21/07/2021 - 11:57
Enquanto o “custo Brasil” é usado para justificar o atraso de empresas nacionais, nova geração de empreendedores vê supostas barreiras como chances e se impõe no cenário internacional.Em conversas com empresários brasileiros, sempre chega o momento em que o “custo Brasil” é colocado sobre a mesa. O termo resume tudo o que torna difícil a vida das companhias no país, ou seja: os custos salariais adicionais; os impostos, que, além de muitos, são complexos e diversos em cada estado; a lenta e cara Justiça, quando se trata de fazer valer os próprios direitos; os altos gastos para abrir uma empresa – e maiores ainda para fechá-la; a burocracia desbragada; os juros altos, etc..
Enfim: o “custo Brasil” resume todos os argumentos por que a vida dos empresários brasileiros seria mais difícil do que a de seus concorrentes no exterior. E procede: no ranking Doing Business do Banco Mundial, o Brasil ocupa a 124ª posição entre 190 países. O Chile e o México, por exemplo, estão em 59º e 60º lugar.
Contudo, há muitos anos o “custo Brasil” se tornou uma espécie de argumento imbatível dos empresários e suas federações, sobretudo da indústria, a fim justificar o próprio atraso, baixa competitividade ou pouco êxito nas exportações; para exigir tratamento especial do Estado – por exemplo, com a imposição de tarifas de proteção sobre as importações – ou lhe pedir créditos; para torpedear zonas de livre comércio.
“Os típicos problemas brasileiros são as nossas chances”
Contudo o argumento “custo Brasil” está colando cada vez menos, pois existem numerosas empresas que o veem como chance. Trata-se sobretudo de startups, das quais há no país quase uma dúzia que já se transformaram em “unicórnios”, isto é, cujo valor de mercado excede 1 bilhão de dólares.
“Os típicos problemas brasileiros são as nossas chances”, me disseram recentemente os fundadores da bem-sucedida startup imobiliária Loft. Quanto mais fechado o mercado, quanto mais altas as barreiras mercadológicas que a economia nacional há décadas ergue em torno de si para se proteger, maiores são as margens para as empresas que conseguem romper esses muros.
Não foi por acaso que o fundador do Nubank teve a ideia de criar um banco online ao ser mais uma vez barrado na porta giratória de uma grande instituição financeira brasileira, quando mais uma vez teve que comparecer pessoalmente para abrir uma simples conta. Hoje, o Nubank é o maior banco online do mundo.
Os donos da Loft chegaram à ideia de criar uma plataforma imobiliária ao verem quão pouco transparente o mercado é: dois apartamentos no mesmo local, com instalações semelhantes, podem ter preços totalmente diversos.
O fundador do Gympass, que viaja muito, se irritava de ter sempre que se filiar a uma academia de ginástica nova ao passar algumas semanas numa cidade diferente. Atualmente ele interconecta com as academias as companhias que querem proporcionar treinamento físico a seus funcionários – não só no Brasil, mas em todo o mundo.
A lista não para por aí. Decisivo é que o sucesso das startups no país prova que o argumento do “custo Brasil” já esgotou sua validade. As certamente difíceis condições locais impedem cada vez menos empresas de iniciarem modelos comerciais de êxito, mesmo em setores estabelecidos, e de se imporem também em nível internacional.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.