10/09/2025 - 11:12
Estudo indica que estátua de leão alado localizada na Praça São Marcos pode ter sido fabricada na China e teria chegado à cidade italiana graças à família de Marco Polo.O Leão de São Marcos, a icônica escultura que simboliza a cidade de Veneza, na Itália, teria sido trazido da China durante uma viagem que possivelmente envolveu o pai do explorador Marco Polo, segundo um estudo publicado no início de setembro na revista especializada Antiquity.
Todos os anos, milhões de pessoas caminham sob o Leão de Veneza, a antiga escultura de bronze que contempla a lagoa do alto de uma coluna na icônica Praça São Marco, um dos pontos turísticos mais frequentados da cidade, conhecida por seus canais. Entretanto, grande parte da história deste ícone da antiga República de Veneza permanece envolta em mistério.
A peça apresenta sinais de ter tido outra vida antes de ser instalada ao lado da Basílica de São Marcos e do Palácio Ducal. Ela passou por transformações ao longo dos anos. Com o tempo, suas orelhas foram cortadas, suas asas modificadas e chifres que possuía foram removidos.
“Não sabemos quando a escultura chegou a Veneza, onde foi modificada, quem a fez ou quando foi erguida na coluna onde ainda é visível hoje”, diz Massimo Vidale, arqueólogo da Universidade de Pádua e coautor de um novo estudo.
Testes de isótopos remetem a bacia hidrográfica na China
O único documento histórico que a menciona data de 1293, quando já estava danificada e em reparos. Segundo pesquisas, a coluna de granito violeta sobre a qual se ergue pode ter sido saqueada de Constantinopla (atual Istambul) e chegado a Veneza pouco antes de 1261.
Para rastrear sua origem da estátua, cientistas italianos analisaram isótopos de chumbo em amostras coletadas durante uma restauração em 1990. O estudo revelou que o cobre usado na peça era proveniente da bacia do rio Yangtze, na China. Até então, acreditava-se que o leão teria sido produzido em Veneza no século 12 ou em alguma região da Anatólia ou Síria.
Seria um leão ou um zhenmushou?
A descoberta também sugere que a peça pode não ser um leão. Segundo especialistas, ela se assemelha mais a esculturas chinesas de guardiões de túmulos chamadas zhenmushou, da Dinastia Tang (618-907 d.C.). “Essas criaturas híbridas compartilham focinhos leoninos, crinas flamejantes, chifres e asas erguidas presas aos ombros, orelhas pontudas e eretas e, às vezes, características faciais parcialmente humanizadas”, argumentam os autores do estudo.
Embora feitas de materiais diferentes, as esculturas zhenmushou ainda preservadas apresentam uma forte semelhança com o Leão de Veneza, especialmente seu “nariz bulboso”.
Mas, como ele foi parar em Veneza? Uma hipótese é que fazia parte da bagagem de Niccolò e Maffeo Polo, pai e tio do famoso explorador Marco Polo. Por volta de 1265, os mercadores visitaram a corte do imperador mongol Kublai Khan em Khanbaliq, atual Pequim, onde podem ter encontrado a peça.
Naqueles anos, a República de Veneza adotou o leão como seu símbolo, e “os Polo podem ter tido a ideia um tanto ousada de transformar a escultura em um leão alado [quando visto à distância]”, diz o estudo. Pesquisadores também consideram possível que a enigmática estátua tenha sido enviada a Veneza através da Rota da Seda.
Mas essa não foi a única viagem que esta estrutura de bronze realizou. Após a queda da República de Veneza em 1797, o general francês Napoleão Bonaparte levou o leão alado para Paris. Fragmentado, ele só retornou à cidade em 1815.
rc/cn (DW, ots)