06/06/2007 - 7:00
US$ 17 bilhões já estão sendo investidos em novas usinas no Brasil 400 mil novos empregos
Um jeito simples de prever uma tendência econômica é descobrir onde os grandes financistas colocam seu próprio dinheiro. Quando se trata de George Soros, o investidor húngaro naturalizado americano que dobrou o Banco da Inglaterra em 1992, tornandose assim o mais lendário especulador das finanças mundiais, a chance de acerto é maior. Afinal, o patrimônio pessoal de Soros já alcança US$ 8,5 bilhões e, segundo reza a lenda, ele jamais perdeu uma aposta. Pois bem. O que Soros tem feito? Nesta semana, ele estará no Brasil. Participará em São Paulo do Ethanol Summit e falará a um grupo de empresários sobre ?respostas para o aquecimento global?. Mas essa é só a parte pública da visita.
George Soros: 150 mil hectares em Mato Grosso do Sul
Embora tenha uma atuação política crescente, Soros é essencialmente um homem do dinheiro. Ele sente seu cheiro, sabe captar seu movimento e, como ninguém, é capaz de multiplicá-lo. Graças a essa habilidade, o seu Quantum Fund se tornou um dos fundos mais rentáveis de todos os tempos. Hoje, depois de lucrar bilhões com as crises cambiais dos países emergentes, Soros tem se dedicado mais à economia real. E será essa a parte quente da sua visita.
DANIEL DANTAS: idéia de criar uma usina voltada à exportação no Pará
JONAS BARCELLOS: projeto de R$ 300 milhões no interior de São Paulo
Com US$ 900 milhões no bolso, ele chega para implantar uma empresa de etanol gigantesca, numa área de 150 mil hectares em Mato Grosso do Sul. ?Será um dos maiores projetos do Brasil?, tem dito Soros, que investe no agronegócio através da Adeco, empresa que nasceu na Argentina e há três anos desembarcou por aqui, comprando fazendas de soja, algodão e cafés especiais.
Projeto de Soros deve gerar uma receita anual de R$ 500 milhões
Apesar da diversificação, a agroenergia é hoje a grande aposta de Soros, que também adquiriu uma participação relevante na empresa americana ADM, a maior produtora de etanol à base de milho do mundo. No Brasil, os planos são até mais ambiciosos. A Adeco fatura US$ 125 milhões e o novo projeto de Mato Grosso do Sul irá gerar receita anual de US$ 500 milhões, quando estiver totalmente implantado. ?As máquinas da primeira usina começam a ser montadas já no mês de junho?, adiantou à DINHEIRO o executivo Marcelo Vieira, que responde pelos projetos de etanol de Soros. Ao todo, serão três unidades, nos municípios de Angélica e Ivinhema, palavra indígena cujo significado é ?terra prometida?, com capacidade para processar 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. É um tamanho semelhante ao de uma empresa tradicional como a São Martinho, que começou a ser negociada na Bovespa neste ano com grande sucesso e já teve uma participação vendida para a Mitsubishi. Negociar seu projeto em bolsa, daqui a alguns anos, seria o caminho natural para Soros, mas isso ainda não está definido. ?Estamos comprando terras e, portanto, temos planos de longo prazo para o Brasil?, diz o argentino Leonardo Berridi, que dirige as operações agropecuárias no País.
LUIZ CEZAR: fundo de US$ 600 milhões para projetos a partir do zero
ARMÍNIO FRAGA: na reta final para adquirir 15% da Usina Vale do Rosário
Soros foi o primeiro grande bilionário global a, efetivamente, colocar seu dinheiro na onda do etanol. Ao que tudo indica, muitos outros seguirão seu exemplo. De um ano para cá, nomes como Bill Gates (Microsof), Steve Case (AOL), Richard Branson (Virgin) e a dupla Larry Page-Sergei Brin (Google) também andaram visitando usinas e estudando investimentos no setor. A euforia atingiu tal ponto que o próprio presidente Lula, num discurso recente, disse que os usineiros estavam passando de ?bandidos? a ?heróis mundiais?. O fato é que, hoje, não há nenhuma atividade econômica que projete tanto o País no Exterior como o etanol. ?O Brasil nunca esteve diante de uma oportunidade tão evidente como a que estamos vivendo agora?, aponta Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica, a principal entidade de classe do setor canavieiro. Mario Garnero, do grupo Brasilinvest, é outro entusiasta. Num seminário em Nova York, que reuniu os ex-presidentes americanos George Bush e Bill Clinton, ele definiu o etanol como o ?talk of the town?, ou seja, o assunto de todas as rodas.
Todo esse otimismo é ancorado em três macrotendências. A primeira delas é genuinamente brasileira. Depois da introdução do carro flex, em 2003, o consumo de álcool combustível disparou no País.
Era da ordem de 10 bilhões de litros e deve chegar a 21 bilhões de litros em 2012.
Roberto Rodrigues aliou-se a Jeb Bush para criar um mercado global de álcool
Hoje, mais de 70% dos carros vendidos no Brasil têm motores bicombustíveis e a proporção deve aumentar com a entrada de novas montadoras nesse segmento ? a mais recente foi a Toyota. O segundo fenômeno é o preço do petróleo, que tem se mantido alto já há bastante tempo, por uma razão básica: as reservas estão se esgotando. Aliás, um dos sócios de Soros, Jim Rogers, previu que o barril do petróleo chegaria a US$ 150 em dez anos, o que daria estímulos ainda maiores ao etanol. O terceiro ponto é o efeito Al Gore, que tem sido o grande profeta do aquecimento global. Hoje, não há um único país relevante no mundo que não esteja discutindo mecanismos de adicionar biocombustíveis ao diesel ou à gasolina, de modo a reduzir emissões de carbono ? o mais recente foi a Nova Zelândia. ?Esse é um movimento irreversível, que irá criar um mercado global para o álcool?, diz o ex-ministro Roberto Rodrigues, que lidera a Comissão Interamericana para o Etanol, ao lado de Jeb Bush, ex-governador da Flórida.
Eduardo Carvalho foi peçachave na adoção do carro flex fuel no Brasil
Diante de um cenário tão claro, vários bilionários e financistas brasileiros também têm mergulhado na onda do etanol. Um deles é Armínio Fraga, ex-discípulo de Soros, que está na reta final da disputa pela aquisição de 15% das usinas Vale do Rosário e Santa Elisa, que, juntas, formam o segundo maior grupo sucroalcooleiro do País. Armínio estaria disposto a investir cerca de US$ 300 milhões no negócio, antes de uma abertura de capital em bolsa. Assim como ele, Luiz Cezar Fernandes, criador do Pactual, também está na disputa, mas ele tem uma política mais diversificada. Além da operação Vale do Rosário, ele tem US$ 600 milhões para investir em projetos novos e também na expansão de usinas já existentes. ?É uma alternativa mais viável?, diz ele. Estratégia distinta é a do banqueiro Daniel Dantas, que está criando um dos maiores projetos pecuários do País, no Sul do Pará, numa região próxima à ferrovia de Carajás. Como o solo da região é propício à cana-de-açúcar, é bastante provável que lá seja implantada uma usina voltada para a exportação. Num estágio mais avançado, está o empresário Jonas Barcellos, dono da Brasif e da Meta Asset Management, que está concluindo uma usina de R$ 300 milhões no interior de São Paulo.
Hoje, os investimentos já somam US$ 17 bilhões em novos projetos de etanol. O Brasil tem 325 usinas e outras 86 estão em fase adiantada de implantação. ?Os grandes atores dessa expansão ainda são os velhos usineiros?, diz Eduardo Pereira de Carvalho. Um dos mais tradicionais é Luiz Biagi, da Santa Elisa, que vê com bons olhos a chegada de novos investidores. ?Alguns são especuladores, outros estão vindo para passar só um ou dois verões no setor, mas todos são bem-vindos?, diz ele. ?Eles trazem idéias novas e injetam liquidez ao nosso negócio.? Tantos investimentos, no entanto, levantaram a hipótese de que poderia estar havendo uma bolha no setor.
Embora o risco exista, ele tem sido minimizado por vários aspectos ? o maior deles, a tendência de que vários países adotem misturas de etanol à gasolina. Só nos Estados Unidos, projetase que o consumo poderá saltar de 25 bilhões de litros para mais de 75 bilhões em poucos anos. ?O mercado vai se consolidar?, diz André Castello Branco, sócio da KPMG. ?Quem acreditar em bolha irá perder oportunidades.?
Ele, que atua na área de fusões, já começou até a ser procurado por grandes empresas de petróleo, interessadas no setor. Ou seja: a festa ainda nem esquentou.