02/02/2021 - 17:26
O setor automotivo está se transformando em um território perigoso para o interessado em adquirir um carro novo. Os preços dos automotores não param de subir e o sonho do veículo zero quilômetro fica cada vez mais distante. Com o aperto que as empresas do setor passam, devido à pandemia da covid-19, dificilmente o consumidor conseguirá negociar descontos na compra de veículos.
A nova realidade é clara, não haverá margem para negociação de descontos, afirma José Rinaldo Caporal, CEO da Auto Avaliar, provedora de soluções para compra, venda e gestão de veículos usados.
Nesta terça-feira, a Fenabrave (associação que representa as concessionárias de automóveis) divulgou queda de 11,5% nas vendas de veículos novos em comparação com janeiro de 2020 e 29,9% na comparação com dezembro.
Os pouco mais de 171,2 mil carros emplacados no mês passado interromperam uma sequência positiva que durava sete meses e dava fôlego a um dos setores mais afetados pela pandemia.
Vale lembrar que o mês também contou com o rastro de incertezas deixadas pela Ford, que anunciou no dia 11 de janeiro o fechamento das fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP).
+ Presidente do Senado pretende viabilizar aprovação do Orçamento de 2021 até março
+ Deslocamento da demanda de serviços para bens ajuda na recuperação da indústria
Segundo analistas do mercado, essa diminuição de novos emplacamentos é reflexo da desaceleração do setor industrial, que está sofrendo com a baixa demanda dos consumidores, e o aumento de custos em decorrência da pandemia da covid-19.
Com estoques reduzidos e o preço nas alturas, os consumidores terão de pesquisar muito bem antes de fecharem bons negócios e comprarem o carro 0km do sonhos.
“Com a baixa produção de veículos, a demanda é maior que a oferta e está mais difícil negociar descontos. No caso do setor de usados e seminovos, estamos vivendo um período em que o giro de estoque nas lojas e concessionárias está muito alto, ou seja, os veículos são vendidos em ritmo muito maior e isso não é um termômetro favorável na questão dos preços”, indicou Caporal.
Alta do ICMS no bolso
Em vigência desde o dia 15 de janeiro, o aumento nas alíquotas do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em São Paulo – maior mercado do País – vai interferir ainda mais nos preços de veículos novos e usados. A alíquota para os carros novos passou de 12% para 14,5% e nos usados saltou de 1,80% para 5,53% – escalada de 207%.
É bem simples entender o impacto desses aumentos no mercado: até o dia 15, um carro usado custando R$ 50 mil gerava um ICMS de R$ 900. Com a nova regra, este mesmo carro passa a gerar um imposto de R$ 2.763. Isso tudo sem contar os encargos federais que incidem na compra e venda dos veículos e certamente serão repassados ao consumidor final.
“Com a escassez e aumento de preço do zero quilômetro, o mercado de usados foi a grande fuga do consumidor. Essa migração para o mercado de usados já era uma realidade, mas houve uma aceleração nesse movimento a partir da segunda metade de 2020. Especificamente em São Paulo, o aumento abrupto do ICMS contribuiu bastante para a subida do preço de veículos, mas além disso, o próprio crescimento da demanda contribuiu para a valorização do produto”, pontuou Leandro Chacon, Head of Sales da Volanty, startup financiada pelo SoftBank e que controla um marketplace de compra e venda de veículos usados.
Saída da Ford vai alterar o mercado de novos e usados?
Os especialistas acreditam que o fim das atividades das fábricas da Ford no Brasil não vai impactar no mercado automotivo neste primeiro momento. E a explicação é a seguinte: o consumidor tende a migrar de uma marca para a outra, colocando novos players no lugar daquela que já figurou entre as maiores montadoras do País.
“No mesmo momento em que a Ford anunciou o fechamento das fábricas, outros competidores anunciaram altos investimentos no setor para os próximos anos. A capacidade industrial instalada é alta e o espaço deixado pela Ford será ocupado por outras marcas”, disse Chacon.
A queda no volume de emplacamentos, no entanto, ainda não é sinal de alerta para outras montadoras que estão acompanhando o que aconteceu na Ford, mas isso não impede que elas, no futuro, anunciem a saída do mercado brasileiro. Pesa, por outro lado, a falta de incentivos à produção e a baixa demanda por carros novos.
“Nos últimos 15 anos não atingimos a produção instalada no Brasil de 5MM de veículos. Isso deve a questões estruturais do País. Manter fábricas e produzir no Brasil representa um custo elevado para as montadoras e se não há demanda que justifique esses investimentos, a decisão pode levar a migrar para outros países”, avaliou Caporal, que também aponta como problema o ainda incipiente acesso a linhas de crédito e financiamento, inacessíveis para grande parte da população que sonha com o carro zero quilômetros.