A maior rede varejista de material de escritório do mundo entrou no Brasil há pouco mais de um ano, mas poucos perceberam. Com quase duas mil lojas em 21 países e faturamento de US$ 16 bilhões em 2005, a Staples não estampou suas conhecidas fachadas vermelhas pelas ruas dos grandes centros brasileiros. Com discrição pouco comum às grandes redes americanas, a empresa comprou a loja virtual de produtos de escritório Officenet, em 2005, por valores não revelados. De lá para cá, tomou pé do mercado, melhorou processos com forte enfoque em tecnologia e mudou o comando da operação. Agora, planeja mostrar a que veio: a meta é transformar os R$ 185 milhões de faturamento no Brasil, neste ano, em R$ 1 bilhão em apenas quatro anos. ?Para atingir quatro anos. ?Para atingir essa cifra não tem jeito: teremos de ter lojas físicas?, diz Michel Piestun, presidente da Officenet. Em fase de planejamento estratégico, a empresa estuda maneiras para atingir seu objetivo. Aquisições, lojas próprias, franquias, nada está descartado. ?Estamos nos debruçando sobre as alternativas no momento?, afirma Piestun. Um dos aspectos em discussão é se a empresa seguirá vendendo só para empresas, como tem feito até agora, ou se abrirá as portas também para pessoas físicas.

Um grande diferencial trazido pela Staples diz respeito à tecnologia. Os sistemas Business Inteligence (BI) e de relacionamento com o consumidor ajudaram a loja virtual aumentar suas receitas em mais de 30% este ano. ?É impossível para os vendedores lembrarem de ligar para os 60 mil clientes quando seus estoques estão acabando?, diz Piestun. ?O sistema faz isso.? Evidentemente, os concorrentes locais têm procedimentos tecnológicos parecidos. Mas não há no País nenhuma rede de material de escritório com tantos canais de distribuição e atendendo públicos tão diferentes quanto a Staples. ?Eles entraram bem, comprando uma operação local estabelecida?, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria especializada em varejo Gouvêa de Souza & MD. ?E têm uma operação imbatível no resto do mundo.?

Apesar de não divulgar datas e valores para o projeto, a empresa certamente não terá problemas de caixa. O lucro líquido da Staples é o dobro da média do setor e, em 2005, beirou o US$ 1 bilhão. Sua missão no Brasil, entretanto, não será simples. No início da década, um grupo de empresários trouxe ao mercado brasileiro com grande estardalhaço a rede varejista de material de escritório OfficeMax. Com modelo parecido ao da Staples, ela fechou as portas em tempo recorde. ?Eles incorreram no erro clássico de trazer o modelo americano sem adaptação ao mercado nacional?, afirma Serrentino. ?O pequeno e médio empresário brasileiro não passa na loja para abastecer seu escritório, como faz o americano.? Outro risco diz respeito à informalidade e à pulverização do setor, que movimenta R$ 14 bilhões por ano no País. ?Escala é um diferencial importante nessa área?, afirma Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração de Varejo da USP (Provar). A vantagem de fazer parte de um grande grupo já é usada pela Officenet. ?A maioria dos fornecedores são empresas internacionais e, quando se compra em escala, os descontos são maiores?.

US$ 16 bilhões foi o faturamento da Staples em 2005 no mundo