07/09/2005 - 7:00
A filial brasileira da Sony fechou o ano passado com um faturamento de R$ 1 bilhão, crescimento de 40% em relação a 2003. Em dezembro deste ano, deverá registrar outros 10% de expansão. O balanço continuará exibindo a cor azul: o lucro de 2004 bateu em R$ 60 milhões e o de 2005 chegará nos R$ 80 milhões. São resultados significativos para um grupo que enfrenta dificuldades no mundo (a atividade eletroeletrônica da gigante japonesa caminha para o segundo exercício com prejuízo) e atua num setor com baixas margens no Brasil. Mas há uma sombra ofuscando o brilho dos resultados alcançados pela companhia em território brasileiro. Hoje, a Sony só vende 20% do total de produtos comercia-lizados com sua própria marca no Brasil. Isso mesmo. A companhia coloca no mercado anualmente 120 mil unidades com sua grife estampada, mas os brasileiros compram 600 mil. A diferença está nas mãos do contrabando, que entra no Brasil pelo Paraguai ou pelos portos brasileiros. ?É uma situação inusitada. Competimos com nossos próprios produtos?, afirma o presidente da empresa Minoru Itaya, um japonês natural de Yokohama, dono de um português fluente, ternos bem cortados e gravatas elegantes.
O contrabando, é claro, leva vantagem no preço, mas não só nele. O cliente também prefere arrebatar um produto Sony ?made in Japan? do que o ?made in Brazil?, estampado nos itens fabricados na unidade da empresa em Manaus. ?Ainda há a idéia de que a qualidade é superior, o que é um engano, pois mantemos os mesmos padrões em qualquer lugar do mundo?, afirma Itaya. O principal incentivo para o contrabando, segundo ele, vem da carga tributária. Cerca de 45% do preço final de um produto Sony corresponde a impostos e taxas dos mais diversos tipos. Há também pouca fiscalização. De acordo com o Sindireceita, apenas 3% das mercadorias que chegam ao Porto de Santos são fiscalizadas. ?É um risco baixo para um retorno alto?, diz Itaya. Para driblar esse tipo de concorrência, a Sony mudou sua forma de fazer negócios no Brasil. Nos últimos anos, abandonou produtos básicos e se concentrou em itens com tecnologia mais avançada. O período entre o lançamento de um produto no Japão e o desembarque no Brasil caiu para dois a três meses, contra cerca de um ano de tempos atrás. Só neste ano, serão 58 novidades. Para 2006, estão previstas outras 70.
Entre elas, estão quatro televisores LCD com tamanhos entre 19 e 32 polegadas, e preços de R$ 5 mil a R$ 10 mil. Até agora, a marca só tinha uma TV de plasma de 42 polegadas no mercado, além dos aparelhos de tela plana com tecnologia tradicional. ?As vendas desse setor devem dobrar a cada ano e queremos aproveitar essa onda?, afirma Itaya. A mesma preocupação o motivou a trazer uma nova geração de walkman para as lojas brasileiras. Nada a ver com os antigos toca CDs portáteis. Agora, eles tocam MP3 e concorrem com o iPod. ?Mas temos design mais arrojado, a fabricação é nossa e a bateria dura muito mais?, cutuca Itaya. A aposta em produtos de alto teor tecnológico evitou que o estrago provocado pelo contrabando fosse maior. Mas ao mesmo tempo estreita o campo de atuação dos japoneses no País. Hoje, a Sony disputa 5% do mercado consumidor total brasileiro. ?Não há condições de competir com produtos abaixo de R$ 500?, diz Itaya. Ou seja, a sombra se mantém sobre os negócios da Sony por aqui.