24/01/2020 - 10:12
A França enfrenta, nesta sexta-feira (24), um novo dia de protestos contra a reforma da Previdência, coincidindo com sua apresentação oficial por parte do governo, depois de semanas de uma greve sem precedentes, com forte impacto nos transportes públicos.
Os líderes sindicais admitem que estão em um momento crucial, antes da apresentação do texto no Parlamento, onde a maioria do presidente Emmanuel Macron pode aprová-lo durante o verão boreal.
Em Paris, os manifestantes marcharão até uma praça muito próxima do Palácio do Eliseu, onde os ministros se reunirão para apresentar a reforma.
Este é o sétimo dia de protestos em massa desde que a greve nos transportes públicos começou em 5 de dezembro contra essa reforma que planeja introduzir um sistema previdenciário “universal”.
O projeto procura unificar os 42 sistemas atuais – alguns dos quais preveem certos benefícios a alguns setores, como funcionários públicos e advogados – e estabelecer um novo sistema de cálculo, por pontos.
Ao mesmo tempo, prevê aumentar para 64 a idade para aposentadoria integral, dois anos a mais do que está hoje em vigor.
Diante da oposição sindical, o governo retirou provisoriamente esse segundo ponto, mas exigiu, em troca, que as organizações sindicais e patronais encontrassem soluções alternativas para garantir o equilíbrio do sistema previdenciário.
– Novos formatos de protesto –
As linhas do metrô de Paris registraram fortes atrasos nesta sexta-feira, 51º dia de greve, embora o serviço tenha sido praticamente normalizado esta semana. Recentemente, os sindicatos passaram a optar por outros formatos de protesto, como o bloqueio de portos, cortes de energia e mais ações midiáticas.
O tráfego ferroviário foi menos afetado, e os trens internacionais operam normalmente.
A Torre Eiffel fechou, porque parte de seus funcionários se juntará aos protestos, segundo a agência que opera o monumento.
A polícia parisiense se prepara para possíveis atos violentos, depois que manifestações anteriores terminaram em vandalismo e em confrontos com policiais, deixando dezenas de feridos e prisões. Segundo as autoridades, esses atos são promovidos essencialmente por “black blocs” de extrema esquerda.
Vários vídeos recentes também mostraram agentes da polícia batendo em manifestantes, ou disparando balas de borracha à queima-roupa, o que provocou protestos nas redes sociais.
Apesar de uma série de concessões, incluindo promessas à polícia, pilotos e muitos trabalhadores do setor dos transportes, o governo permanece firme em sua proposta de reforma, prometida por Macron desde sua campanha eleitoral de 2017.
Macron afirma que o novo sistema será mais transparente e mais justo, especialmente para mulheres e trabalhadores de baixa renda, como os agricultores.
Assim, parece determinado a realizar uma reforma que governos anteriores também propuseram, mas que tiveram de abandonar, devido à forte oposição social.
– Economia resiste –
Por enquanto, o Banco da França não prevê que a greve, a mais longa da história recente do país, prejudique a economia francesa, embora muitas empresas tenham relatado uma queda em sua receita durante o período de Natal, especialmente em Paris.
Analistas do IHS Markit disseram nesta sexta-feira que seu índice sobre a atividade econômica francesa desacelerou em janeiro em comparação com o mês anterior, o que representa “a menor taxa de expansão desde setembro do ano passado”.
O principal sindicato da França, o CFTD, moderado, suspendeu sua greve, à espera das negociações com o governo sobre o financiamento da reforma. Outros sindicatos exigem o abandono completo do projeto.
Nesta sexta, os sindicatos FO e CGT, os principais do setor público, convocaram um novo dia de protestos para a próxima quarta-feira (29).