Tecnologia, software e serviços | Grupo Stefanini

“Nunca quis usar gravata”, afirmou Marco Stefanini, CEO e fundador do Grupo Stefanini à DINHEIRO. Formado em geologia pela USP no início dos anos 1980, ele esbarrou em acontecimentos que proporcionaram uma realidade diferente daquela que havia imaginado. Na época, os bancos buscavam atrair estudantes da área de exatas para atuar em TI. E em meio às poucas possibilidades de trabalho em sua área de formação, Stefanini diz não ter pensado duas vezes: fez seis meses de aula em um curso de analista de sistemas do Bradesco e saiu de lá com uma nova profissão. “Hoje, as pessoas escolhem o que elas querem fazer”, afirmou. “Comigo não. Eu ficava feliz quando alguém me escolhia, seja para o que fosse.”

À frente de um conglomerado que reúne 30 empresas e emprega 32 mil pessoas em 41 países, aquele anseio por uma atuação profissional distante dos trajes formais é considerado por ele uma ironia que contribui com o DNA do Grupo Stefanini, com 36 anos de história, vencedor do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO 2023.

Orientado para a transformação digital, o ecossistema da empresa, criada do zero, cresce em média 30% ao ano e faturou R$ 6,2 bilhões em 2022. “Esses contrastes de vida, que misturam o gosto pela informalidade e a relação inesperada com o corporativo, colaboram com a essência da Stefanini, que envolve resiliência e flexibilidade”, disse.

Mas esse não foi o único fator que contribuiu para o crescimento robusto da multinacional. Segundo Stefanini, a expansão da empresa também pode ser explicada pela adoção de um modelo empreendedor nomeado de “Célula”. Considerado por ele como uma vantagem competitiva, o modelo busca dar autonomia aos responsáveis para cada uma das filiais da Stefanini. “Apesar de ter sido adotado há quase 30 anos, é um formato extremamente atual.”

“O mundo é 70 vezes maior que o Brasil. Isso representa um número enorme de oportunidades. Além disso, quanto maior o contato com o exterior, maior o nível de aprendizados e, consequentemente, de qualidade.”

Marco Stefanini CEO e fundador da Stefanini

Por trás da Célula, a crença na veia empreendedora. “Quando você tem uma autonomia na ponta e uma administração guiada pelo espírito ownership, as coisas acontecem”, disse.

De acordo com ele, a aposta no modelo ganha sentido ainda maior quando a empresa, que iniciou sua atuação oferecendo treinamento a profissionais de tecnologia da informação, começou a se tornar um ecossistema de inovação.

Stefanini, empresário e empresa, hoje está na frente do movimento de internacionalização das empresas de TI brasileiras. Segundo ranking elaborado pela Fundação Dom Cabral em setembro, a empresa ocupa a primeira posição entre as companhias brasileiras mais internacionalizadas.

E a expansão tem sido constante. Tanto organicamente quanto por aquisições. As mais recentes foram a brasileira de telecomunicações Tatic Software e a italiana Solve.it. “Em março, também anunciamos a chegada da consultoria Safeway para reforçar o protagonismo do grupo em cibersegurança”, afirmou.

A linha de M&A (fusões e aquisições) deve receber investimento de R$ 1 bilhão no próximo triênio. “O mundo é 70 vezes maior que o Brasil. Isso representa um número enorme de oportunidades”, disse o empresário. “Além disso, quanto maior o contato com o exterior, maior o nível de aprendizados e, consequentemente, de qualidade.”

Orquestra

As especificidades são muitas, mas a própria tecnologia — marcada por constantes atualizações — pode ser considerada a verdadeira maestra dessa orquestra chamada expansão. “Nós tínhamos e temos que nos reinventar a todo momento. Isso é a tecnologia. Consequentemente, isso é a Stefanini.”

Para se manter em destaque, 25% dos investimentos da foram destinados à inovação em 2022. Entre os pontos de atenção, a inteligência artificial (IA). Stefanini diz que nenhuma revolução tecnológica que viveu em quatro décadas se compara à IA.

Apesar do otimismo em relação aos negócios, Stefanini afirma que os recentes movimentos na economia brasileira são uma de suas preocupações. “Eu tenho uma voz um pouco dissonante de boa parte da liderança que acha que a reforma tributária vai resolver os problemas do Brasil”, afirmou.

Para ele, o modelo escolhido para o Imposto de Valor Agregado (IVA) é muito ruim e pode acarretar aumento de impostos, ao contrário do que o governo tem afirmado. Além disso, na opinião dele, setores de serviço e varejo serão os principais impactados e não estão sendo ouvidos. “Serviços têm mais ou menos 70% da mão de obra.”

O DNA da multinacional é lidar com crises. De certa forma, como ensinam os chineses e fazer delas oportunidades. A empresa praticamente dobrou de tamanho durante a crise global de 2008. A mesma coisa durante a pandemia de Covid-19.

E desde o início da guerra da Ucrânia, e agora em Israel, desafios que fazem parte da história da empresa. “Nessas horas, se você ficar quieto já errou”, disse o executivo.

Ao olhar para a trajetória da companhia, o CEO diz que a Stefanini já conseguiu se posicionar como empresa global, com ofertas modernas e alto valor agregado. Ao mesmo tempo, consegue ser uma empresa ágil, flexível e centrada no cliente, características comuns de empresas menores. “Conseguimos combinar o melhor dos dois mundos”, afirmou.