A idéia surgiu num final de semana de muito sol numa praia no Litoral Norte de São Paulo. Por que não criar uma linha de óculos escuros? Tudo a ver com uma empresa que há 75 anos fabrica acessórios para esportes aquáticos. Estranho era enfrentar uma determinação da matriz da companhia que, algum tempo antes, havia descontinuado o produto por conta de vendas insatisfatórias. Roberto Jalonetsky pôs sua equipe de design para trabalhar. Desenvolveu 60 modelos de óculos ? entre eles, os de sol e os de grau ? e começou a vendê-los na Speedo do Brasil. Uma loucura
que só poderia ter partido da cabeça de um garotão de 24 anos, exímio nadador e surfista de fim de semana. Entre uma ousadia empresarial e outra, o diretor-geral da Speedo do Brasil conseguiu colocar o País no pódio. ?Estamos entre as dez maiores filiais nos cem países onde a marca opera?, conta Jalonetsky. A linha de óculos, para espanto até dos executivos de Londres, foi um dos pilares do desenvolvimento da marca em 2002 ? e chegou a crescer 35% ao mês.

Mas não é só pelo fato de fabricar óculos que a subsidiária virou a queridinha da matriz. A Speedo do Brasil transformou-se em um laboratório. Um celeiro de inovações, como gosta de descrever Jalonetsky. A explicação é óbvia: nada melhor que testar a aceitação de produtos esportivos ? que vão de shorts a roupas de ginástica e de raquetes de frescobol a bolas de vôlei ? em um país acostumado a praia e muito sol. ?Viramos parceiros mundiais da Speedo quando o assunto é inovação.? Exemplos não faltam. Quem não se lembra das pranchas de bodyboard (curtas e arredondadas), lançadas no Brasil nos anos 80? Pois a idéia foi exportada para as águas frias da Califórnia. Também não é raro o executivo encontrar biquínis desenhados por sua equipe vendidos lá fora. Afinal, se é impossível imaginar uma brasileira trajando imensos maiôs europeus, o contrário é plausível.

O sol ajuda. É verdade. Mas desde que Jalonetsky assumiu a companhia, há três anos, a Speedo vem dando braçadas à frente da concorrência. O administrador, que ainda não terminou seu mestrado, tinha no currículo passagens rápidas pela Globo e Castel Communications, uma gravadora inglesa. Trazia em sua bagagem, no entanto, uma arma que agradava a Speedo: uma especialização em administração ?cross cultural? no Canadá, um curso que ensina a adequar o dia-a-dia de multinacionais a realidades locais. E é exatamente isso que ele vem praticando por aqui. Em 2002, diante da crise, o executivo fez uma parada estratégica. Colocou a equipe para trabalhar na criação de produtos e ampliação de licenciamento. ?Vendemos 6,5 milhões de produtos, 9% acima de 2001?, conta. Um dos trunfos da septuagenária companhia é fabricar localmente todos os itens esportivos, na planta de Jundiaí (SP). ?Não vendemos um estilo mundial, criamos nossa moda aqui?, lembra. Essa estratégia garantiu que os preços da companhia se tornassem competitivos. E mais: fez com que os artigos caíssem no gosto dos brasileiros. A Speedo também saiu na dianteira de licenciamento de produtos. Há dez anos, fez um acordo comercial e deu largada na produção de meias. Hoje, assina parcerias em roupas íntimas e vai partir para os relógios de pulso. O resto das novidades Jalonetsky não revela. Mas é bom ficar de olho nas próximas ousadias do garoto.