11/02/2004 - 8:00
A pesquisa realizada por DINHEIRO ao longo das duas últimas semanas confirmou aquilo que a atmosfera no prédio da Fiesp já havia indicado ? que a eleição para a presidência da Federação das Indústrias de São Paulo, marcada para 25 de agosto, será a mais apertada das últimas décadas. Depois de ouvir 109 dos 122 eleitores aptos, a pesquisa apurou que Paulo Skaf, o ativo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, lidera a corrida com 44% das intenções de voto. Atrás dele, com 32% dos eleitores ouvidos por DINHEIRO, está Claudio Vaz, candidato da situação e braço direito do atual presidente, Horácio Lafer Piva. Ao ouvir 89% dos delegados de sindicatos patronais com direito a voto, a pesquisa constatou que, a seis meses da votação, ainda existe uma grande massa de indecisos ? equivalente a 17% dos entrevistados ? e um número expressivo de empresários (5%) que recusam informar seu voto. Estes últimos podem ou não estar posicionados. O terceiro candidato à presidência da Fiesp, Synésio Batista, obteve 2% das intenções de votos. ?Neste momento as pesquisas ainda não refletem a verdade final. Elas mostram apenas uma tendência?, diz Batista, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos e de uma dúzia de outras entidades empresariais. ?Meu jogo ainda não começou.?
O jogo mal começou para todos os candidatos, mas as paixões já vão pelas alturas. ?Estranho muito o resultado dessa pesquisa. Ele não reflete a realidade?, diz Skaf. O candidato foi informado na tarde de quarta-feira 4 dos números obtidos pela enquete de DINHEIRO e, apesar de aparecer na liderança, não concordou com a distância relativamente curta que o separa do seu principal adversário. Uma pesquisa realizada na semana anterior pelo Ibope concluíra que Skaf detinha 62% das intenções de voto, mas o censo telefônico realizado pelos jornalistas de DINHEIRO não confirmou esses resultados. ?Não entendo como pode ser isso?, reage o candidato. Descendente de libaneses, 48 anos, Skaf é um trator que promete conduzir a eleição da Fiesp com a mesma autoridade e energia que tem devotado às questões da indústria têxtil. A semana passada, por exemplo, ele passou mergulhado em negociações com a indústria argentina, que desejava restringir a entrada de têxteis brasileiros no País. Na manhã de quinta-feira conseguiu um acordo que estabeleceu para este ano uma cota de exportação de 15 milhões de metros de jeans. ?É um bom resultado para a indústria brasileira?, comemora. Na eleição da Fiesp, a palavra de ordem de Skaf é liderança. Ele diz ser o candidato capaz de organizar a entidade como uma grande máquina de lobby em favor da indústria. Diz que se fosse presidente da Fiesp coisas como a elevação da alíquota da Cofins não ocorreriam. ?Basta ver a gestão dele na Abit para perceber que Skaf é o mais bem preparado para o cargo?, afirma José Roberto Morganti, delegado do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados. Outro de seus cabos eleitorais, o industrial Benjamin Steinbruch, provoca: ?Quem você escolheria para negociar em seu nome com os argentinos, o Skaf ou o Vaz??
Com 12 pontos percentuais a menos nas intenções de voto, o economista Claudio Vaz, de 56 anos, também tem fama de bom negociador. Tranqüilo, dono de uma memória prodigiosa, em uma ocasião, quando o sindicato dos metalúrgicos do ABC tentou parar sua fábrica, disse que não se oporia desde que o deixassem subir no caminhão para expor seu ponto de vista. Subiu, argumentou e os funcionários votaram contra a greve. Os sindicalistas o respeitam. Na eleição da Fiesp, porém, encontra-se em desvantagem: candidato do presidente em uma entidade tradicionalmente situacionista, está saindo atrás na disputa. Vaz é um rosto familiar no setor de autopeças e nos últimos seis anos teve intensa militância na Fiesp, mas seu adversário é uma figura nacional, influente no meio empresarial e com trânsito fácil em Brasília. O desafio de Vaz nos próximos meses será aproximar-se dos eleitores-empresários e oferecer a eles a impressão de solidez que ele transmite no contato pessoal. ?Todos em Franca o apóiam?, afirma Élcio Jacometti, do sindicato das indústrias de calçados de Franca. ?Ele conhece o setor e a economia melhor do que ninguém.? Ah, sim: Vaz também estranha os resultados da pesquisa de DINHEIRO. Sustenta que tem muito mais votos do que os 35 apurados por nossa equipe. Até agosto ficará claro qual dos três candidatos tem menos votos do que imagina.