21/05/2010 - 6:00
Há mais de dez anos o Napster ? programa que permitia baixar músicas sem pagar pela internet ? colocou a indústria fonográfica em xeque. Desde então, o setor viu seu faturamento desabar. Nos Estados Unidos, a receita das gravadoras caiu de US$ 14,6 bilhões, em 1999, para US$ 7,6 bilhões, em 2009. No Brasil, não foi diferente.
“Lucramos nos últimos quatro anos, apesar do período extremamente desafiador”
Alexandre Schiavo, presidente da Sony Music Brasil
As vendas dos CDs passaram, em dez anos, de 100 milhões de unidades para 20 milhões. Qual, então, a solução? Toda a indústria foi aos tribunais brigar pelos seus direitos. Paralelamente, alguns selos tentaram se adaptar aos novos tempos. Foi o que fez a Sony Music, comandada por Alexandre Schiavo no Brasil. Com uma estratégia arrojada e a aposta nas novas mídias, ele conseguiu virar o jogo. ?O pior já passou?, afirmou Schiavo, em entrevista exclusiva à DINHEIRO.
A Sony Music percebeu que seu negócio tradicional de gravar e vender CDs, apesar de representar ainda a maior fatia do faturamento, estava se tornando irrelevante. Por isso, era preciso investir em novas áreas. Hoje, a companhia organiza shows, vende músicas para celulares, faz parceria com empresas de telefonia e divulga os artistas de seu catálogo nas mais diversas mídias digitais. O resultado não demorou a aparecer. Em 2009, a empresa faturou R$ 150 milhões.
Novo modelo: a empresa organiza shows, como o de Ana Cañas e ofereceu download gratuito de músicas de Beyoncé
As vendas de músicas digitais representaram 16% desse valor, superior à média de 12% dos concorrentes. O potencial de crescimento é imenso, visto que 95% das canções baixadas no mundo não têm seus direitos autorais pagos. E é o consumidor deste tipo de serviço que Schiavo quer conquistar. A Sony Music vendeu 20 milhões de músicas digitalmente só no ano passado.
Grande parte delas para celulares, aposta que começou em 2007, com a banda mineira Skank. Cerca de um milhão de aparelhos com canções do Jota Quest, outro artista da Sony, foram comercializados em 2008. ?Os selos musicais foram obrigados a se adaptar aos novos hábitos dos consumidores?, diz Paulo Rosa, presidente da ABPD, entidade que representa as grandes gravadoras.
Outro sinal de mudança da Sony Music foi a forma de se comunicar com os novos consumidores. Os sertanejos Victor & Leo, artistas da Sony Music e campeões na venda de CDs e DVDs no País , ganharam um aplicativo gratuito para o iPhone. No show da americana Beyoncé, em São Paulo, o ingresso das 50 mil pessoas que foram à apresentação dava direito a baixar ? de graça ? músicas da artista. A gravadora criou também uma divisão que organiza shows, um setor bastante promissor.
Parte da virada da Sony deve-se a Alexandre Schiavo. Com 41 anos, o executivo, que começou como estagiário, teve uma ascensão meteórica. Há 18 anos na gravadora, ele trabalhou de 1996 a 2004 nos EUA. Assumiu a operação nacional em 2004, durante um momento delicado. A empresa vinha de sucessivos prejuízos.
Após a fusão com a BMG, em 2005, ele conduziu um programa de reestruturação. ?Lucramos nos últimos quatro anos, apesar do período extremamente desafiador.? No ano passado, a gravadora assumiu o primeiro lugar no mercado nacional, com crescimento de 7% na venda de CDs e de 34% na de DVDs. O mercado recuou 9% no segmento de CDs e subiu 4% no de DVDs. A nova aposta é na tecnologia 3D. Apresentações ao vivo em Blu-ray tridimensionais devem ser lançadas a partir de 2011. Com isso, Schiavo acredita que o público realizará o velho sonho de ?estar no show sem sair de casa?.
A virada da Sony
Como a gravadora reinventou seu negócio
2006 ? Padre Marcelo
Após fusão com a BMG, fez uma extensa reestruturação. Só a renegociação de contratos gerou economia de US$ 20 milhões. Adotou uma política de preços menores, com lançamentos, hoje, a partir de R$ 19,90 e catálogo a R$ 9,90. Em 2006, padre Marcelo teve o CD mais vendido.
2007 ? Skank
A banda mineira foi a primeira a ter suas músicas em celulares e a primeira do País a ganhar o prêmio celular de ouro. No ano seguinte, o Jota Quest vendeu um milhão de canções para celulares. Atualmente, operadoras e fabricantes continuam apostando na música, mas com a criação de lojas próprias.
Mídias digitais: a dupla Victor & Leo ganhou aplicativo para o iPhone.
O Skank foi destaque em celular. Padre Marcelo marca o início da nova fase da Sony
2008 ? Ana Cañas
A cantora inaugurou uma nova relação entre a gravadora e seus artistas. Com a criação da Day1, a Sony passou a cuidar de toda a carreira da cantora. Com um modelo flexível, muitos outros artistas vieram depois dela. E mais de 500 shows foram organizados pela Day1 em 2009.
2009 ? Victor & Leo
Um aplicativo gratuito para iPhone com tudo sobre seu ídolo: biografia, discografia, vídeos e músicas. Foi exatamente o que a Sony fez para a dupla sertaneja. Ainda disponível, foi baixado mais de 16 mil vezes. Expandir o modelo para outras plataformas e buscar patrocinadores são os planos atuais.
2010 ? Beyoncé
No show da cantora em São Paulo, 50 mil pessoas conheceram uma nova forma de consumo de música digital. Ao comprar o ingresso para o show, elas ganharam um cartão que servia tanto para entrar no show como para baixar músicas da artista. Parcerias com empresas já estão previstas.