13/02/2021 - 13:15
Atenta ao crescente número de investidores que querem ver o patrimônio render, mas de forma responsável, a Simpar fez nesta semana uma emissão de bônus em reais no mercado internacional atrelados a metas de sustentabilidade. O grupo que controla seis empresas, entre as quais JSL, Original, Movida e Vamos, tinha intenção de oferecer R$ 300 milhões, mas captou R$ 450 milhões.
Foi a primeira operação desse tipo por uma empresa brasileira desde 2013, quando a BRF, do setor de alimentação, lançou papéis em reais com liquidação em dólares, mas sem o viés sustentável, informa Denys Marc Ferrez, diretor de Relações com Investidores da Simpar.
Segundo ele, grandes investidores interessados no negócio não puderam ser atendidos. “Não conseguimos acomodar esses investidores e acho que ficou aberta uma janela para quem mais quiser fazer emissões em reais no exterior vinculadas ao tema da sustentabilidade”, afirma.
A operação foi coordenada pelo Morgan Stanley com taxa prefixada em 10,75% ao ano para facilitar o entendimento do investidor estrangeiro, mas, simultaneamente ao fechamento da transação foi substituída para taxa flutuante de 149% do CDI atual, algo perto de 3% ao ano mas que flutua conforme a taxa de referência. O prazo é de sete anos, com opção de resgate a partir do quarto ano.
“Fomos provocados por investidores a fazer essa operação, e achei muito interessante porque evita ter de lidar com a questão do hedge e também porque poderia estar reabrindo esse mercado, além de criar uma proximidade maior entre nosso grupo e esses investidores”, afirma Ferrez.
De acordo com ele, foi uma demanda específica pensando em três investidores, mas 12 foram atraídos. Outros grandes grupos manifestaram interesse, mas precisariam de mais tempo para aprovar nos seus comitês e os números propostos já tinham passado por auditoria. Para aumentá-los seria preciso nova auditagem.
Os principais investidores são grandes seguradoras internacionais, alguns dos maiores investidores em renda fixa do mundo e, em menor representatividade, fundos multimercados. A Simpar assumiu compromisso de reduzir em 7,8% sua emissão de gases de efeito estufa até 2025. Caso a meta não seja atingida, haverá acréscimo na remuneração aos investidores.
Nova geração quer ganhos sustentáveis
Em janeiro a Simpar já havia feito uma captação no mercado internacional ligada ao tema da sustentabilidade, mas em dólar. A oferta inicial era de US$ 500 milhões e teve demanda cinco vezes maior, o que levou o grupo a aumentar para US$ 625 milhões e ratear o valor. Dos 200 investidores, 35% colocaram ordens com mandato ESG (sigla em inglês que significa meio ambiente, social e governança).
Ferrez informa que a última emissão do grupo no exterior tinha sido feita com taxa de 7,75% ao ano, em dólar, por prazo de sete anos. A emissão de janeiro permitiu uma taxa de 5,2% ao ano, com prazo maior, de dez anos. “Tenho muita convicção de que o fato de estar vinculado à sustentabilidade ajudou a atrair investidores.”
Foi o sucesso dessa operação que levou outros investidores a solicitarem nova rodada para a Simpar, ainda quem em reais. Na avaliação de Ferrez, o grande motor do aumento do interesse por investimentos sustentáveis é uma nova geração – inclusive no comando de empresas – “que tem mais consciência de que um futuro de qualidade só existe se a gente cuidar dele a partir de agora”.
Ele ressalta que o tema vem sendo tratado globalmente, principalmente em escolas a partir do momento em que se começou a falar mais do aquecimento global, de países estabelecendo prazos para eliminar a produção de veículos a combustão e sobre as queimadas na Amazônia. “É um processo que não tem volta até porque não tem razão para voltar.”
A holding Simpar tem receita perto de R$ 10 bilhões, geração de caixa de R$ 2,2 bilhões (dados até setembro) e lucro líquido nos últimos 12 meses de R$ 456 milhões. Emprega cerca de 22 mil funcionários e tem mais de 600 pontos operacionais no País em áreas de logística da JSL, lojas de locação da Movida, de concessionárias da Original, entre outros.