Já são quase cinco décadas que separam a lida nas plantações de trigo, cultivadas pela família nos anos 50, em Erechim (RS), ao pioneiro Sonda Export, canal virtual de vendas de produtos alimentícios, destinado aos 800 mil brasileiros que vivem nos EUA. Basta que o saudoso consumidor acesse o site e escolha, por exemplo, uma marca de bombom que inexiste na terra de Bush. O prazo de entrega é de 48 horas. O inventor desse delivery internacional, o mesmo que durante anos trabalhou nos trigais, é hoje o fundador e sócio da rede de supermercados que leva seu sobrenome, Delcir Sonda. Da roça para a avenida Paulista, sede do grupo, ele mescla a rotina do empresário bem-sucedido com hábitos adquiridos da família camponesa de origem italiana. Não ara mais a terra de sol a sol, mas ainda trabalha 13 horas por dia. Não faz mais as compras de legumes e hortaliças no Ceasa para abastecer seus mercados, mas cultiva a mania de selecionar os hortifrutis que leva para casa. A maior virtude desse gaúcho de 57 anos, no entanto, é a resistência. Para se livrar do assédio de redes estrangeiras que queriam comprar seu negócio, em 2000, ele chacoalhou o Sonda com uma reestruturação geral. Investiu em pessoal, melhorou o acabamento das lojas e criou setores só de importados, tudo em busca de consumidores abastados. ?Temos a sofisticação do Pão de Açúcar com o preço do Sonda?, compara Delcir.

A percepção do Sonda contempla uma mudança nos hábitos do brasileiro. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Merchandising, o consumidor passava 78 minutos dentro do supermercado em 1998. Hoje fica 46 minutos. ?Investir na qualidade e na oferta, além de aprimorar o ambiente interno, é a saída para tentar esticar essa permanência. Quanto mais o consumidor ficar no mercado, maior será sua compra?, avalia a consultora de varejo Heloísa Omine.

Se a estratégia deu certo? Distante do porte das maiores do segmento ? a CBD, Companhia Brasileira de Distribuição, que engloba Pão de Açúcar, Extra e Compre Bem, faturou R$ 12,8 bilhões em 2003 ?, o Sonda conseguiu inverter sua posição na onda de boatos. Em vez de alvo dos grandes, ele se lança candidato a comprar os menores. ?Precisamos de uma segunda bandeira?, anuncia Delcir, sem revelar nomes. A estratégia de beliscar o mercado americano é outra mostra de ousadia. O empresário nem arrisca quanto o Sonda Export vai render, mas comemora o potencial de 800 mil novos consumidores.

O Sonda, hoje, é o 14º maior supermercadista do País (quinto de São Paulo),
com faturamento de R$ 683 milhões em 2004. De acordo com dados da Abras, Associação Brasileira de Supermercados, cada metro quadrado de área de
vendas do Sonda tem R$ 17 mil de ?receita? anual ? divisão do faturamento pela metragem das lojas. A CBD obtém R$ 13 mil/m2 e o Carrefour, R$ 11,1 mil/m2. ?Nossas lojas têm porte médio. Faturam como os hipermercados dos rivais, mas com custos menores?, explica Delcir.

Com previsão de expandir 15% este ano, o empresário lamenta a dificuldade de obter crédito. ?Nosso crescimento depende de recursos próprios, tanto que só abriremos três mercados em 2005?, diz. ?Se tivéssemos acesso ao BNDES como as grandes, já teríamos dobrado o tamanho do Sonda?. Cada inauguração exige R$ 15 milhões. ?Eles emprestam R$ 10 milhões e eu tenho que gastar primeiro e, depois, ir lá com um bolo de recibos para comprovar as despesas. Depois que eu gastei, não preciso mais!?, esbraveja. ?Espero que o Guido Mantega seja mais audacioso que o Carlos Lessa (ex-presidente do BNDES). Cada inauguração abre 300 empregos e é disso que o País precisa.? 

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