Sai a poltrona de tecido, entra o assento de couro, inspirado nos carros esportivos. O acabamento dos assentos, que antes lembrava madeira, foi substituído pelo cinza-claro, tornando o ambiente mais suave e moderno. A adega, completamente renovada, está lotada de champanhes top de linha, como o francês Grand Siècle. E, para completar, massagens e tratamentos de pele ao chegar ao terminal de Heathrow, em Londres. Bem-vindo à nova primeira classe da British Airways, reinaugurada graças a um investimento de 100 milhões de libras (cerca de R$ 300 milhões). 

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Privacidade e personalização: nova primeira classe da companhia mira os viajantes
dos países emergentes, como o Brasil. Atriz Rachel Weisz é a garota-propaganda dos novos serviços.

Se, por um lado, o tapa no visual e a melhora dos serviços de bordo não chegam aos pés dos de companhias orientais – como a Emirates e suas suítes individuais –, ainda assim, o investimento da British merece atenção. Afinal, estamos falando de uma companhia que há menos de três anos chegou a pedir que seus funcionários trabalhassem até um mês de graça, para minimizar demissões e ajudar o seu caixa. Naquela mesma época, ainda sob pressão da crise financeira, os executivos da British tiveram de optar entre duas estratégias: reduzir a qualidade dos serviços e, consequentemente, os custos, ou manter o padrão da companhia, historicamente reconhecido por um nível de qualidade acima da média. 

Ficaram com a segunda opção. “A empresa tinha de se posicionar”, diz José Antônio Coimbra, diretor-comercial da British no Brasil. “E decidimos nos diferenciar pelos serviços e não pela tarifa.” A reforma da primeira classe vem ao encontro dessa decisão, apesar de uma economia mundial ainda instável. Enquanto o passageiro da classe econômica tem um perfil turístico, o cliente que paga quase seis vezes mais por um espaço premium é, tradicionalmente, um executivo de negócios. E, com as empresas olhando com lupa cada possibilidade de corte, voar de primeira classe tornou-se inviável para muitas. 

 

Em 2005, quando os EUA ainda viviam o boom imobiliário e a economia mundial ia muito bem, obrigada, a parcela dos passageiros premium chegou a representar 10% do tráfego aéreo total. Desde então, vem caindo gradativamente, chegando a 7,8% no fim do ano passado. Mas ainda existe luz no fim do túnel – e esse túnel está, segundo os dados da Agência Internacional de Transporte Aéreo, nos mercados em expansão, entre eles o Brasil. Enquanto o tráfego de passageiros de primeira classe na Europa ficou estável em 2011, na rota pelo Atlântico Sul esse número ficou positivo em 6%.

 

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Não à toa, o Brasil foi incluído pela primeira vez, no ano passado, na lista de mercados estratégicos para a British Airways, ao lado da Índia e da China. “Há uma confiança de que a demanda em países como o Brasil possa suprir o cenário desfavorável na Europa”, diz Coimbra. E, apesar de o mercado brasileiro estar cada vez mais bem servido por companhias de tarifas populares, a British aposta em um seleto nicho de brasileiros classe A, que não param de viajar ao Exterior. De 2009 a 2011, os gastos de brasileiros com passagens aéreas internacionais cresceram 90%, chegando a US$ 3,8 bilhões. 

 

“A British olha para o Brasil e vê um país de conjuntura favorável. Vemos lucratividade”, diz Coimbra. Segundo ele, a nova primeira classe da companhia foi inspirada em privacidade e personalização. “O pijama, a nécessaire assinada pela designer inglesa Anya Hindmarch e as janelas elétricas que dividem as cabines seguem esses princípios”, afirma o executivo. Tudo indica que o salário dos funcionários da British está garantido – e que, pelo menos por algum tempo, eles não serão convocados a dar um reforço de caixa para a companhia.

De Londres