Grupo que aguarda permissão para deixar o enclave palestino sofre com atrasos e cancelamentos em meio a bombardeios. Governo brasileiro pressiona Israel, que por sua vez responsabiliza o Hamas e o Egito pela demora. Um grupo de 34 brasileiros na Faixa de Gaza se encontra retido há mais de uma mês na região, desde os ataques terroristas do Hamas, no dia 7 de outubro, que deixaram em torno de 1.400 mil mortos em Israel.

+Israel diz estar aberto a pausas para ajuda e saída de reféns de Gaza

Israel reagiu aos ataques com intensos bombardeios a alvos em Gaza e, mais tarde, com o envio de tropas por terra, como parte de sua campanha militar que visa derrotar o grupo terrorista palestino. Os ataques israelenses já teriam deixado mais de 10 mil mortos, segundo Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas. Mais de 200 pessoas são mantidas como reféns pelos terroristas.

A guerra entre Israel e o Hamas deixou centenas de estrangeiros presos no enclave, muitos dos quais ainda aguardam permissão para deixar a região. No grupo dos brasileiros estão 34 pessoas, sendo 24 brasileiros e dez palestinos que são membros de suas famílias.

Os brasileiros e as agências de ajuda humanitária em Gaza relatam falta de água potável, eletricidade, alimentos e remédios devido ao cerco imposto por Israel ao enclave. Segundo a ONU, a ajuda humanitária autorizada a entrar é insuficiente para cobrir as necessidades de cerca de 2,2 milhões de habitantes do território palestino.

Inicialmente, um grupo de 22 brasileiros foi abrigado em uma escola católica na Cidade de Gaza. Mas, após expirar o prazo dado pelas Forças de Defesa de Israel para a evacuação da cidade antes da ofensiva militar, o grupo, acrescido de outras pessoas que aguardavam em outros pontos do território, foi levado de ônibus até a cidade de Khan Younis, na região sul do enclave, próxima à fronteira com o Egito.

Desde então, o grupo aguarda liberação para poder atravessar o posto na cidade de Rafah, que é controlado pelo Egito, e seguir para o Brasil em uma avião cedido pela Presidência da República, que aguarda há semanas do lado egípcio.

Brasileiros fora das listas

Desde o início do conflito o Brasil vem intercedendo junto ao governo de Israel pela liberação da passagem dos brasileiros através da fronteira egípcia. Até o momento, cidadãos de 31 países já puderam deixar a Faixa de Gaza.

Na semana passada, o chanceler israelense Eli Cohen havia informado seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, que o grupo teria permissão para deixar Gaza até esta quarta-feira, o que não aconteceu. Na data prevista, o Egito fechou a fronteira em razão de o Hamas ter escondido alguns de seus membros nas ambulâncias que transportavam feridos até Rafah.

O Egito há havia suspendido a passagem no último sábado após Israel bombardear uma ambulância na Cidade de Gaza afirmando que o veículo transportava terroristas, o que o Hamas nega. O ataque foi condenado por entidades internacionais.

Os brasileiros não estavam relacionados em uma lista de permissões divulgada nesta quarta-feira – a quinta desde o início das travessias de fronteira. Na relação constavam os nomes de ucranianos, filipinos, americanos, alemães, romenos e canadenses. Com o fechamento da fronteira pelo Egito, é possível que demore ainda entre dois e três dias para os brasileiros poderem sair de Gaza.

Segundo o Itamaraty, as listas são elaboradas pelas autoridades israelenses e egípcias. A Embaixada de Israel no Brasil, porém, afirma que as listas são preparadas por “entidades e organismos internacionais”, mas não informou quais seriam essas entidades.

Brasil pressiona Israel

A demora e os atrasos na operação gerou incômodo entre diplomatas brasileiros. Segundo o portal de notícias G1, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ao governo de Israel que se algo acontecer com os brasileiros na zona de conflito, as relações diplomáticas entre os dois países se tornarão insustentáveis.

Uma nova rodada de negociações com Israel envolveria o chanceler Mauro Vieira, o assessor especial Celso Amorim, e o próprio presidente Lula. O Brasil enfatizou ter sido uma das primeiras nações a entregar uma relação de seus cidadãos que estão em Gaza aguardando repatriação.

Segundo apurou o G1, o Itamaraty tem ressaltado o peso do Brasil na América Latina, e o ambiente controverso e crítico ao modo como Israel tem conduzido a resposta ao atentado do grupo terrorista Hamas.

O recado de Lula a Israel destacou que países sul-americanos como o Chile, já determinaram o retorno de seus embaixadores por discordarem da reação israelense, que vem sendo bastante contestada internacionalmente.

Israel diz fazer “tudo a seu alcance”

O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, afirmou em um vídeo divulgado nesta quarta-feira que seu país não tem intenção de impedir a saída de nenhum estrangeiro de Gaza.

“O Estado de Israel não possui interesse algum em atrasar a saída dos brasileiros ou de estrangeiros de qualquer outra nacionalidade. A cota para sair da Faixa de Gaza é determinada pelo Egito e de acordo com ela, algumas centenas de estrangeiros recebem permissão para sair a cada dia”, afirmou.

“O Estado de Israel está fazendo tudo que está ao seu alcance para articular a saída dos brasileiros de forma segura e o mais rápido possível”, disse o Zonshine. O Hamas está fazendo uso cínico da população civil estrangeira no meio da guerra e impediu estrangeiros de saírem no domingo, na segunda-feira e na quarta-feira desta semana”, afirmou o embaixador.

Em nota enviada á emissora CNN Brasil, a embaixada de Israel também acusa o Hamas pela demora. “Apesar das declarações recentes, Hamas é o único fator atrasando a saída dos brasileiros de Gaza por seus próprios interesses. Estamos em guerra total contra uma organização terrorista, que repetidamente espalha desinformação para continuar criando terror.”

No entanto, o embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco de Carvalho Neto, afirmou na semana passada a situação vem dependendo de uma autorização das autoridades israelenses.

“Para o governo egípcio, segundo nos foi dito mais de uma vez, não há qualquer dificuldade para autorizar imediatamente a entrada dos brasileiros no Egito, no entendimento de que eles irão em seguida para o Brasil”, afirmou.

Ataques perto da fronteira

A ONU, o G7 e vários países vêm pressionando para que Israel faça uma pausa humanitária nos bombardeios na região. A área onde fica a passagem de fronteira em Rafah já ficou fechada por dois dias após bombardeios israelenses.

Nesta quarta-feira, novos bombardeios foram registrados nas proximidades da residência de uma das famílias brasileiras em Khan Yunis. O palestino naturalizado brasileiro Hasan Rabee, de 30 anos, filmou o ataque. “Mais um bombardeiro, dia a dia. Ontem à noite estava um terror, muito bombardeio para todo canto”, relatou.

rc (ots)