Nos anos 1990, o mundo de tecnologia assistiu à batalha do sistema operacional Windows, da Microsoft, com o Mac OS, da Apple, nos desktops. No início do milênio, a disputa saiu do computador e foi para os celulares. Dessa vez, brigavam pela hegemonia do consumidor o Android, do Google, com o iOS, da Apple.

Conheça os sistemas operacionais para televisores.

Essa briga, agora, está chegando a maior e principal tela da casa. Hoje, cerca de 90 milhões de televisores com sistemas operacionais são vendidos por ano. No fim de 2016, esse número deve crescer mais de 50%, chegando a 153 milhões.

Com um sistema operacional, a tevê pode se conectar a internet e rodar uma série de aplicativos e de jogos. É um mercado que deve movimentar US$ 265 bilhões daqui dois anos, segundo dados da consultoria americana MarketsandMarkets. 

Estes números estão atraíndo as gigantes do mercado de tecnologia, como Samsung, LG, Google, Sony e Panasonic.

Assim como nos smartphones, há diferentes sistemas operacionais que disputam a preferência do consumidor. Mas as estratégias comerciais adotadas na tela grande são diferentes da tela pequena dos celulares.

Um exemplo é a coreana Samsung. Quando resolveu apostar nos smartphones, a companhia embarcou em uma parceria com o Google. Com uma estratégia agressiva, com grande portfólio de aparelhos em diversas faixas de preço, assumiu a liderança do segmento e ajudou o buscador de Mountain View a posicionar o sistema operacional Android como o sistema operacional líder para smartphones.

Ela, no entanto, viu sua concorrente Apple colher os frutos de ter um sistema operacional de sucesso sob seu guarda-chuva. A coreana até tentou reverter a situação, lançando seu Tizen para smartphones. O sistema operacional, contudo, não decolou.

Nas tevês inteligentes, a Samsung não quer repetir a estratégia. Líder em vendas, a companhia aposta na versão para telas grandes do Tizen. “Sabemos que podemos tornar o Tizen em um sistema bastante usado”, afirma Werner Gropp, gerente de produtos Smart TV da Samsung Brasil.

Segunda colocada em vendas mundiais, a também coreana LG é outra que aposta na mesma estratégia da Samsung. Sua opção é o webOS. A empresa comprou o sistema operacional da HP em 2013 e fez adaptações para que ele tivesse uma navegação usando aparelhos desenvolvidos por ela.

As coreanas, no entanto, são líderes em venda de televisores e podem se dar ao luxo de apostar no desenvolvimento de uma sistema operacional próprio. Mas essa estratégia é difícil de ser seguida por todas as empresas.

“Muitas marcas de tevê sabem que não vale injetar dinheiro no desenvolvimento de um sistema próprio”, afirma Li Gong, presidente mundial da Mozilla, que desenvolve o Firefox OS, um sistema operacional para tevês que pode ser usado por diversos fabricantes.

O principal rival da Mozilla, uma fundação sem fins lucrativos que faz o popular browser Firefox, é nada menos do que o poderoso Google, com o seu Android TV, uma versão para tela grande seu popular sistema operacional para celulares.

O Android TV já conta com um forte aliado para sair na frente desta corrida. A japonesa Sony, que ostenta a terceira posição nas vendas mundiais de televisores (apesar dos números em queda), anunciou na última edição da feira de tecnologia CES, em Las Vegas, que todas as suas tevês conectadas usarão o sistema do Google.

“Primeiramente, pensamos em replicar a experiência do Playstation nos televisores, mas não deu certo”, afirma Sérgio Buch, gerente tevê da Sony Brasil. “Então vimos que a melhor escolha para nossa estratégia era apostar em algo conhecido, como o Android.”

A plataforma do Google também tem o apelo de não precisar encantar os desenvolvedores do mercado a criarem aplicativos para a ferramenta. O Google anunciou que “uma grande parcela” dos programas existentes para tablets e smartphones puderam ser adaptados para o Android TV. Além disso, afirmou que diversas empresas já estão trabalhando em itens específicos para o sistema operacional.

Do outro lado, o presidente da Mozilla, Li Gong, acredita que sua empresa tem uma vantagem sobre o Google: a vontade das concorrentes em não deixar o buscador de Mountain View criar um monopólio. “Hoje, o Google faz uma série de exigências para quem quer vender smartphones com Android”, afirma o executivo. “Ninguém quer que isto aumente.”

Para tornar o FireFox OS em um concorrente a altura, no entanto, a Mozilla aposta em sua especialidade: a criação de software. A empresa é a que mais cria aplicativos para sua solução, maz sabe que não vai conseguir enfrentar o Google solitariamente e busca apoio também entre os desenvolvedores.

A Mozilla já conquistou o apoio da Panasonic. “Vamos presenciar uma batalha entre os televisores, como aconteceu nos smartphones”, diz o japonês Takahiro Fujii, diretor de linha marrom da Panasonic Brasil. “As empresas estão escolhendo lados.”

Uma lista de potentes aliados, no entanto, pode entrar para o time da Mozilla em breve. A instituição afirma estar em conversas adiantadas com marcas chinesas, país cujas vendas de tevês conectadas cresce de forma acelerada. “A TCL (maior produtora de tevês da China) é uma de nossas mais fortes aliadas”, diz Li, da Mozilla. “Já temos uma relação com eles e estamos confiantes.”