DINHEIRO ? A Nossa Caixa acaba de ser apontada pela FGV como o banco mais rentável do País em 2005, superando as instituições privadas. Qual o segredo?
CARLOS EDUARDO MONTEIRO
? Existem várias causas. A primeira delas é a administração profissional. Costumo dizer que a Nossa Caixa é um banco privado com controle público. A interferência do governo do Estado é zero. O segundo ponto é que, em 2004, o banco decidiu se voltar para o Estado de São Paulo. Antes, havia indefinição quanto a uma expansão nacional. Decidido o foco, ampliamos o leque de produtos, segmentamos o atendimento nas agências pelo tipo de público e modernizamos os caixas eletrônicos. Nosso auto-atendimento parecia serviço público. Atendia das 8h às 18h, de segunda a sexta. Trocamos 1.500 máquinas.

DINHEIRO ? O banco está registrando resultados recordes e remunerando bem seus acionistas. Como fica a discussão sobre privatização?
MONTEIRO
? Uma lei de 2001 da Assembléia Legislativa autoriza a venda de até 49% do capital do banco, mas não a sua privatização. Eu nunca ouvi falar da privatização da Nossa Caixa.

DINHEIRO ? Mas os investidores apostam na privatização. Tanto que, após o anúncio da venda do BankBoston para o Itaú, as ações da Nossa Caixa subiram, com a expectativa de novos negócios no setor.
MONTEIRO
? Nossos investidores apostam num bom resultado. As ações da Nossa Caixa têm tido um desempenho excelente desde a abertura de capital. Somos a única estatal que compete de verdade no mercado, que não exerce monopólio. Para esse tipo de estatal, acredito que deveriam valer as regras do setor privado. Nós nos livraríamos de amarras como a obrigação de concurso público para admissão de funcionários, licitações que me obrigam a comprar um serviço de pior qualidade por conta do preço menor ou a proibição de contratos de gestão.

DINHEIRO ? Há mais vantagens ou desvantagens em ser um banco público?
MONTEIRO
? A Nossa Caixa detém, hoje, de R$ 11 bilhões a R$ 12 bilhões em depósitos judiciais. E só tem isso porque é um banco público. Esses depósitos serão mantidos pelos próximos 13 anos, segundo o acordo feito com o Tribunal de Justiça. É um custo de captação baixo. Mas, para o sistema financeiro, o melhor seria que todos tivessem igualdade de condições. Os bancos privados teriam acesso a depósitos judiciais e a folhas de pagamento de funcionários públicos, enquanto os estatais perderiam as amarras de uma empresa pública para funcionar com uma empresa privada. Não há mais espaço para banco público que não se preocupe com custos, com eficiência e rentabilidade.

DINHEIRO ? Foi vendido 25% do capital do banco. Vai haver uma segunda emissão?
MONTEIRO
? Não sei. O Estado é que vai decidir se vai e quando vai. A abertura de capital foi essencial para a sobrevivência do banco. Hoje, a gente tem acionista minoritário, regras de governança corporativa, arbitragem na solução de conflitos societários. Isso é a maior blindagem contra qualquer interferência política no banco. Aposto que o Roberto Setubal interfere mais no dia-a-dia do Itaú do que o Estado na Nossa Caixa.

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?Roberto Setubal interfere mais no Itaú do que o Estado na Nossa Caixa?.

DINHEIRO ? A evolução do sistema financeiro ajudou?
MONTEIRO
? Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ficou vedada, definitivamente, a realização de operações de crédito entre um banco e o Estado. Nós somos, hoje, impedidos de fazer operações financeiras com qualquer estatal ou com o governo.

DINHEIRO ? O banco também aposta em parcerias, como a venda para a Mapfre de 51% da subsidiária de seguros e previdência. Está funcionando?
MONTEIRO
? A Mapfre começou a operar, efetivamente, em setembro. E está superando todas as metas estipuladas. A meta para o primeiro semestre era vender 430 mil apólices. Vendemos 380 mil até maio. Ou seja, em cinco meses alcançamos 90% do objetivo.

DINHEIRO ? E em que pé está a venda do braço de capitalização?
MONTEIRO
? Fizemos o processo de leilão, três empresas se apresentaram (MetLife, Mapfre e Icatu Hartford), mas duas não foram pré-qualificadas pela Susep (Superintendência de Seguros Privados). Restando só uma empresa, não havia mais sentido em fazer o leilão. Estamos decidindo, ainda, se vamos refazer o processo, com alienação do controle, ou se vamos firmar uma parceria nos moldes da que fizemos com a Rodobens, para a venda de consórcio imobiliário nas nossas agências.

DINHEIRO ? A Nossa Caixa acaba de ser apontada pela FGV como o banco mais rentável do País em 2005, superando as instituições privadas. Qual o segredo?
CARLOS EDUARDO MONTEIRO
? Existem várias causas. A primeira delas é a administração profissional. Costumo dizer que a Nossa Caixa é um banco privado com controle público. A interferência do governo do Estado é zero. O segundo ponto é que, em 2004, o banco decidiu se voltar para o Estado de São Paulo. Antes, havia indefinição quanto a uma expansão nacional. Decidido o foco, ampliamos o leque de produtos, segmentamos o atendimento nas agências pelo tipo de público e modernizamos os caixas eletrônicos. Nosso auto-atendimento parecia serviço público. Atendia das 8h às 18h, de segunda a sexta. Trocamos 1.500 máquinas.

DINHEIRO ? O banco está registrando resultados recordes e remunerando bem seus acionistas. Como fica a discussão sobre privatização?
MONTEIRO
? Uma lei de 2001 da Assembléia Legislativa autoriza a venda de até 49% do capital do banco, mas não a sua privatização. Eu nunca ouvi falar da privatização da Nossa Caixa.

DINHEIRO ? Mas os investidores apostam na privatização. Tanto que, após o anúncio da venda do BankBoston para o Itaú, as ações da Nossa Caixa subiram, com a expectativa de novos negócios no setor.
MONTEIRO
? Nossos investidores apostam num bom resultado. As ações da Nossa Caixa têm tido um desempenho excelente desde a abertura de capital. Somos a única estatal que compete de verdade no mercado, que não exerce monopólio. Para esse tipo de estatal, acredito que deveriam valer as regras do setor privado. Nós nos livraríamos de amarras como a obrigação de concurso público para admissão de funcionários, licitações que me obrigam a comprar um serviço de pior qualidade por conta do preço menor ou a proibição de contratos de gestão.

DINHEIRO ? Há mais vantagens ou desvantagens em ser um banco público?
MONTEIRO
? A Nossa Caixa detém, hoje, de R$ 11 bilhões a R$ 12 bilhões em depósitos judiciais. E só tem isso porque é um banco público. Esses depósitos serão mantidos pelos próximos 13 anos, segundo o acordo feito com o Tribunal de Justiça. É um custo de captação baixo. Mas, para o sistema financeiro, o melhor seria que todos tivessem igualdade de condições. Os bancos privados teriam acesso a depósitos judiciais e a folhas de pagamento de funcionários públicos, enquanto os estatais perderiam as amarras de uma empresa pública para funcionar com uma empresa privada. Não há mais espaço para banco público que não se preocupe com custos, com eficiência e rentabilidade.

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?Armínio e eu entendemos que o Código de Defesa do Consumidor não vale para juros?.

DINHEIRO ? Foi vendido 25% do capital do banco. Vai haver uma segunda emissão?
MONTEIRO
? Não sei. O Estado é que vai decidir se vai e quando vai. A abertura de capital foi essencial para a sobrevivência do banco. Hoje, a gente tem acionista minoritário, regras de governança corporativa, arbitragem na solução de conflitos societários. Isso é a maior blindagem contra qualquer interferência política no banco. Aposto que o Roberto Setubal interfere mais no dia-a-dia do Itaú do que o Estado na Nossa Caixa.

DINHEIRO ? A evolução do sistema financeiro ajudou?
MONTEIRO
? Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ficou vedada, definitivamente, a realização de operações de crédito entre um banco e o Estado. Nós somos, hoje, impedidos de fazer operações financeiras com qualquer estatal ou com o governo.

DINHEIRO ? O banco também aposta em parcerias, como a venda para a Mapfre de 51% da subsidiária de seguros e previdência. Está funcionando?
MONTEIRO
? A Mapfre começou a operar, efetivamente, em setembro. E está superando todas as metas estipuladas. A meta para o primeiro semestre era vender 430 mil apólices. Vendemos 380 mil até maio. Ou seja, em cinco meses alcançamos 90% do objetivo.

DINHEIRO ? E em que pé está a venda do braço de capitalização?
MONTEIRO
? Fizemos o processo de leilão, três empresas se apresentaram (MetLife, Mapfre e Icatu Hartford), mas duas não foram pré-qualificadas pela Susep (Superintendência de Seguros Privados). Restando só uma empresa, não havia mais sentido em fazer o leilão. Estamos decidindo, ainda, se vamos refazer o processo, com alienação do controle, ou se vamos firmar uma parceria nos moldes da que fizemos com a Rodobens, para a venda de consórcio imobiliário nas nossas agências.

DINHEIRO ? Outras áreas podem ser vendidas?
MONTEIRO
? Estamos discutindo se vendemos ou não a financeira, que é um ramo bastante complicado. Queremos também transformar a área de gestão de recursos de terceiros em distribuidora, pois numa DTVM é possível um leque maior de operações.

DINHEIRO ? Os resultados continuam bons em 2006?
MONTEIRO
? Nosso retorno no primeiro trimestre foi 96% superior ao do primeiro trimestre de 2005.

DINHEIRO ? Esse bom resultado foi impulsionado pelo aumento da oferta de crédito. Mas esse crescimento veio acompanhado da inadimplência, que subiu quase 2%. Como o banco lida com esse problema?
MONTEIRO
? Todos os bancos aumentaram suas provisões para perdas, com exceção do Unibanco. A gente deve ter também uma melhora da carteira de crédito, pois vamos receber (as contas de) 640 mil funcionários públicos (herdados do Banespa, seis anos depois da privatização), uma categoria que apresenta, tradicionalmente, baixa inadimplência. Vamos trabalhar forte com desconto em folha de pagamento.

DINHEIRO ? Como a Nossa Caixa está se preparando para receber, em janeiro de 2007, as contas-salário desses funcionários do Estado?
MONTEIRO
? Temos um grupo de trabalho constituído pelo governador, com gente da Fazenda e da Nossa Caixa, para mapear onde estão esses funcionários, onde é preciso ter novas agências. Até o fim do ano, abriremos 44 agências e 48 PABs (Postos de Atendimento Bancário).

DINHEIRO ? E o que o banco vai fazer para retê-los como clientes, já que eles devem ser correntistas de outros bancos?
MONTEIRO
? Realmente, pesquisamos os hábitos nessa faixa de renda, e a maioria trabalha com um banco. Obrigatoriamente, eles vão receber conosco. Temos de mostrar que oferecemos mais que o concorrente.

DINHEIRO ? O Supremo acaba de decidir que o Código de Defesa do Consumidor vale para os bancos. Como o senhor avalia essa decisão?
MONTEIRO
? Eu trabalhava na Procuradoria Geral do Banco Central quando a Consif (Confederação Nacional do Sistema Financeiro) ingressou com a Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a aplicação do CDC. Eu, Armínio (Fraga, ex-presidente do BC) e Sérgio Darcy (ex-diretor de Normas do BC) fizemos uma reunião com dez ministros do STJ e conversamos sobre isso. Continuamos entendendo a mesma coisa: o Código de Defesa do Consumidor se aplica aos bancos, com exceção de taxa de juros.

DINHEIRO ? Por quê?
MONTEIRO
? Porque é questão de preço. Se duas redes de varejo compram uma geladeira por R$ 100 cada, uma vende por R$ 1.000 e a outra por R$ 500, isso não é problema do Código de Defesa do Consumidor. Da mesma forma, se dois bancos captam a 2,3%, um empresta a 7% e outro empresta a 4%, isso também não é problema do código. No momento em que o Poder Judiciário puder dizer que algum juro é abusivo, ele terá de dizer o que não é abusivo, e daí passaremos a ter um novo tabelador de preço.

DINHEIRO ? Em 2005, o Procon registrava 65 reclamações contra a Nossa Caixa, 50 não atendidas. Não é um bom retrospecto…
MONTEIRO
? Mas 65 reclamações é muito pouco.

DINHEIRO ? Contra o Bradesco, que é bem maior que a Nossa Caixa, havia 87 reclamações.
MONTEIRO
? Reclamação não atendida não quer dizer, necessariamente, que não foi resolvida. Mas pode ser perda de eficiência nossa não ter resolvido rápido.

DINHEIRO ? A Nossa Caixa inicia, em julho, a sua primeira campanha publicitária em quatro anos. Não é complicado colocar propaganda no ar logo após as denúncias de direcionamento de verbas publicitárias do banco para políticos do PSDB?
MONTEIRO
? Claro que não. Tenho absoluta certeza de que são denúncias infundadas. Eu dei a notícia dos fatos para o Tribunal de Contas, depus durante sete horas e meia na Assembléia Legislativa e não sobraram dúvidas. Isso é assunto encerrado.

DINHEIRO ? Qual o objetivo da campanha?
MONTEIRO
? A Nossa Caixa vem se preparando, crescendo e competindo, mas é preciso que as pessoas conheçam o banco. O desconhecimento é grande.

DINHEIRO ? Há alguma pesquisa que meça isso?
MONTEIRO
? Fizemos uma pesquisa de opinião espontânea há pouco tempo e ninguém lembrou o nome da Nossa Caixa. Há uma percepção de que ainda se trata de um banco antigo. Fizemos um outro levantamento com funcionários públicos que recebem pela Nossa Caixa, e o índice de satisfação foi enorme. Existe um preconceito contra o banco.