País anunciou que sairá da Nova Rota da Seda, programa chinês de investimento em infraestrutura, mas precisou desmentir informação falsa de que suspenderia tarifas para barcos americanos no Canal do Panamá.O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, anunciou nesta quinta-feira (06/02) que vai retirar o país da Nova Rota da Seda – programa do governo chinês para financiar obras e investimentos em países da América Latina e de outras partes do mundo para impulsionar o comércio.

A decisão vem a público quatro dias depois de Mulino se reunir com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, que viajou ao país centro-americano como parte da agenda expansionista de Donald Trump na região.

No domingo (02/02), o presidente panamenho havia manifestado que não renovaria o acordo, o que estava previsto para acontecer em 2026. A decisão anunciada nesta quinta antecipa em alguns meses e oficializa a saída – segundo a carta de entendimento entre Panamá e China, qualquer uma das partes pode rescindir o acordo, mas só depois de três meses da notificação.

A Nova Rota da Seda foi criada em 2013 por Xi Jinping e tem um orçamento trilionário para construir e reformar estradas, ferrovias, portos, aeroportos, infraestrutura de energia e telecomunicações.

Em 2017, o Panamá foi o primeiro país latino-americano a aderir ao programa, que teve a adesão de mais de cem países desde seu lançamento. A crescente abertura à China nos últimos anos ajudou a alimentar a desconfiança dos Estados Unidos sobre a influência de Pequim no país.

O anúncio vem após meses de ameaças de Trump de “retomar” o Canal do Panamá – hidrovia que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, uma das rotas de navegação mais importantes para o comércio global. Ele alega que há um tratamento “injusto” a embarcações americanas e que a China, maior exportador global, passou a controlar a passagem.

O Canal do Panamá é operado por uma agência do governo panamenho, não por chineses. Os EUA supervisionaram a construção do canal no início do século 20 e o controlaram até o fim de 1999, quando concordaram em passar a gestão para o Panamá.

EUA afirmam que navios terão passagem livre; Panamá nega

A viagem de Marco Rubio causou também ruídos. O governo americano divulgou que o Panamá havia concordado inclusive em não cobrar pelo trânsito de navios americanos no canal, o que foi negado na quarta-feira (05/02) pelo presidente panamenho e pela agência que controla a passagem.

“Estou muito surpreso com a declaração do Departamento de Estado [dos EUA] de ontem, porque eles estão fazendo declarações importantes com base em uma falsidade e isso é intolerável, simplesmente intolerável”, disse Mulino em entrevista coletiva.

Ele acrescentou que seu cargo não lhe dá o poder de controlar os pedágios da passagem.

“Em resposta a uma publicação divulgada pelo Departamento de Estado dos EUA, a Autoridade do Canal do Panamá, que tem autoridade para estabelecer pedágios e outras taxas para transitar pelo Canal, anuncia que não fez nenhum ajuste nessas taxas”, disse a agência responsável em um comunicado.

A autoridade acrescentou, em tom conciliatório, que está “pronta para estabelecer um diálogo com as autoridades americanas relevantes em relação ao trânsito de navios de guerra dos EUA”.

Embarcações militares dos EUA têm prioridade de passagem pela hidrovia, de acordo com um tratado de neutralidade de 1977. Mas todos os navios, independentemente da origem, destino ou bandeira, devem pagar pedágios, que variam de acordo com o tamanho e o tipo da embarcação.

sf (EFE, Lusa, Reuters)