23/03/2013 - 21:00
Nenhuma empresa simboliza mais do que a HP o espírito empreendedor e inovador que deu origem ao Vale do Silício, a região da Califórnia que promoveu a revolução tecnológica das últimas décadas e de onde surgiram Oracle, Apple, Google e Facebook. Fundada em 1939, em Palo Alto, pelos engenheiros William Hewlett e David Packard, ela originou o mito da empresa que nasce em uma garagem para conquistar o mundo. Pelas décadas seguintes, a companhia se tornou a líder mundial dos mercados de computadores pessoais e impressoras, além de uma potência em servidores, equipamentos de armazenamento de dados, serviços de tecnologia para empresas e software.
Meg Whitman: a atual presidenta da HP pediu prazo de cinco anos para colocar a casa em ordem,
mas o mercado parece estar sem paciência com a empresa
Em receita, superou rivais de respeito como a IBM, para se tornar a maior empresa de tecnologia do mundo, com faturamento anual de US$ 120 bilhões – posto perdido para a coreana Samsung, em 2009. Nos últimos anos, a companhia tem acrescentado sombras escuras a essa narrativa de sucesso, bem exemplificadas pelo prejuízo líquido, registrado no ano fiscal de 2012, de US$ 12,6 bilhões. Foi o primeiro período em que a HP esteve comandada por Meg Whitman, CEO que assumiu o cargo no fim de 2011, e que vem ao Brasil, pela primeira vez, nesta semana. Em uma década, ela é o quarto CEO da gigante americana. Antes dela, Carly Fiorina, Mark Hurd e Léo Apotheker foram demitidos.
“Tantas mudanças causaram ruptura nas operações”, diz Roger Kay, presidente da consultoria americana especializada em tecnologia Endpoint Technology Associates. Para evitar o mesmo destino de seus antecessores, Meg tem pela frente uma missão complexa e que não permite atalhos. A executiva pouco mostrou a que veio. E também estabeleceu o prazo de cinco anos para chegar ao fim do processo. É um tempo longo, capaz de deixar os investidores insatisfeitos, e que dará oportunidades para seus competidores ganharem espaço. É só observar como o mercado de ações percebe a empresa, atualmente. O valor de mercado atual da HP está em US$ 43,5 bilhões, menos da metade do que valia em 2010 – ano em que Hurd foi demitido sob a acusação de assédio sexual.
A rival IBM, por exemplo, vale hoje US$ 237 bilhões, mais de cinco vezes a HP. Mesmo a eBay, empresa que Meg comandou por uma década, está em uma situação melhor. “Muitos dos mercados da HP estão embaixo d’água”, afirma Rob Enderle, analista americano, dono da consultoria Enderle Group. “O negócio de impressão está perdendo espaço com o uso de menos papel no mundo, e os computadores pessoais estão sendo trocados pelos smartphones e tablets.” As perspectivas são, de fato, preocupantes. Segundo a empresa de pesquisa americana IDC, a venda mundial de computadores ficou 3,7% menor em 2012. Neste ano, deve cair 2%. Por outro lado, a venda de smartphones deve crescer 65%, em unidades, entre 2013 e 2017.
Nessa área, a HP só coleciona trapalhadas feitas na curta gestão de Apotheker. O executivo anunciou, em 2011, que utilizaria o sistema operacional da Palm, comprada pela HP, para servir de base para os seus smartphones e tablets. Mas, apenas sete semanas após o lançamento do tablet TouchPad, ele acabou com o plano. Outra confusão de Apotheker foi a compra da britânica Autonomy, por US$ 10 bilhões, dez vezes o seu faturamento anual. No começo deste ano, a companhia teve de realizar uma baixa contábil de US$ 8,8 bilhões por conta de irregularidades na Autonomy. A HP tem um passado brilhante. A espinhosa missão de Meg é evitar que seu futuro seja apenas história.