Um almoço para 500 convidados em um dos hotéis mais sofisticados de São Paulo, com bons vinhos e palestra do ex-ministro Pedro Malan. Assim foi, na terça-feira 12, o lançamento oficial no Brasil da firma de auditoria Terco Grant Thornton. Um evento e tanto, com a presença de figuras de peso do mundo empresarial. Mas que seria mera rotina não fosse por um detalhe: a Grant Thornton era auditora da Parmalat quando eclodiu o escândalo contábil de dezembro de 2003. Dois sócios italianos da firma chegaram a ser presos por suspeita de envolvimento na fraude de US$ 7 bilhões que levou à concordata da gigante italiana de laticínios. Àquela época, a Grant Thornton era associada no Brasil à Trevisan, que admitiu desconforto com a exposição negativa do parceiro internacional e, dez meses depois, acabou por romper a associação ? que, então, durava 11 anos. Foi quando entrou em cena a Terco. Líder nacional no segmento de clientes de médio porte, a firma brasileira passou do namoro ao casamento com a enjeitada multinacional em questão de dois meses. Celebrou as bodas na semana passada.

Personalidade econômica com status de selo de qualidade nos círculos financeiros, Malan naturalmente evitou o tema Parmalat no discurso aos convidados. Questionado pela DINHEIRO, lembrou que a Grant Thornton é a sexta maior firma de auditoria do mundo e disse que ninguém chega a esta posição se não tiver gente competente em seus quadros. ?No Brasil, eles se associaram à Terco, que construiu uma razoável reputação no mercado. Isto deve ajudar?, acrescentou Malan. Também presente ao almoço, Fernando Xavier Ferreira, presidente da Telefônica, ponderou que, em um grupo do tamanho da Parmalat, ?muitas vezes a coisa (a fraude) consegue ser feita sem o conhecimento da cúpula da empresa e de sua auditoria?.

Diante de uma platéia que reunia de Cláudio Vaz, presidente do Ciesp, a Emerson Kapaz, do Instituto ETCO, o presidente mundial da Grant Thornton, David McDonnell, apresentou um peso pesado ao mercado brasileiro. A firma que dirige tem 600 escritórios espalhados por 100 países, 22 mil empregados e US$ 2 bilhões de faturamento. Seu foco está em empresas médias, categoria onde é líder mundial. ?A Terco compartilha de nossa estratégia e de nossos valores, além de conhecer profundamente o mercado brasileiro?, disse. Com 240 profissionais e 550 clientes ativos, a firma brasileira domina o setor de construção civil e tem forte presença na indústria têxtil. ?Agora, com a Grant Thornton, a expectativa é aumentar nosso ritmo de crescimento e entrar em novos segmentos?, diz Sergio Kubiak, um dos sócios da Terco. O assunto Parmalat, ele garante, não é tabu na companhia. Mas só o presidente fala a respeito.

?É que este assunto está superado?, justifica Mauro Terepins, o homem que fundou a Terco há 23 anos e hoje comanda a Terco Grant Thornton. ?A crise (da Parmalat) ficou restrita ao escritório italiano da Grant Thornton, que foi descredenciado do grupo, e não afetou nenhum outro país?, pondera ele. Ao contrário. Em 2004, primeiro ano depois do escândalo, a multinacional de auditoria cresceu mais de 20%, elevando seu faturamento de US$ 1,7 bilhão para US$ 2,1 bilhões. No Brasil, a parceria com a Thornton, que na prática funciona desde janeiro, ajudou a Terco a crescer 40% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2004. ?Eles já trouxeram, inclusive, clientes internacionais?, comemora Terepins. ?E até hoje ninguém veio me perguntar sobre os problemas da Parmalat.?