O primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediu nesta segunda-feira aos membros do Parlamento a “unir-se contra o ódio que matou” a deputada trabalhista Jo Cox, durante uma homenagem solene a três dias do referendo sobre a permanência ou a saída do país na UE.

Nas vésperas do referendo sobre a União Europeia, na quinta-feira, os investidores apostam na vitória da permanência do Reino Unido, e as bolsas, o petróleo e a libra subiram consideravelmente.

Enquanto isso, as últimas pesquisas de opinião continuavam indicando um resultado muito apertado.

Uma pesquisa publicada na noite de segunda-feira pelo Daily Telegraph atribuiu 49% aos partidários de permanecer na UE contra 47% para os defensores do Brexit. Outra consulta, realizada para o The Times, deu 44% de apoio ao Brexit e 42% aos que querem continuar no bloco.

No campo do Brexit, há esforços de distanciamento da retórica incendiária anti-imigração de Nigel Farage, líder do partido populista UKIP, muito questionada após o assassinato de Cox por um simpatizante neonazista.

“Que nós e a geração seguinte de deputados neste Parlamento honremos sua memória, provando que a democracia e as liberdades pelas quais Jo se levantou são inquebrantáveis” e “unindo-nos contra o ódio que a matou, hoje e sempre”, disse Cameron no Parlamento.

Cox faria 42 anos esta semana.

“Quando se utilizam da insegurança, medo e ira como armas, a explosão é inevitável”, reagiu o deputado trabalhista Neil Kinnock sobre o cartaz de Farage apresentando uma fila de refugiados como uma ameaça ao Reino Unido.

A escritora britânica J.K. Rowling também utilizou o cartaz polêmico para pedir o voto a favor da UE, argumentando: “Não sou uma especialista em quase nada, mas sei como se cria um monstro”.

Farage denunciou nesta segunda-feira que os defensores da UE estão tentando impor a ele o peso da morte de Cox.

“Acho que há partidários de continuar na UE que estão tentando dar a impressão de que este incidente isolado horroroso está relacionado de algum modo com os argumentos feitos na campanha por mim e Michael Gove, e isto está mal”, disse Farage em declarações à rádio LBC, um dia depois de admitir que o assassinato freou a ascensão do Brexit.

Para este político partidário da saída da UE, o primeiro-ministro e a campanha pró-UE tentam “misturar as ações de um louco com a opinião da metade do Reino Unido”, favorável, em seu julgamento, de uma recuperação do controle das fronteiras.

Sayeeda Warsi, que foi presidente do Partido Conservador, anunciou nesta segunda-feira que mudou de opinião e votará a favor da permanência na UE, cansada do que chamou de “mentiras e xenofobia” da campanha Brexit, assegurando que o detonador de sua decisão foi o cartel de Farage.

Outros pesos-pesados do Brexit, como Boris Johnson e Michael Gove, moderaram suas referências à imigração, e o primeiro pediu no domingo a regularização dos imigrantes ilegais.

“É o mais humano e o mais razoável economicamente”, disse Johnson em um comício em Londres, gerando algumas vaias na plateia.

A primeira pesquisa de opinião após a morte brutal da deputada trabalhista e pró-europeia, defensora dos refugiados e dos imigrantes, dava à opção anti-Brexit 45% das intenções de voto, contra 42% para os defensores favoráveis à saída do Reino Unido do bloco.

Esta pesquisa foi elaborada pela Survation em sexta e sábado, depois dos fatos de quinta-feira.

Os mercados, enquanto isso, anteciparam a vitória da permanência na UE.

A bolsa de Londres fechou em alta de mais de 3% nesta segunda-feira, o petróleo quase um dólar e a libra voltou ao nível de três semanas atrás com relação ao euro e ao dólar.

“Os mercados bursáteis registram lucros sólidos esta manhã porque diminui o temor à perspectiva de uma saída do Reino Unido da UE”, explicou Mike van Dulken, encarregado de pesquisas na Accendo Markets.

Dez ganhadores do Nobel de Economia, o presidente da Premier League de futebol e a fabricante de automóveis Toyota também defenderam a permanência do Reino Unido na UE.

“Há uma abertura da Premier League que ficaria totalmente incongruente” se houver Brexit, afirmou Richard Scudamore, o presidente da primeira divisão do futebol inglês.

Dez ganhadores do prêmio Nobel de Economia advertiram sobre as consequências negativas e duradouras que seriam provocadas, no seu entender, por uma saída do Reino Unido da UE.

“Acreditamos que o Reino Unido está economicamente melhor dentro da UE”, reforçaram em texto publicado no jornal britânico The Guardian pelos vencedores do Nobel entre o início dos anos 1970 e 2015.

“As empresas e os trabalhadores britânicos precisam de pleno acesso ao mercado único. Além disso, a saída criaria grande incerteza ao redor dos futuros acordos comerciais alternativos do Reino Unido, tanto com o restante da Europa como com mercados importantes como os dos Estados Unidos, Canadá e China”, anteciparam.

“E estes efeitos perdurariam por muitos anos”, advertiram.

“Em consequência, o debate econômico se inclina claramente a favor de seguir na UE”, concluíram os especialistas.

O ministro das Finanças da Grã-Bretanha, George Osborne, elogiou a carta.

“Sem precedentes, 10 economistas prêmios Nobel avisam sobre os danos a longo prazo da saída da UE. É hora de ouvir os especialistas”, escreveu no Twitter.