O MAIOR VENCEDOR DAS PROVAS de natação nos Jogos Olímpicos de Pequim não precisou dar braçadas, não se preparou fisicamente nem necessitou de ajuda psicológica para manter a calma durante a competição. Por incrível que pareça, não estamos falando de Michael Phelps, o fenomenal nadador americano de 23 anos que se tornou o maior atleta da história das Olimpíadas ao quebrar o recorde de dez medalhas de ouro em participações nos Jogos. O maior recordista de Pequim atende pelo nome de LZR Racer, um maiô desenvolvido pela Speedo, marca australiana de artigos esportivos, em parceria com a Nasa. Das 25 medalhas de ouro disputadas no Cubo d’Água, até a quarta-feira 13, a marca levou 24. Entre elas, todas as medalhas conquistadas por Michael Phelps. Trata- se de um feito e tanto no universo do marketing esportivo. A grife praticamente afogou a concorrência formada pelas marcas Arena, Adidas, Blue Servent e TYR. Mais: de acordo com a agência de notícias Associated Press (AP), a Nike, quem diria, permitiu que alguns de seus atletas patrocinados usassem Speedo, contanto que escondessem o logo da marca. Foi, de fato, uma vitória de lavada da empresa que vestiu 90% dos nadadores em Pequim e chamou a atenção do mundo. “O retorno de mídia que estamos tendo é astronômico, imensurável”, diz Renato Hacker, diretor de marketing da Speedo no Brasil.

Isso é fruto de um investimento milionário no desenvolvimento do LZR Racer. Depois de mapear os corpos de 400 atletas para encontrar o tamanho ideal, engenheiros e técnicos criaram um mecanismo que permite a produção da peça sem costuras, a partir de um processo de soldagem ultrasônico – que cria silhuetas com menos ondulações e reduz o atrito com a água em até 6% em comparação com os outros maiôs. Apesar de ter passado pelo crivo dos órgãos esportivos internacionais, há quem diga que é um doping tecnológico. Desde que foi lançado, o LZR Racer ajudou a quebrar 50 recordes mundiais. “Sem dúvida, a tecnologia empregada nos maiôs da Speedo contribui para um melhor rendimento dos atletas”, disse à DINHEIRO Rômulo Noronha, o chefe da equipe de natação brasileira em Pequim. Os nadadores também reconhecem esse fato. Um dia antes do início da Olimpíada, a Speedo distribuiu o LZR Racer para os atletas no Cubo d’Água. A procura pelo acessório foi tão grande que alguns competidores trocaram cotoveladas na fila. “A Speedo alcançou um patamar no qual o atleta vai atrás da marca”, enfatiza José Cocco, presidente da J. Cocco Sports Marketing.

Diante desse cenário, as marcas rivais estão dando braçadas em busca do tempo perdido. “Essas inovações estimulam os concorrentes a buscar o melhor em inovação que se reverte em benefício ao esportista”, observa Ricardo Moura, supervisor técnico da equipe brasileira de natação. Guardadas as proporções, é uma corrida tecnológica semelhante à disputa entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) nos anos da Guerra Fria. A fabricante Arena criou uma nova roupa batizada de R-Evolution, a Adidas levou na bagagem a TechFit Powerweb e a TYR desenvolveu a Tracer Light. Nenhum desses produtos, por enquanto, fez cócegas na Speedo. A única ameaça à hegemonia da marca australiana veio da própria. Durante a disputa dos 200 metros borboleta, o nadador Michael Phelps teve sua visão prejudicada por causa do volume de água que entrou em seus óculos da Speedo. Phelps, que trajava um LZR Racer, levou o ouro, mas saiu reclamando dos óculos. “Isso tem um impacto negativo para a marca”, adverte Amir Somoggi, consultor da empresa Casual Auditores, especializada em negócios no esporte. Os próprios executivos da empresa disseram que foi um caso isolado. A julgar pelos números, nas raias do Cubo d’Água, a Speedo tem mais créditos do que débitos.