acordo com a ABEVD, associação que reúne o setor. ?Mas apenas a força do Grupo Silvio Santos não é garantia de sucesso?, diz o consultor Marcelo Pinheiro, da DirectBiz. ?O Gugu Liberato (do SBT) não conseguiu emplacar sua marca na venda por catálogo.?

 

Palladino, vice-presidente:
Volta ao segmento de móveis e eletroeletrônicos.

Se os cosméticos representam um novo desafio para o ?patrão?, não se pode dizer o mesmo da área de varejo. Em 1989, o grupo saiu de cena ao repassar as 27 lojas Tamacavi (de móveis populares) para as Casas Bahia. Segundo Rafael Palladino, vice-presidente do grupo SS, eles aprenderam a lição. ?Nesse caso, faltou um nome forte para impulsionar as vendas?, argumenta. Foi por isso que, em vez de lançar uma nova bandeira, eles optaram pela conversão das Lojas do Baú da Felicidade, que até aqui atuavam basicamente na troca de produtos pelo carnê. Para atrair os consumidores, a rede vai se aliar ao Banco PanAmericano. ?Trata-se de uma combinação perfeita de público cativo com o serviço de concessão de crédito para pessoas de baixa renda?, diz a consultora Heloisa Omine, da Shopfitting. Ela alerta, porém, que será preciso reunir um mix de produtos que atenda aos anseios do cliente típico do Baú sem fechar a porta aos demais.

É por isso que, antes de gastar R$ 3 milhões na transformação de metade das 36 lojas da rede, Palladino optou por testar a fórmula na unidade da rua Libero Badaró, região central de São Paulo. Desde junho, TVs, DVDs, máquinas de lavar e artigos de cama e mesa dividem espaço com as quinquilharias (utilidades do lar) usadas no resgate do carnê do Baú. Todo cuidado é pouco nos novos projetos do patrão.

 

Beleza, patrão! Juracy (acima) vai cuidar da divisão de cosméticos. No varejo (abaixo), as Lojas do Baú serão remodeladas