Um site desenvolvido por golpistas tem enganado consumidores e frequentadores do festival de música Lollapalooza. A próxima edição do evento ocorre entre os dias 22 e 24 de março de 2024, no autódromos de Interlagos, em São Paulo (SP).

A venda oficial de tíquetes para o festival já está disponível no site verdadeiro do Lollapalooza, mas IstoÉ Dinheiro conversou com um escritor que perdeu R$ 4 mil ao “comprar” ingressos na plataforma falsa, cujo link de direcionamento é o primeiro a aparecer quando digita-se “Lollapalooza” no Google.

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“Coloquei o site do Lollapalooza no Google e foi o primeiro que apareceu, depois comprei. Passou um dia, um amigo meu entrou em contato comigo falando que não havia recebido comprovação da compra, nisso fui ver o meu e identifiquei que também não havia recebido o comprovante”, explica Victor Valentim.

Após perceber que, na verdade, havia caído num golpe, o escritor entrou em contato com a Ticketmaster Brasil, responsável pela venda e emissão dos ingressos, mas foi informado de que as empresas não poderiam fazer nada.

“O site falso é idêntico ao original. Tanto que outro amigo passou pela mesma situação e também havia entrado no endereço errado, já que ambos são muito parecidos”, continuou.

Victor acabou adquirindo ingressos e acabou por levar um prejuízo de R$ 4 mil. Além da perda financeira, o escritor ficou emocionalmente abalado pelo golpe e pela falta de resposta dos organizadores oficiais do evento. Após fazer um Boletim de Ocorrência junto à Polícia Civil, Victor aguarda, ainda, uma solução para o problema que tem atingido cada vez mais os jovens, de acordo com especialistas.

Orientações para a compra certeira

Perito em crimes digitais, o especialista Wanderson Castilho alertou para o aumento no número de jovens que tem caído em armadilhas de estelionatários que utilizam a internet para aplicar golpes financeiros.

“Uma estatística recente mostrou que um dos grupos de vítimas que mais vem crescendo é representado pelos jovens. Isso ocorre por conta do excesso de confiança e da falta de controle emocional, fatores que os criminosos avaliam antes de preparar o golpe”, conta Castilho.

De acordo com o especialista, os criminosos atraem os jovens sabendo que, nesse grupo, as vítimas possuem menos dinheiro e agem mais compulsivamente, se comparado ao público mais experiente.

Em abril deste ano, os brasileiros sofreram uma tentativa de golpe a cada 11 segundos. Os dados, que são do Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian, mostram que o total foi 232.478 investidas de criminosos contra consumidores e empresas a fim de fraudá-los ou roubar suas identidades. Apesar de alarmantes, os números sofreram uma queda de 14,8% relativos a março e um recuo de 22,2% comparados a abril de 2022.

O indicador de tentativas de fraude mostrou ainda que, em abril de 2023, os adultos com idades entre 36 e 50 anos foram os alvos principais dos golpistas, com 36,6% de incidência. Em seguida foram aqueles com 26 a 35 anos (27,5%), 51 a 60 anos (14,2%), jovens de até 25 anos (10,9%) e idosos acima dos 60 anos (10,8%).

A metodologia aplicada pelos criminosos é sempre a mesma. “Eles fazem adaptações, mas os fundamentos do golpe são sempre os mesmos: ansiedade, inexperiência e excesso de confiança dos clientes”, afirma Castilho. O especialista, inclusive, participa de grupos secretos de criminosos que trocam informações sobre vítimas. E garante: “eles trabalham 24 horas por dia e 7 dias por semana”.

Ainda segundo o especialista, o crime organizado entendeu que o golpe digital é mais difícil de ser flagrado. Além disso, os golpistas, se pegos, são acusados de fraudes ou estelionatos, cujas penas são mais simples e curtas se comparadas àquelas oriundas de crimes como narcotráfico e roubo físico.

Como não cair no golpe?

Mas, afinal, como não cair em golpes dessa natureza? Para Wanderson Castilho, é recomendável seguir a regra dos três Ps: Pare, pesquise e pense.

PARE: ao decidir realizar uma compra na internet, seja para eventos, consumo, produtos, enfim… pare tudo que você está fazendo e preste atenção nos detalhes da transação. O criminoso quer que você esteja distraído neste momento para facilitar o golpe.

PESQUISE: antes de efetuar a transação, pesquise se o site é verdadeiro. Nesse caso, vale também se atentar ao endereço do site requisitado. Por exemplo, se não há letras trocadas e se o protocolo “HTTPS” está inserido antes do endereço oficial. O HTTPS adiciona uma camada extra de segurança dos dados por meio de uma conexão criptografada, o que mostra que o site é, de fato, seguro e verdadeiro.

PENSE: se a oferta estiver atrelada a um desconto, raciocine se a promoção realmente faz sentido. Promoções muito agressivas são passíveis de reflexão. Além disso, não acesse links enviados por terceiros ou mensagens de sites que buscam mais informações sobre o usuário. Inclua suas informações pessoais e dados de cartão somente se tiver certeza de que se trata de um ambiente seguro.

Vai ao Lollapalooza 2024 e ainda não adquiriu seus ingressos? Acesse o link oficial do evento aqui, confira a programação e adquira seus tíquetes de forma segura. Os valores variam entre R$ 1.125 (Lolla Pass) e R$ 5.100 (Lolla Lounge Pass), válidos para o primeiro lote.

Vale ressaltar que a partir de 2024 o festival passa a ser organizado pela Live Nation. Antes, o evento era promovido pela T4F.

Em nota encaminhada à reportagem, a Ticketmaster Brasil respondeu em texto que segue abaixo:

A Ticketmaster Brasil tem feito incontáveis esforços operacionais para coibir o cambismo. O mais recente é o QR-Code dinâmico que agora está presente em nossa entrega digital, garantindo legitimidade, tranquilidade e confiabilidade aos fãs. Por meio dele, o consumidor terá um novo QR-Code a cada acesso ao seu ingresso, o que impossibilita que cambistas o transfiram ou revendam. 

Entretanto, é fundamental que todos os fãs também redobrem a atenção no processo de compra e busquem seus ingressos somente em canais oficiais dos eventos, amplamente informados por veículos de imprensa confiáveis. Isso porque cambistas e estelionatários vêm atuando em eventos de alta demanda, criando sites e perfis falsos em redes sociais para venda de ingressos falsos. A forma de atuação desses criminosos visa contornar o crescimento exponencial das tecnologias de segurança na venda de ingressos usando a boa fé do consumidor final.

Além disso, alertamos aos consumidores a sempre desconfiar de ofertas de ingressos de eventos já esgotados ou com preços diferentes do site oficial, bem como atentar-se aos links em destaque em ferramentas de busca, uma vez que os criminosos costumam patrocinar links fraudulentos e que direcionam a sites cujos links tem por objetivo a aplicação de golpes. Sites falsos geralmente o levam apenas para o processo de pagamento e não possuem limitação de ingressos. Nenhum pedido será concluído na Ticketmaster sem um cadastro prévio em nosso site para vincular os seus ingressos ao seu perfil.

Reforçamos que o site da Ticketmaster sempre terá ticketmaster.com.br, que é o nosso domínio, bem como nosso certificado digital, disponível e vinculado ao nosso CNPJ, e que pode ser acessado através do símbolo de “cadeado” no lado esquerdo da URL. Link que não mencionam Ticketmaster ou escrevem o nome da marca com erros, ou sem o nosso domínio são falsos e devem ser evitados.