A edição deste ano do Technology Vision, tradicional estudo da Accenture, revela que a tecnologia, especialmente a inteligência artificial generativa, está mais humana em sua concepção, capaz de alcançar novas pessoas e ampliar o acesso ao conhecimento. Foi com isso em mente que a startup brasileira Minddhi investiu R$ 500 mil no desenvolvimento de uma IA generativa “gente como a gente”.

Na prática, eles criaram perfis por inteligência artificial para atender e orientar pessoas reais. A ideia é auxiliar em áreas como finanças, saúde & bem-estar e até espiritualidade. “Essa interação se assemelha à uma conversa entre amigos e familiares”, disse à DINHEIRO Rogério Magela, CEO da Minddhi. Essa nova forma de comunicação humano/máquina, lançada em 1 de março, já atraiu investidores, como a holding de fintechs americana Xalles Holdings Inc., com negociações iniciadas em US$ 1 milhão.

Essa atenção especial de investidores não acontece por acaso. O estudo Inteligência Artificial na América Latina 2023, elaborado pela Ntt Data em parceria com o MIT Tech Review, revela que 71% das empresas entendem que ferramentas de IA são capazes de revolucionar seu negócio. Uma delas pode estar nas mãos da startup brasileira.

Segundo Magela, seu produto inclui técnicas que permitem uma interação mais natural, além do fluxo automático de perguntas e respostas dos chatbots.

Embora a startup faça uso da linguagem multimodal (LLM, na sigla em inglês), um tipo de modelo de aprendizado profundo pré-treinado em grandes quantidades de dados e já utilizado por grandes players, como a OpenAI, criadora do ChatGPT, a empresa brasileira se destaca pelo desenvolvimento de um modelo próprio.

Nele, a tecnologia apresenta uma base de aprendizado única, seguida por uma etapa focada no desenvolvimento de cada área de especialização:
• nutrição,
• educação financeira,
• educação física,
• e espiritualidade.

Segundo ele, o processo de especialização da IA ocorre com a aplicação do conhecimento de profissionais selecionados pela startup.

Rogério Magela Engenheiro da computação e CEO da Minddhi, o executivo diz que sua tecnologia é capaz de produzir diálogos similares aos realizados entre pessoas reais, como amigos e família (Crédito:Klacius Ank Foto)

Outro fator importante para uma abordagem humanizada, afirma ele, é o mecanismo de anamnese. Essa ferramenta permite que as personalidades compreendam as necessidades singulares de cada usuário através de um formulário individual, e assim fugir do fluxo automático de perguntas e respostas universais.

“É possível que a IA solicitada pelo usuário crie insights próprios e inicie conversas espontâneas logo após o preenchimento do questionário e dos primeiros diálogos”, disse Magela.

Além disso, a tecnologia da Minddhi conta com neuroenergy, um mecanismo responsável por identificar e calibrar as emoções contidas nas mensagens do usuário, desde sentimentos positivos até negativos. “É um recurso essencial e que contribui para a produção de neurônios e sinapses que levam a uma manifestação inteligente”, afirmou.

USO E PRIVACIDADE NA PRÁTICA

Genuinamente brasileira, a plataforma Minddhi é gratuita e está disponível em todas as línguas. As quatro personalidades especialistas podem ser acionadas a qualquer momento pelo usuário, iniciando instantaneamente um bate-papo pelo aplicativo de mensagens Telegram. A estimativa é que em seis meses, a startup lance sua própria plataforma para a troca de mensagens.

Não dá para negar que a privacidade é uma preocupação quando se fala de inteligência artificial, que vem transformando a maneira como as informações são coletadas e processadas. De acordo com Magela, uma tecnologia como a Minddhi, que promete levar humanização a partir da singularidade de cada indivíduo, esse cuidado deve ser redobrado e que a startup tem tomado as medidas necessárias. “Todas as perguntas e respostas são armazenadas em servidores vetorizados e criptografados que implicam na segurança máxima e sigilo total de todas as informações”, disse o CEO.

CORRIDA PELA IA

A inteligência artificial generativa começou sua escalada mundial com a criação do ChatGPT em novembro de 2022. Desde então, muitas empresas tentam desenvolver produtos para ampliar a capacidade dessa tecnologia. Segundo o estudo da Ntt Data em parceria com o MIT Tech Review há uma demanda crescente por soluções no segmento, mas ainda há barreiras que envolvem mão de obra adequada, desenvolvimento tecnológico e falta de investimento.

Diante de todos esses desafios, o professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP Marcelo Finger afirmou que ainda há um longo caminho para alcançar a Inteligência Artificial Geral. “A IA causa grande impacto por aparentemente simular a capacidade humana e gerar linguagem, mas ainda há limitações. As ferramentas disponíveis são capazes de apenas desenvolver tarefas específicas.”

Segundo ele, além do desenvolvimento da tecnologia, há uma corrida para entender como todas estas mudanças irão impactar a sociedade em geral. “Existem aplicações que podem beneficiar, ou trazer danos, é importante saber diferenciar cada uma delas.”