06/04/2001 - 7:00
Era impossível navegar pelo ramo brasileiro da Internet na semana passada sem deparar com os olhos azuis de Gisele Bundchen e a marca C&A. A loja de departamentos apostou que o público feminino, destinatário último da sua campanha de moda, estaria lá, de frente para o monitor, assim como está na frente da tevê e dos outdoors. ?Antes só valia a pena fazer um grande investimento em propaganda na Internet se a empresa tivesse um produto só para homens?, diz Paulo Jorge Pereira, o PJ, da AgênciaClick. O cenário, obviamente, mudou. Entre 1996 e 2000, a participação das mulheres na Internet brasileira saltou de 17% para 42% do total de usuários. São 3,5 milhões de consumidoras potenciais, com concentração de 80% nas classes A e B. É um tremendo mercado. Nos Estados Unidos, para onde apontam os olhos mais atentos, elas já são maioria na rede desde abril de 2000, com 51% de participação ? e acredita-se que a mesma tendência está em curso no Brasil. É uma mera questão demográfica. Afinal, as mulheres estão no mundo em maior número e tendem a ingressar na rede, inexoravelmente. ?Cedo ou tarde, as mulheres serão maioria também no Brasil?, afirma Alexandre Magalhães, analista de Internet do Ibope eRatings.com. Estes números e previsões já justificam a criação de um negócio digital específico preocupado em atingir um público com enorme influência sobre as despesas, até mesmo dos homens. ?A tendência é que a Internet siga os traços da sociedade, onde as mulheres têm um forte poder de decisão de compra?, comenta Ângela Marsiaj, diretora do instituto Jupiter Media Metrix.
De olho neste mercado, as empresas pontocom e os anunciantes estão aprimorando modelos de negócios que incentivem as compras femininas. As mulheres já estão na rede, mas ainda não sacaram pra valer o cartão de crédito. Há coisas especificamente femininas ? roupas, perfumes, cosméticos ? cujas vendas pela rede ainda não decolaram. Sites como o Paralela, um dos mais visitados da rede feminina, com 10 milhões de visitas no mês de março, está fazendo caixa com publicidade. Especificamente, vende pacotes de patrocínio por assunto: a Nestlé é a principal marca das páginas sobre comida, enquanto a Jontex patrocina a área de sexo. Com isso, o site, que estreou em junho do ano passado, obteve uma receita de US$ 2,4 milhões até dezembro. ?O comércio eletrônico não é a nossa principal preocupação?, diz Fabiana Zanni, 29 anos, editora-chefe do Paralela.
O grande desafio dos sites femininos, como de todos os demais, é transformar audiência em receita. O principal concorrente do Paralela, o site Obsidiana, fechou as portas porque não conseguiu esta tradução. O Chase Capital Partner, seu principal investidor, jogou a toalha, embora o número de acessos fosse crescente. No lugar do Obsidiana, porém, há uma legião de novas empreendedoras que acreditam ter a receita correta para sobreviver. São sites como Cantinho da Fofa, Feminina Web, Mundo das Garotas e Só Para Elas. No total, cerca de 80 endereços da rede brasileira estão voltados para o público feminino. Quem desponta é o Vaidosa, dirigido pela jornalista Genia Winitzki e que, em breve, será um dos canais do UOL. Sua principal atração é o Virtual Face, uma ferramenta que permite à mulher colocar sua foto e experimentar outras cores de cabelo, cortes e maquiagem. ?A mulher pode testar toda a coleção de batons da Avon?, diz Genia. ?O serviço é ideal para anunciantes de produtos de beleza.?
Nos Estados Unidos, onde o uso de Internet pelas mulheres cresceu 34% no ano passado, já existem algumas conclusões sobre este mercado. A primeira delas é que a visão das internautas a respeito da rede é muito mais prática e objetiva do que a dos homens. ?Elas não perdem muito tempo com uma variedade de sites diferentes, mas retornam àqueles que ajudam a economizar tempo ou dinheiro?, diz um relatório da Jupiter Media Metrix. Exemplo: mulheres entre 24 e 35 anos tendem a se dirigir a sites que oferecem conteúdo e conselhos relacionados aos cuidados com as crianças. Os dados da consultoria e-Bit mostram que, enquanto os homens fazem compras tarde da noite, as mulheres, muitas das quais donas de casa, o fazem ao longo do dia. O público feminino, novato na Internet, está em fase de experimentação com as compras virtuais. ?Os valores gastos são menores, assim como aconteceu com os homens algum tempo atrás?, explica o consultor da e-Bit, André Sapoznik. Segundo ele, em três anos a participação de homens e mulheres no faturamento dos negócios será a mesma. Quem tem trilhado essa linha no Brasil é o Amélia, braço eletrônico do grupo Pão de Açucar, com uma audiência 56% feminina. A expectativa de Antônio Rosa, da agência de publicidade virtual Dainet, é de que aos poucos os produtos de informática, que hoje dominam o comércio eletrônico, irão cedendo espaço para artigos mais ligados ao cotidiano das casas. Dentro desta tendência, já vieram para a rede anunciantes como Unilever, Natura e L?oreal. Espera-se que o próximo movimento seja o de aumento direto das vendas por comércio eletrônico ? cada mulher será uma consumidora na rede. Enquanto esta tendência não se manifesta, a preocupação dos sites é fixar sua audiência com serviços e informações. Afinal, um dia isso tudo ? inclusive o humor ? pode virar dinheiro. O Banheiro Feminino é um bom exemplo: está na rede desde 1996, mas há menos de um ano se transformou em um negócio de verdade. Com 1.500 visitas por mês, o Banheiro tenta reproduzir a informalidade das fofocas femininas e 42% do seu público é masculino. ?Os homens também querem saber o que nós falamos sobre eles?, conta a diretora do site, Andrea Cals. A turma masculina ? também consumidora ? é muito bem-vinda.
Colaborou Duda Teixeira