Parece que finalmente a guerra das tintas está tomando novas cores. Depois de passar seis anos brigando para ver quem vendia mais barato num mercado estagnado e acomodado, as fabricantes resolveram mudar de estratégia. E esse movimento pode ser percebido na Tintas Coral. Há 50 anos, desde a sua fundação, a empresa ocupa um conformado segundo lugar no ranking nacional de vendas de tintas imobiliárias, que é de US$ 900 milhões ao ano. Ela tem 28% do mercado, contra 35% da sempre líder Suvinil, da alemã Basf. Pois agora a Coral descobriu que pode alcançar a rival focando em produtos de maior valor agregado. ?Nossa meta é ganhar 5% de participação em cinco anos?, diz Alaor Faria Gonçalves, presidente da Coral no País.

Em geral, esse tipo de tinta premium promete maravilhas. Recentemente, a Suvinil lançou a tinta metalizada, que permite a colocação de adesivos imantados sobre a parede pintada. A Coral contra-atacou pesado. Desde o ano passado, colocou no mercado produtos mais caros como a tinta lavável, a que imita mármore, o gel que dá efeito de aço escovado… No ano que vem, a empresa colocará nas gôndolas uma tinta desenvolvida para cobrir tetos de banheiro. Ela evita o aparecimento do bolor provocado pelo uso do chuveiro e pode ser aplicada diretamente sobre o mofo.

O fato é que, com a economia ladeira acima, foi possível abandonar a estratégia perigosa da guerra de preços. ?A melhora do poder aquisitivo empurra naturalmente o consumidor para produtos de maior valor agregado?, afirma Dilson Ferreira, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas.

É um alívio e tanto. Nos últimos anos, durante a guerra de preços, mesmo produtos tradicionalmente mais caros foram vendidos abaixo do seu valor normal. A brincadeira custou caro às companhias, que tiveram suas margens prejudicadas. Agora, a história é outra. Pode-se dizer que o mercado nacional de tintas ressuscitou: cresceu 14% em 2004 (praticamente três vezes mais que o PIB). Na Coral, 75% das vendas se deram no segmento premium. ?Queremos aumentar a nossa fatia de mercado, mas não pretendemos incrementar a nossa receita com produtos de baixo preço?, afirma Gonçalves. A empresa investiu R$ 15 milhões para pesquisar o mercado e entender as mudanças de hábito do consumidor brasileiro. No ano que vem, gastará R$ 42 milhões em marketing, a maior verba da companhia em seus 50 anos de história.

A Basf não vai ficar só assistindo, é claro. De olho no avanço da rival, cujas vendas cresceram 10% em 2004, o grupo alemão, que avançou 6%, vai aumentar substancialmente a sua verba publicitária para o ano que vem. Serão R$ 50 milhões (um acréscimo de 25%). Apesar de gigantesca, a verba do concorrente parece não incomodar a Coral. Pela primeira vez, ela está segura de que pode, sim, chegar ao topo do ranking ? e agora sem respingar na canibalização do mercado.