O Brasil enfrenta uma situação financeira desesperadora diante das  dificuldades econômicas, mas ainda não perdeu o bonde da história e tem a  chance de se “reengatar” com as grandes decisões estratégicas globais,  disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O País atravessa,  segundo ele, um momento em que está sem crédito e sem confiança.

“Vai  chegar o momento em que temos de fazer um acordo, mas não cambalacho, é  um acordo social. Os economistas estão convergindo para cinco pontos  centrais, mas o mesmo não ocorreu na área política”, afirmou ele nesta  quarta-feira, 16, durante evento, em São Paulo.

De acordo  com o ex-presidente, muitos questionam as propostas que estão sendo  discutidas, como o semiparlamentarismo. “Mas com este Congresso?”,  indagou.

Ao falar da crise que o País atravessa,  principalmente nos campos político e ético, FHC disse que houve  deterioração dos instrumentos de governabilidade. “Nosso sistema é  presidencialista e o partido que governa não tem mais do que 20% (de  apoio no Congresso), por isso precisa fazer coalizão”, lembrou.

O  tucano questionou ainda a maneira como a maioria (no Congresso) é  aglutinada. E citou que Lula, ao fazer aliança com os pequenos partidos,  em vez dos grandes, abriu espaço para o escândalo do mensalão. Para  ele, é impossível governar assim, não só para a atual presidente (Dilma  Rousseff), pois o Congresso está fragmentado.

“Vivemos um  problema de situação econômica complicada, situação política difícil,  crise moral, com delações de desvios de conduta. É uma organização como  sistema, para obter vantagens para partidos. E a isso se soma à crise de  liderança”, destacou FHC.

Ele criticou as pedaladas  fiscais do governo e disse que o Tesouro, na prática, quebrou, com  aumento da dívida pública que caminha para chegar a 80% do Produto  Interno Bruto (PIB).

“Este País tem potencial imenso, mas  tem equívocos fundamentais embora tenha vantagem comparativa como terra e  gente. A produtividade do setor agrícola cresceu, mas o Brasil tem  problemas de infraestrutura. Dinheiro tem no mundo, só não vem porque  falta confiança”, destacou o ex-presidente.

FHC também  criticou a aposta do governo atual em petróleo. Na visão dele, a  Petrobras terá de ser capitalizada a qualquer momento como consequência  de terem escolhido o caminho errado – que foi, segundo ele, fechar o  pré-sal ao invés de implantarem regras mais restritas.

No  início de sua palestra, ele reconheceu que o ex-presidente Luiz Inácio  Lula da Silva avançou bastante na mobilidade social. E disse que isso  foi graças ao período favorável que o mundo viveu até meados de 2008.

A  partir daí, conforme ele, houve crise financeira grave, semelhante à  crise de 29. Segundo FHC, o Brasil fez o contrário dos EUA, porque  entendeu o cenário de maneira equivocada e usou a política de credito  público e inventivo ao consumo, achando que tinha achado uma fórmula  mágica – e não priorizou os investimentos.

O ex-presidente  criticou ainda a transferência de recursos públicos para empresas, via  BNDES, com taxas abaixo de valor de mercado.

Na avaliação  de FHC, o País vive hoje os desdobramentos do processo da  redemocratização. Segundo ele, acreditava-se que Brasil tinha descoberto  um roteiro novo, quando a Constituição queria assegurar ampla maioria  democrática e transformar a sociedade brasileira em uma sociedade com  foco em educação e outras áreas de bem estar social.

“Foi  um momento de certa euforia, mas havia um momento econômico complicado”,  lembrou ele, mencionando que a visão de mundo na época ainda era  fechada.